Recôndito

Ontem eu estava sentado no sofá de casa com meu irmão e comecei a reparar nas canelas dele. Não lembro se eu já tinha pêlos nas pernas quando tinha nove anos, mas os dele estão começando a ficar notáveis. Analisando com mais calma, percebi que não estava mais diante de uma criança de colo, apesar de, felizmente, ele ainda conservar a tenra ingenuidade infantil. Mesmo assim, ele está cada vez mais comprido, o pé cresce assombrosamente, as mãos também já não têm somente aqueles dedinhos pequeninos de delicados.
Caiu a ficha, o tempo passou, e agora as brincadeiras que eu fazia com aquele guri que estava aprendendo a falar já não funcionam mais. Percebo, então, porque os pais resistem tanto quando vêem que os filhos estão crescendo. É a independência, o sentimento de não ser mais necessário. Meu irmão faz suco, sanduíche, procura coisas para comer, toma banho sozinho, se veste, enfim, já faz tudo, à exceção dos remédios que é a mãe quem cuida os horários. Vendo assim, bate mesmo uma vontade de tê-lo pequenino ainda por muito tempo, o que sei que não vai acontecer. Dentro de três, ou quatro anos, ele estará com os interesses voltados totalmente para o mundo que existe fora do nosso pátio, fazendo com que minha mãe e eu sejamos cada dia menos necessários para que ele aprenda a se virar. Meninas, futebol, festas, sei lá, os interesses de adolescente dele ainda não afloraram, mas sei que isso vai acontecer.
Nessa hora, passo a mão no rosto e percebo que logo terei de fazer a barba outra vez. Já são quase vinte e três anos, tão longe daquele rosto magro e lisinho dos dezessete. E eu aqui, ainda pensando que conservo algo de adolescente. Ledo engano, já que há tempos que não gosto mais tanto de barulho, bagunças e movimentações extremas (isso não inclui o sexo, que fique bem claro).
Se eu já era um guri com espírito de velho, agora estou mais ancião ainda. E, meus caros, apesar de ter escrito tudo isso, não me sinto incomodado. O fato de o tempo passar irremediavelmente é algo que aceitei com parcimônia e contra o qual tenho preguiça de protestar. Talvez eu ainda não tenha encontrado meu real espaço e significado no meio de tudo isso, mas esse é um mero detalhe que se resolve ao natural.
Não me perturba o futuro, nem me entristece o passado. Gosto muito de suspirar saudosamente lembrando de tantas peripécias pelas quais já passei, mas entendo que isso não mais voltará. Por ser apenas lembrança, dá um gosto ainda mais aprazível. Amanhã? Sei lá, quem sabe esteja dividindo meu barbeador com meu irmão, ou acorde de madrugada com ele ligando para buscá-lo em alguma balada.
A única coisa que eu espero de verdade, é que ele tome base no exemplo de caráter que eu tento ensiná-lo e coloque isso em prática, de modo a conseguir um resultado concreto o quanto antes, de preferência antes dos vinte. Não quero mais um vivente sem eira, nem beira, publicando sua vida num blog, sem ambição, sem perspectivas e sem nada construído, apenas passando a mão no rosto e constatando que, novamente, ainda não fez a barba...

12 comentários:

  1. É mesmo... a vida passa e isso é inevitável... De repente as responsabilidades começam a aparecer e as coisas ficam bem diferentes...
    Na verdade eu não tenho nenhum irmão mais novo pra poder olhar pra ele e perceber o quanto a vida o fez crescer, mas tenho uma irmã mais velha e, sempre que a vejo penso no quanto a vida a fez amadurecer. E fico feliz com isso...
    E ei... se o teu irmão for só um pouquinho desse homem que tu és, já estará num bom caminho!!!!

    Beijão pra tu

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  2. as vezes eu me assusto sabia... você é tão novo e se sente um senhor ancião. de vez em quanto, eu me sinto uma velha carcomida;

    acho que com a vida que levamos, a maturidade chega muito rápido.

