Esgotei a inspiração no texto, não sobrou pro título

Tem um cara que pega o mesmo ônibus que eu todos os dias pela manhã, que chega a ser cômico: na segunda-feira, o semblante é fúnebre, como um boi velho que se dirige ao matadouro. Até o bom dia dele é mórbido. Na quarta, a melhora é visível, já que ele a classifica como "antevéspera de sexta". Ao invés de cumprimento, na quinta, ouço um "é amanhã". E, finalmente, a apoteose da sexta-feira, com todas as conclamações de louvores aos deuses da semana, que finalmente nos conteplam com seu final.
O parágrafo acima não tem nada a ver com o que vou abordar hoje, mas há tempo que quero mencionar essas cenas que vejo toda semana, e hoje lembrei.

Um dia, não sei quando, em meio à minha áurea adolescência, resolvi gostar de mim. Percebi que eu me olhava no espelho e não enxergava uma pessoa querida, alguém que realmente merecesse a minha consideração, o que detectei como um erro. Se eu não me valorizasse, quem o faria?
Foi então que comecei a me amar. Continuava vendo meus defeitos, espinhas hecatômbicas que tanta pomada Minancora me exigiram, o cabelo ruim que insistia em me fazer dispender tempo negociando uma trégua à base de gel, o físico pouco avantajado e quase nada chamativo, que me tornava um mísero camundongo no meio da multidão, entre outras tantas perseguições que nutria comigo mesmo. Contudo, passei a dar menos importância a isso tudo e prestar atenção no que de bom eu tinha.
Descobri um cérebro ágil, com certa disposição ao raciocínio rápido e diferenciado. Piadas bem colocadas, capazes de arrancar gargalhadas inesperadas. Criatividade, liderança e muita simpatia pela comunicação social. Enfim, alguns detalhes tomaram destaque e, mesmo sabendo que não era melhor do que ninguém, percebi que, sendo eu mesmo e me aceitando dessa maneira, acabaria sendo notado.
Não deu outra. As pessoas gostam de quem se gosta. O que mais existe é gente carente de segurança e, quando isso transparece na personalidade, agrada de imediato. Em meio a tanta tendência ao derrotismo, um cara que não se importa com a embalagem passa a ser visto como alguém admirável.
Vieram os elogios, as juras de amor, amizade e companheirismo eterno. Uma enxurrada de apologias que, para quem pouco tinha, pareceu o paraíso. E, de fato, foi. Tanto, que me tirou o chão debaixo dos pés quando percebi a subjetividade que permeia os substantivos abstratos. Daí veio a conclusão sobre por que é mais fácil cultuar o físico, ou o material. Por serem concretos, parecem sólidos, intermináveis e seguros. Ledo engano.
Caí os tombos necessários, separei o joio do trigo, limpei os joelhos e segui em frente, primando pelos sentimentos que me faziam alguém especial. Não mudei meu jeito, mas sim a forma de ver a reação das pessoas frente a ele. Muitos se foram, outros tantos vieram, e a rotatividade me mostrou que cada pessoa tem sua necessidade em momentos específicos de sua vida. Também eu, dentro de minhas auto-reflexões, constatei que nem tudo teria o mesmo valor para mim por toda a vida e, paciente, acatei as razões impostas pela vida.
A partir disso, outra percepção: certos sentimentos, por mais abstratos que sejam, solidificam-se. Algumas pessoas, sabe-se lá por qual motivo, simplesmente ficam. E, finalmente, encontrei o pote de ouro no fim do arco-íris, que se chama amigos. A qualidade começou a superar a quantidade, povoando meus dias com gente que me aceita com todas as qualidades e insucessos possíveis, o que me deixou ainda mais despreocupado com a estética.
Após outras tantas experiências, convivências e aprendizados, creio que adentrei a fase adulta com solidez. E, ao olhar para trás, percebi que, depois de tanta balbúrdia que foi a minha adolescência, de lá restou apenas o melhor. Hoje me olho no espelho e vejo um homem do qual tenho orgulho. Choro com minhas angústias e tristezas, da mesma forma que dou risada da minha falta de habilidade em sambar dentro do quarto. As espinhas perderam a força hormonal, bem como a importância em serem eliminadas de pronto quando surgem.
Se fosse explicar de onde vem isso tudo, teria de citar muitas pessoas, lugares, instituições e momentos decisivos. Os agradecimentos seriam (e são) infinitos, mesmo porque a jornada está apenas começando, como representa o começo todo o dia em que levanto da cama.
Acima de tudo, um Deus, que me guia, me protege, me fortifica. Através d'Ele, todo o resto. E, para Ele, tudo, pois, se sou a imagem e semelhança, nada mais justo do que fazer jus às dádivas com fé, segurança, parcimônia e afeto.

