Tosa de porco

"Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho - quando estoura,
Tinidos de adaga - espora
E gritos de desacato.
Berros de quarenta e quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento,
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!"

(Bochincho - Jayme Caetano Braun)


Lembrei imediatamente desses versos quando pensei no que escrever hoje. Aliás, foi o assunto que veio até mim, sem eu precisar me esforçar.
O que acontece é que eu tenho verdadeira aversão a gritos. Podem chamar de mania, de frescura, siricotico, o que for, mas eu não suporto gente que grita sem necessidade. O ato de alterar a voz significa que seu argumento não é suficientemente bom para vencer no conteúdo, o que faz a pessoa apelar para o volume, como se mudasse alguma coisa.
Sempre digo que o que se diz gritando, pode ser falado em tom de voz normal, suave e aveludado, sem que a firmeza das palavras se perca. Quem berra, na minha humilde opinião, dá o primeiro passo para perder a razão. E, como normalmente as vias de fato têm início a partir de um brado mal colocado, minha resistência a esse tipo de prática aumenta, já que violência física não faz parte da minha lista de ações.
Eis que, infelizmente, sou obrigado a conviver com algumas cenas desagradáveis em minha casa. Freqüentemente presencio lamentáveis berros dirigidos à minha mãe sem a menor necessidade, prática esta que faz parte de um legado indesejável que instaurou-se ao longo dos anos em nosso lar desde que me conheço por gente. A violência física, felizmente, já não ocorre mais há bons e dourados anos. No entanto, ainda somos obrigados a aturar o destempero causado pela fraqueza de personalidade de certo habitante do lar.
Normalmente, é tosa de porco: muito grito e pouca lã, ou seja, as alterações vocais não têm a menor necessidade, a não ser judiar dos tímpanos de quem nada tem a ver com a situação. A minha postura não é das mais exemplares, eu admito, mas prefiro ignorar, fazer de conta que a pessoa não existe, a viver erguendo facão dentro de casa e proporcionando um ambiente hostil para meu irmão, que tem apenas nove anos.
Não é porque me criei em meio a situações lamentáveis de desrespeito para com o semelhante, que vou continuar semeando isso da pior maneira possível dentro de casa. Prefiro ser turrão, mas ponderado. Podem me chamar de rancoroso, teimoso, me acusarem de não perdoar, eu admito tudo isso. Antes esse tipo de atitude, do que anunciar minha ira para a vizinhança.
A balbúrdia dentro de casa foi o motivo cabal para que eu desenvolvesse essa ojeriza a berros. Concordo que até exagero em certos momentos, já que me causa vertigem ver alguém gritando desnecessariamente. É só antever um escândalo, que eu caio fora, me escondo, finjo que não conheço.
Existem, naturalmente, horas propícias para tanto, brincadeiras que permitem extravasar os sentimentos das maneiras mais doidas possíveis, no entanto, não é uma característica inerente à minha personalidade. Prefiro a calma, o silêncio e o equilíbrio, sem perder a autoridade e a firmeza.
Nem vou entrar nos méritos do pobre. Pobre não tem cordas vocais, tem megafone. Pobre, quando fala, grita. E quando grita, ensurdece. Falar no celular dentro do ônibus é o mesmo que protagonizar o remake do Sermão da Montanha. Encontrar o amigo do outro lado da rua, então, meu Deus, é um fusuê dos mais medonhos possíveis.
Esses dias eu caminhava tranqüilamente, quando ouvi aqueles guinchos estremecedores. Pensei numa tsunami, cogitei o apocalipse, mas, quando fui ver, eram apenas dois velhos amigos se reencontrando e pondo as fofocas em dia.
Filho de pobre, então, é o que mais sofre. "Josecleidson, passa aqui! Caminha ligeiro, imundícia! Não corre, praga do diabo!" Ah, o amor, que sentimento nobre. Pobre deve ter decendência distante com alguma espécie de ganso, gralha, amplificador de som, porque não é possível o nível de decibéis que atingem.
Há também uma música que se chama "Definição do grito", que trata sobre a maneira pouco controlada do gaúcho usar a voz, sempre esbravejando, falando alto, característica que é verdadeira, inclusive. Pode-se dizer, aliás, que é a única hora que eu perco a compostura. Quando encontro essa ala da família que não fala, mas berra, acabo também entrando na dança e virando um daqueles gaúchos velhos que transforma um simples "bom dia" num "FALA, ÍNDIO VÉIO CUIUDO, COMÉ QUE TÁ, VIVENTE?"
Meu avô, lidando com gado, também dispensa microfones. Ou ele faz isso porque as vacas escutam pouco, ou elas passaram a escutar pouco depois de tanto grito. Ainda se fosse pra elogiá-las, tudo bem, mas tudo o que as coitadas escutam são xingamentos e palavras de ordem proferidas com aspereza, fruto desta tradição sagaz de tratar os bichinhos à base de gritos.
Seja para o bem, ou para o mal, eu dispenso a voz alta. Gritar sem necessidade não faz parte da minha rotina. Com necessidade, talvez, mediante prévia reflexão e análise da real precisão de forçar a garganta. Os tímpanos de quem me rodeia agradecem.