    *

    eu espero que sua casa tenha muitos banheiros. seu irmão tá chegando numa idade que os trabalhos manuais são muito utilizados.


    bjooo

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  3. E passa...quando nos vemos acriança que tomavamos conta já ta grande com muitos interesses, pouco necessidade de nossa ajuda. Me fez lembrar do meu sobrinho que carregava no colo, levava ao parque brincava com ele, hoje ele fala de namoradinhas no colegio tudo mais...apesar de ter só oito anos ele cresceu e dificil aceitar, mais e bom. Espero que futuro deles quando tiveram minha idade seja melhor. E meu caro amigo estamos ficando velhos.rsrsrsrs Beijosss

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  4. ixiii

    o tempo passa, bem...
    e quando a gente menos espera... passou.

    o problema é que na maioria das vezes ele passa sem a gente ver.

    de agora em diante vou prestar mais atenção nas canelas do meu irmãozinho. ele ainda tem 3 anos, ainda vai demorar um pouco, mas vou querer ver o 1º pelo da canela dele. kkkkkkkkkkk

    =*

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  5. Ai, Antônio... tô com a Letícia. Fico até sem jeito quando um cara de 23 anos fala em idade e conta o passado como algo muito distante...
    O lado bom é que tu deve viver muito bem cada momento e, por isso, tem tantas lembranças... mas o lado ruim é que ainda falta tanta coisa pra viver!!!!! Nossa!
    O tempo passa irremediavelmente sim, mas se aprendendo a associar-se a ele, ele faz tudo ficar muito mais gostoso.

    ** obrigada pela preocupação e pela dica. O cigarro aparece em momentos de grande preocupação, como foi, nessa época, ano passado.

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  6. Que bom que você aceita a passagem do tempo... isso já é muito!
    Tem gente que não se conforma de já ter 20 e poucos anos.. e esquece que a vida segue!
    E você pode ter certeza de que seu irmão se espelha em você, então continue dando bons exemplos (viu?!) haha

    beijos

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  7. sim, como eu falei sou contra apenas para alguns cursos, mas letras é um curso que perfeitamente pode ser dado em EAD, e se a sua faculdade é boa então estamos no lucro neh. mas como gostam de generalizar as coisas entao nao posso fazer nada, a nao ser me defender um pouco.
    sim as crianças crescem mto rapiado mesmo, daqui a alguns anos ele nao vai apenas ir a festas mas ter filhos netos o loco a gente cresce nehhh

    bjao

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  8. Aiai, que saudade que eu tenho de ter como preocupação apenas a hora de dormir, ou nem isso...

    Aff, o tempo bem que podia dar uma relaxada no aperto ao pescoço, só pra darmos uma respirada.

    Abraço, mano velho senhor ancião!

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  9. Cara, dos 18 aos 27 anos parece que foi uma questão de dias...

    E eu também me considero um adolescente por dentro e às vezes com as manias de um velho ranzinza, mas DEFINITIVAMENTE não vou passar em branco pela vida!

    E tu também não.
    Não se eu puder evitar!

    Um abraço!

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  10. Quem tem irmao mais novo sente isso mesmo.
    Eu sinto em relaçao aos meus irmaos, que sao 3 e 4 anos mais novos...
    mAs vc deve sentir bem mais, pq a diferença eh maiorhoje eu os vejo e percebo q nao consigo mais pegar no colo como eu fazia qnd nasceram...
    nem preciso trocar as fraudas...

    pois é...
    o tempo passa.
    :*

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  11. Acoooooooorda Antônioo!
    Tá na hora de postaaaarrrrrrrrrr!
    hahahahhaha

    acho que eu me adiantei muito hoje né?!!!


    beijo

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  12. Talvez seja esse um dos motivos dos pais não encararem o envelhecimento dos seus filhos de uma forma comum como deveria ser.
    Eu também sinto que estou ficando mais chata, conforme vou ficando mais velha. Tornando-me mais exigente e menos tolerante para algumas coisas. Mas, graças a Deus, dando menos importância para tantas outras que não merecem a importância que eu sempre as dei.
    Bjitos!

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