Sempre é bom começar a semana refletindo. Que a semana de vocês seja igualmente produtiva.

10 comentários:

  1. Sabe o que eu acho mais gostoso nisso tudo. E olhar para trás, ver tudo o que vivemos e nos sentirmos felizes por termos chegado onde estamos e por ter nos tornado o que somos. Isso sim mostra que vivemos e bem!
    Bjitos!

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  2. Uma reflexão tão linda assim, nem precisa de um título!!!!

    É sim, temos que nos valorizar, pois ninguém o fará por nós. Temos que aprender a olhar as coisas com outros olhos e parar de olhar a beleza exterior (aquela que acaba com o tempo), para podermos perceber a beleza mais bela do ser humano (aquela que está dentro e que só vêem os que olham diferente).
    Obrigada por esse momento relefixo, viu?

    Beijão pra tu

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  3. Ba a gente passa por tdo na vida, creio eu q tods ja passamos por momentos de separar o joio do trigo, por momentos de aceitação e mudanças.. adolescencia, ainda vivo nela..mas como tb sou imagem e semelhança nao me preocupo mto com oq vira pela frente..

    bjaoo

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  4. aa ta agora entao sei q vc eh O Matalurgica dahshdiiuhuihui

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  5. Á essa fase da adolescência, hormonios.
    A tal da beleza é muito mais profunda que uma maquiagem mesmo. Com o nosso interior bem definido, assim como nossas emoções, torna-se inevitável uma alma saudável se refletir por fora (Activia).
    Beijos grande Antonio

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  6. Aiiii Antooonio! Sorry, mas hoje não deu pra ler o post!
    estou na correria... lendo sobre cana-de-açúcar, etanol e afins.

    Assim que tiver um tempo, eu passo com mais calma.

    Sem mais,
    uma ótima semana pra vc!

    beijos

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  7. A Bia ta lendo tudo isso pra feicana kkkkkkkk uma feira aqui na cidade.. eu nao vou! se ferroouuuu vai ler tudoo auhauhaua
    brincadeira.
    PS: caso vc nao saiba, somos amigas e colegas de sala ;)))

    Mas adorei seu post de hj. Me fez pensar em muita coisa da minha vida... mas qnd vc falou sobre o onibus, eu lembrei de uma coisa que eu faço: eu sempre fico imaginando historias/estorias sobre as pessoas. E o onibus, apesar de eu andar pouquissimo, é o meu lugar predileto. Vou escrever no meu blog sobre isso ai te aviso, vc vai rachar de rir.

    Um beijo graaande, Tonho kkkk

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  8. Muito boa a reflexão, e além de tudo verdadeira.

    "espinhas hecatômbicas"... de onde tu tira esse adjetivos???

    Bem, gostei. Por acaso escrevi um texto sobre imagem hoje, com menos pé na verdade que o teu, mas ainda assim sobre (quase) o mesmo assunto. Quer saber? Não tem nada a ver um com o outro. Mas esquece...

    Abração, mano velho!

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  9. Que reflexão linda!
    tão verdadeira!
    E corriqueira (não a reflexão, mas a situação). A diferença é que a maioria fica só na reclamação e nao parte para a mudança, assim como o pedaço de Branquelice!
    :D
    Eu tb mudei e passei a me aceitar mais nos últimos tempos.
    E, acredite, apesar do pouco tempo de 'presença' vc tem participação na minha mudança!
    \o/

    Ah, e hj já é terça...
    ta mais perto de sexta que ontem!
    hehehehee

    *amigos sempre vêm e vão... o importante é sempre tirar lições positivas e acrescentar em sua vida e na dele tb.
    ^^

    beeeijooooossss

    *to rindo aqui do comentário de Marquinhos!
    uahuahuahhauauahuaha

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  10. *parece que eu disse que vc só reclamar... mas foi no sentido cotnrário...
    O.o
    enfim, vc entendeu!
    :D

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