8 comentários:

  1. Concordo contigo, ouvir alguém gritando é algo muito desagradável. Até pq geralmente esse ato não é cometido em brincadeiras, e sim em brigas e escândalos. O que torna a situação ainda pior.
    No entanto, devo admitir que em algumas situações onde não tive calma, alterei o tom de voz. E como tu bem colocou no texto,a partir desse momento perdi toda a razão. Portanto, manter a calma e um tom de voz equilibrado é a melhor maneira de se portar. Faz bem tanto pra gente quanto para o próximo! ;)

    Beijo!

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  2. dhsauihdsaui tu nao joga truco pelo jeito? poq truco é no grito, bah eu nao vou dizer q nao gosto de falar alto, pq eu falo mesmo, sou gaúcha tchê!mas quando sao gritos de reclamaçao ou xingamentos eu odeiooo, odeio mesmo, no fim odeio brigas e tdo mais, mas falar alto faz parte da minha alma, sorte a tua q meu blog nao tem eu falando.. so o q eu escrevo. dsausa


    bjaoo

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  3. Antônio sabe do que eu lembrei agora? Tinha um episódio do Castelo Rá-Tim-Bum onde o Zequinha perguntava por que a gente grita...Aih o moço com aquela roupa laranja estranha dele e com um controle que parecia um celular de brinquedo gigante dizia assim que a gente grita porque tem coisas que só o grito consegue dizer! Ahhh eh! Tinha uma música do Cd do Castelo Ra-Tim-Bum que dizia exatamente isso também! RSRSRSRSRS acho que foi por causa da música que eu decorei, mas enfim...RSRSRSRS
    O grito muitas vezes é dispensável mesmo...geralmente quando as pessoas apelam pra isso, é porque já perderam a paciência, ou talvez a razão...ou os argumentos. É um hábito que devia tentar ser evitado...uhnn...e apõs ler esse post seu, vou tentar pensar nisso antes de gritar com o meu irmão, apesar de eu achar que ele só me escuta quando eu grito as vezes ¬¬ RSRSRSRSRS
    Bjos =**

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  4. hahahaha
    não venha pro nordeste!
    O povo daqui tem megafone mesmo!
    hehehehe

    Mas entendi oq vc quis dizer sim... Não adianta viver assim. Pior que gritar é hábito, vc começa um dia, outro e quando vê, grita com tudo e com todos. E geralmente vem acompanhado de falta de respeito. Uma lástima mesmo.
    =/

    Ei, maaaas..
    deixa os pobres gritarem na rua!
    uahauhauahauha

    *vou confessar que qnd encontro uma amiga na rua...
    =X
    tapa os ouvidos que é melhor!
    **me lembrei do dia que atendi sua ligação no ônibus... hahahaha

    ;***

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  5. Então Antônio. A Monique me abandonou né, foi pra Assis, acho que agora raramente vai entrar na net e eu to na correria com as cachaças, ops, com as canas-de-açúcar.. rs.. mas que duram mais dois dias! Depois volto com todo vapor aos blgos!!

    E quanto a gritar.. bem... eu as vezes exagero. Dizem que tá no sangue. De domingo na casa da minha avó, a pessoa vence no grito, literalmente, quando quer falar! hahaha

    beiijos

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  6. Mano, eu concordo com tudo o que tu falou...
    Eu sei que falo alto, mas venho sistematicamente tentando diminuir meu volume de voz, quando possível.
    E nunca grito para impor minhas idéias (jogar Imagem e Ação é diferente)...

    Um abração!

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  7. Talvez, eu não seja tão ponderada que nem você. Dou os meus gritos de vez em quando, mas na moderação, porque também não gosto de gritaria e fujo de barraco.
    O melhor mesmo é quando no meio de uma discussão, a pessoa se altera e começa a gritar e você vira pra ela e fala: "eu não estou gritando com você, por que você está gritando?" Isso tira qualquer um do sério.
    Bjitos!

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  8. Comentário atrasado, mas li e quero registrar.
    O lance de berros, é compreensível sua aversão contra eles pela descrição da sua personalidade. Mas te digo Antonio, quando juntam 5 amigas muito próximas, torna-se árdua a tarefa de conversar baixo.
    Não gosto de muvuca, aquela gritaria quando a janete encontra creuzilda no shopping, deprimente. Mas em algumas situações eu sou feliz mesmo, sorte que moro no Rio, senão vc passaria vergonha meu caro. Hahaha brincadeira
    Bye and xoxo

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