Seu Pitu

Esses dias, entrou aqui na minha sala um senhor para fazer uma entrega. Deve ter o quê, uns 50, 55 anos. Um tio bem humilde, judiado do serviço, palavreado simplório, próprio de pessoas que se criaram no interior, como inclusive falam muitas pessoas da minha família.
Porém, há um detalhe que o diferencia e o destaca dos demais entregadores que por aqui passam diarimente: ele cospe. É um cacoete. Ele passa o tempo todo fazendo movimentos com a boca, como se tivesse um cabelinho na língua e não conseguisse tirá-lo nunca. Na primeira vez que a gente vê, tudo bem, é diferente, peculiar e, por que não dizer, engraçadinho. "Ptu, ptu", aquela onomatopéia singela o tempo todo, e cada um da produção que passa na janela olhando pro chão pra ver se o tio tá mesmo cuspindo de verdade. Por causa disso, e por não saber seu nome, acabei lhe concedendo o carinhoso apelido de Seu Pitu.
No entanto, hoje ele veio aqui novamente. E, macacos me mordam, que barulhinho irritante. Não consegui mais trabalhar, olhando fixamente para cada "ptu" que o velho proferia, passando o lábio superior por cima do inferior após cada cuspidinha, engatando um novo "ptu", e mais "ptus" ininterruptamente. Enfim, me tirou do sério.
De súbito, ele parou. Ficou estático, perto da porta, olhando para o chão. Talvez procurando o lugar onde caíra o último "ptu". Pensando melhor, creio que ele nem perceba que emite esse som, muita gente nem sente quando tem um cacoete. Eu tinha um colega, na sétima série, que contraía todo o rosto, fazendo caretas escatológicas, tudo isso prestando atenção na aula fixamente. Duvido que ele fizesse aquilo por querer. E ali ficou o Seu Pitu, mirando o chão, sério.
Pois, pela mãe do guarda se não for verdade, ele dirigiu-se à janela e fez um comentário singelo sobre a chuva, sobre o tempo, sei lá sobre o que ele comentou, simplesmente porque, após o comentário, desabou uma saraivada de "ptus" e mais "ptus", crivando minha mesa de cuspe e me fazendo agradecer aos céus por ser depois do almoço, ou eu não teria coragem de comer nada, pensando estar engolindo um "ptu" gosmento.
É claro que não respondi ao comentário, devo ter proferido apenas um resmungo, já que minha vontade era a de dizer somente "o senhor pode, por obséquio, parar de cuspir um segundo?", ou oferecer um pedaço de fita adesiva para que ele finalizasse aquela cena lamentável por alguns instantes e me deixasse trabalhar descansado. Da próxima vez, simplesmente vou dar uma volta e me afastar do Seu Pitu e de sua onomatopéia arrítmica.

A vida é cheia de Pitus. Às vezes, temos atitudes que não percebemos, mas que irritam profundamente o próximo. Cacoetes, detalhes simples e aparentemente irrisórios, mas que causam asco nos que estão à volta.
Na maioria das vezes, não há meios de fazer o cidadão parar, sem ser ríspido e pedir o fim desses atos grotescos. Infelizmente, acaba sobrando no fim das contas para pessoas que nem são portadoras da culpa.
O que eu vou fazer enquanto essas cenas lamentáveis continuarem? Vou sair da sala, me afastar, da mesma forma que farei com o Seu Pitu. Não sou perfeito para ficar corrigindo os outros, mas um pouco de respeito faz bem para os dentes. Isso vale tanto para o Seu Pitu, quanto para outros cacoetes indesejados e desavisados. De boas intenções, o inferno está cheio...

9 comentários:

  1. De tdos os cacoetes que eu conheço, esse de falar guspindo é o pior. E eu ainda tenho um agravante: o óculos. Então, se uma pessoa é um pouquinho "pitu", ei já noto e a minha camisa passa a ter um trabalho de limpadora de vidraça...

    Abraço!

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    o seu cacoete é usar essas palavras irrisórias e doficultosas nos textos, como asco, caretas escatológicas, onomatopéia arrítmica, obséquio.. kkkkkk
    tudo bem, to te taiando.
    te adoro.
    morri de rir da sua desgraça!
    beijo

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  3. Putz...
    =/

    É difícil um cacoete desse tipo me irritar. Pode atrair minha atenção por alguns minutos, mas logo volto a fazer o que estava fazendo.

    A não ser que seja como no teu caso, que realmente, a figura tá atrapalhando.

    Um cacoete que noto em mim é de ficar me estalando. Os dedos, as costas, o pescoço... sei lá, devo ter algum problema nos ossos... hehe...


    bjinho!
    =]

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Né que enquanto eu li o texto, fiquei tentando imitar o Seu Pitu?
    (mas sem cuspir, diga-se de passagem).
    hahahahha

    O bom é que até reflexão v faz no final.
    É muitooo reflexivo esse Branquelo
    :D

    Beeeijooos
    *vou ver se apareço por esses dias a tarde no MSN pra nos falarmos, viiiiu?!
    \o/

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  5. Dei a risada mais engraçada do mundo com a parte "Sem saber direito o jeito de agir, segui o instinto e, de sopetão, baixei minhas calças até as canelas." do post do café do bule 2.
    Muito comédia mesmo...

    Quanto a cacoetes, eu tinha um amigo, na setima serie tmb, que fazia umas caras engraçadas e tinha uns trmeliques, mas tmb nao era por querer.

    Mas cuspir incomoda um pouqinho mais, né?

    argh
    :*

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  6. hauhauhua...enqto lia o texto, fiquei tentando me lembrar d alguém com algum tique q me irritava! Mas não consegui me lembrar...

    Deve ser mto irritante mesmo...e nojento...écati! rs

    Beeeeijos!

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  7. Você mesmo já chegou no quê da questão. Ele não percebe que faz algo que irria os outros e ninguém tem coragem de falar para ele que aquilo deveria ser evitado. Na sua posição, eu também não falaria nada, não tenho intimidade para tanto, então me afastaria também.
    Bjitos!

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  8. Aiiii eu tbém não tenho paciência com cacoetes não (obaa.. mais uma palavra difícil!! rs) O simples barulho da garganta qdo a gente engole a água me irritaa, imagina se eu visse esse tiozinho cuspindo e fazendo ptu toda hooraa!! afff

    realmente.. de boas intenções o inferno está cheio!!

    Beiijoo Antooniio!

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  9. Grande Antônio...

    Confesso que estou gostando mesmo dos teus textos. A tua desenvoltura me surpreende, já o disse. É bastante interessante o "Seu Pitu" porque tu descreves uma pessoa e conclui algo sobre ela. Não a julga, mas a toma como exemplo, por assim dizer, de todo um assunto chato e impertinente para todo mundo: os nossos defeitos!
    Coincidência ou não, me fez pensar no meu último texto publicado, no qual estava com muita raiva e acabei recebendo uns comentários estranhos por causa da rudeza das palavras. Foi a única forma que encontrei para desaguar a emoção, embora meu gênero não seja exatamente este. Fiquei contente pela dose de "caminhos alternativos" que tu apontaste em teu comentário, é bem verdade que não somos culpados por tudo e que nem tudo é um mar de lama...muito obrigada pelo apoio!

    Abraço

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