Tudo de novo

Fim das férias. (pausa para um minuto de silêncio)


Não existem palavras capazes de traduzir o sentimento de profunda tristeza do qual estou acometido. É quase um luto. Sorumbático, adentrei minha sala novamente, quando a dolorosa ficha caiu: é hora de trabalhar.
O Seu Madruga da minha personalidade chora copiosamente. O Zé Carioca que vive em mim beira uma síncope. Não adianta, cá estou outra vez, findo o período áureo das férias, que agora parecem ter virado areia por entre meus dedos infantes, como uma criança que perde seu chinelo dentro de um bueiro, sem conseguir resgatá-lo (isso já aconteceu comigo uma vez).
Eu queria aqui transcrever minha alegria em ver nascer este 2008 tão robusto e cheio de vida, traçar metas, fixar objetivos e regozijar a maravilha de ter um ano inteiro pela frente. Não posso, estou impedido pela agonizante angústia que esmigalha meu peito sôfrego, sedento de descanso, aquelas horas de sono esparramado na cama da fazenda, fizesse chuva ou sol.
Quando o despertador tocou às 6:15 da manhã, tive vontade de jantá-lo com arroz à grega e farofa. Macambúzio, misturei o achocolatado ao leite, enquanto, novamente, abria o jornal de hoje, para ver que mundo me esperava lá fora (leia-se ver a previsão do tempo e a página de esportes). Percebi que meus tênis não foram lavados, mesmo eu os tendo ordenado que estivessem limpos para hoje. Após o banho que me trouxe à vida novamente e uma pequena prece ao Pai Celeste pedindo forças para não surtar, pus o primeiro pé na rua, ainda incrédulo de que a batalha estava começando este ano.
Como pode um trabalhador seguir a mesma rotina por 30 anos até alcançar a aposentadoria? De que planeta eu sou, que entro em depressão modo tarja preta, só de pensar em ter que começar tudo do zero? E mais, por que diabos eu não fui selecionado para o BBB? Bom, talvez porque eu não tenha enviado a fita...
Olha, só resta rir, para não chorar mesmo. Que saudades das minhas férias! Cada diazinho, cada minuto aproveitado, tudo isso agora é uma vaga lembrança dos seis dias em que 2008 foi perfeito. A partir de agora, começa a contagem regressiva para a chegada de dezembro de 2009, quando começam novamente minhas férias. Sim, eu sou hiperbólico e não pretendo mudar.
O pior é que nem idade pra ser jogador de futebol eu tenho mais. Sem BBB, sem futebol. Não, política não, obrigado. Uma coisa é querer dinheiro fácil, outra bem diferente é partir pra ignorância.
Fica aqui registrado, sob tremendo e ferrenho protesto, o meu retorno. A parte boa é estar junto de vós, meus amigos, leitores, parceiros e adjacências, que compartilham do meu sofrimento e, muito provavelmente, riem da minha cara. A não ser aqueles que, tragicomicamente, encontram-se na mesma situação escravo-lamentável que a minha, a quem dedico os meus mais sinceros pêsames.
Amanhã eu volto, talvez ainda não conformado com esse panorama nefasto, mas quem sabe mais disposto a discorrer sobre outro tema mais favorável. De resto, como diria o jargão popular, "já que lá tá, que lá teje".