Vinte dias

A pergunta é: o que você faria se soubesse que sua vida mudará daqui a vinte dias? Num primeiro momento, talvez alguns respondam que não possuem o dom da premonição e, por isso, seria difícil arriscar um palpite. Ainda assim, é um questionamento que instiga uma certa reflexão, a qual farei com bastante serenidade.
Minha vida vai, sim, mudar daqui a exatos vinte dias. Não sei se para pior ou para melhor, mas mudará. Neste prazo, seguirei realizando aquela que talvez venha a ser a derradeira tarefa, a qual tenho me dedicado nos últimos dias. Sem o menor medo de errar, afirmo que tenho executado essa atividade com todo o carinho que sobrevive dentro de mim. Faço porque amo de verdade, porque quero levar felicidade ao coração de alguém e porque a empolgação tomou conta de meu ser de tal maneira, que tem sido meu combustível principal ultimamente.
Depois disso, o amor não morrerá. Não, isso não ocorre em trinta dias. Está certo, alguém poderá dizer que com o passar dos anos a sucessão de fatos pode vir a suprimir um sentimento, ao que até concordo com certa resistência. No entanto, em vinte e quatro anos, nunca abri os olhos pela manhã pensando: hoje eu serei diferente. Esse tipo de personalidade decidida não combina comigo. Sendo assim, custo a crer que se possa fazer tal escolha, principalmente com sentimentos que se diziam eternos, verdadeiros e intocáveis. Não há como transformar ferro em papel num piscar de olhos.
De todo modo, algo precisará ser feito após ter cumprido meu objetivo. Eu classificaria bem mais como um basta na insistência, do que propriamente no amor em si. Não há como viver chafurdando na humilhação, sobrevivendo de migalhas e declarações dúbias. É impossível enxergar consideração onde só há espaço para uma nova realidade, mandando para o baú de lembranças todo o esforço de um terço da vida.
Tenho dito a cada texto que errei, já virou até clichê. Sim, dei as cabeçadas, e as fiz várias vezes justamente por atentar contra a coerência dos meus sentimentos. No entanto, a atual situação sugere que eu seja uma pessoa dotada de tal ruindade, me colocando num patamar de ser incapaz de receber uma chance de redenção, ou prova factível de mudança.
Sendo assim, vou perseguir incansavelmente o êxito nessa que pode ser a minha última lembrança afável. Diga que sou radical, que bagunço os assuntos, tudo bem, não importa. Contanto que me olhe no espelho e veja sinceridade, daqui para frente primarei pela limpidez de consciência, nem que isso signifique congelar meu objetivo de vida.
Em vinte dias, a vida mudará, acreditem. Depois disso, a felicidade brilhará n'algum coração, tenho certeza. E, se derrotado finalmente, voltarei para casa de cabeça erguida, tentando conservar no semblante a sensação de ter contemplado pela última vez um sorriso que não contenha piedade. Até lá, seja o que Deus - ou algum de seus filhos - quiser.

3 comentários:

  1. Tu parece bem decidido.
    E eu só posso torcer pra que dê tudo certo!

    Um abraço!!!

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  2. Que agonia essa, de não saber como será nos próximos vinte dias. Teus, que sejam bons. E o amor, que enfim perdure.

    Beijo Ton ;*

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  3. Se é o que eu tô pensando...
    é isso aí, queridão, mete o pé na porta e corre pro abraço.
    Vai pra marca e bate esse pênalti logo!
    Se errar o gol, muda de adversário e vambora!

    Beijos meus.

    PS: "ruindade"... taí uma palavra que uso sempre e JAMAIS havia visto escrita. Só tu, que é O CARA das palavras pra me brindar com essa. rsss...

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