Vidas passadas

As pessoas têm uma curiosidade intrigante de saber o que foram em outras vidas. Mal aproveitam sua vida atual, e ficam procurando pêlo em ovo, chifre em cabeça de cavalo, tentando saber se foram vassalos ou senhores feudais no século IV. Há quem recorra até mesmo à hipnose, sem falar em práticas pouco ortodoxas que aqui não serão mencionadas, tudo em vão.
Certeza, de fato, tenho eu. Sei exatamente o que fui antes de ser Antônio. Nada, nem ninguém, me tira da cabeça que fui um porquinho-da-Índia em outra vida. Não importa a cor do pêlo, se macho, fêmea, hermafrodita, dane-se, fui este pequeno roedor e pronto.
Essa brilhante conclusão se deve à propensão que tenho em me enfiar, constantemente, em lugares extremamente apertados e de difícil locomoção (por gentileza, não maliciem isso). Já criei porquinhos-da-Índia quando era criança, e me causava espanto a habilidade que os danados tinham em se esconder nas frestas mais improváveis, por baixo de pedras, tijolos, madeiras, ou algo que o valha, tudo para fugir das minhas mãos, já que eu funcionava como seu gestor e gerente de logística.
Tantos anos após deixar a criação destes animaizinhos de lado, eis que seu DNA ficou impregnado em minha vida, aliado, claro, ao fato de eu ter sido um deles no passado. Quinta, por exemplo, fui para a balada. Pois, pela mãe do guarda, a metade da região metropolitana de Porto Alegre resolveu dirigir-se exatamente para o mesmo lugar que eu. Nem um X-bacon é tão prensado quanto eu fui. Desprovido de protuberância muscular que sou (vide o texto dos ombros como bom exemplo), viro alvo fácil da enxurrada de pessoas que locomovem-se para lá e para cá dentro da balada, mais parecendo um sabugo jogado na correnteza, à própria sorte, sem saber direito qual será seu destino final.
E foi usando minhas habilidades de porquinho-da-Índia que consegui encontrar um cantinho minúsculo a salvo daquela mistura hostil de desodorantes, perfumes e uma densa nuvem de fumaça de centenas, milhares de cigarros fétidos. Permaneci lá, imóvel, até perceber uma brecha que me permitisse ir embora para casa o quanto antes. Finalmente, como um bovino (mocho) que se embrenha bravamente no brete em meio aos outros, mergulhei outra vez na multidão e saí ileso, graças a nosso Senhor, Jesus Cristo.
Porém, como disse antes, fui o pequeno roedor proveniente da Ásia em outras vidas. É a minha catarse. Quando percebi o ônibus encostando na estrada, para voltar da fazenda, lembrei-me de um caminhão que passava em frente à minha casa aos sábados vendendo galinhas. As pobres aves, dentro de inúmeras caixas, deviam rogar por uma panela, tudo para fugir daquele sol escaldante, onde facilmente o bico de uma localizava-se imediatamente abaixo do ânus da outra.
Respirei fundo, incorporei o espírito de feliz Páscoa, me benzi e invadi o ônibus. Um passo apenas, pois o único lugar vago era no segundo degrau da porta, de frente para o pára-brisa, o que me deu a sensação de estar a bordo de um Titanic às avessas. A visão, é claro, era privilegiada, mas logo deu lugar à conclusão de que, em caso de uma freada brusca, eu seria arremessado a metros de distância, alcançando todos os índices necessários para ir a Pequim.
Rezando duplamente, para chegar logo e para que uma incômoda menininha parasse de chutar minha sacola limpinha e cheia de chocolates, agradeci aos céus por a viagem ser curta. Porém, e não sei por que, mas sempre há um porém, ainda restava a viagem de volta. Não, não voltei para Novo Hamburgo espremido feito limão para caipirinha, felizmente. Só que a menina do banco da frente desatou a vomitar no meio da viagem e eu quis, sim, eu desejei com todas as forças ser um delicado e fofucho porquinho-da-Índia, um hamster, suricate, esquilo, lêmure, qualquer coisa pequena o suficiente para me esconder.
A Páscoa foi boa, não pensem o contrário. Agora, que me fez ter muita vontade de comprar um carro, ah, isso fez...

Boa semana!

13 comentários:

  1. antonio, de onde você tira tanta inspiração para transformar fatos desastrosos em tragédias cômicas?

    tá vendo?! se você tivesse ombros, sua habilidade de se meter em qualquer canto seria prejudicada.


    bjo*

    ResponderExcluir
  2. Antônio e suas peripécias!

    Eu prefiro imaginar que fui rainha de um grande reino em uma das minhas vidas passadas.. assim compenso a pobreza de hoje! hahahaha

    Beijo e boa semana!

    ResponderExcluir
  3. uhauahuahuahauhauhauhauahuhauahau
    eu não canso de te dizer isso: vc não existe! tenho ctz!
    O bom humor que vc traz da fazenda é contagiante, sabia?
    \o/*\o/

    Em festa qnd ta lotado assim eu me finjo de forte, inflo o peitoral (uuuiii), cabeça erguida e cara de mau. Quero ver quem chega pra me empurrar. E quando empurra, eu empurro de volta com mais força.
    Na última festa lotada que fui aconteceu isso e ficou nessa de empurra-empurra, até que o cidadão (sim, sim, eu estava arrumando briga com um homem hahhaah) fez que ia voltar para, aí sim, começar a briga.
    Eu já estava preparada pra correr até não poder mais. MAs ele desistiu e foi embora
    :D

    *percebeu que eu sempre comento coisas nada a ver?!
    ¬¬

    Boa semanaaaa!
    ;******

    ResponderExcluir
  4. Aí moçinho!!!! Adoro os relatos dessas tuas viagens!!!! São sempre ótimos (pra quem lê, claro, mas nem sempre pra tu!!!).

    Ah! Quanto a balada... Eu não teria ficado nem 2minutos lá... Odeio lugares cheios, fico logo sem paciência e volto pra casa... É, eu sou chata mesmo...

    Beijão pra tu
    e obrigada pelo meme do post passado!

    ResponderExcluir
  5. Hahahahaha
    Juro, quando comecei a ler pensei que vc falaria sobre espiritismo, temas religiosos e blás. Graças a Deus estava errada (sem preconceitos).
    Início de semana, você e suas histórias das baladas do fim de semana. Hahaha
    "Seria engraçado senão fosse trágico", você ver uma pessoa vomitando no ônibus, ao invés de ser na propria balada, onde existe concentração de bebados e os efeitos colaterais que isso causa.
    Não que eu seja baladeira, a gente ouve falar né.
    Hahaha
    Beijos querido!

    ResponderExcluir
  6. Opa, bate aqui então, colega libriano! Sou de 07/10.
    No feriado fui para Capão da Canoa, onde meus tios moram. Só antes dei uma paradinha em Torres.

    Ahh não, que nojo a menininha vomitando no ônibus! Ônibus lotado já é um inferno, imagina então com um vômito do lado! Sem condições!
    Um dos motivos pelos quais eu não sou das mais chegadas em baladas é a mistura de cigarros fétidos com o povo excessivo. Não sou anti-social, mas gente demais do tipo que não dá para se mexer me dá agonia.
    Porquinhos-da-Índia são engraçados. Meu primo tinha uma família deles!
    Beijo!

    ResponderExcluir
  7. FALA MANU , AXO QUE JÁ TIVI PURAÍ, VÉIO, A JIRIPOCA TÁ PIANDO, TO PRECISDANDO DUMA SEÇÃO DI DISCARREGU.

    ResponderExcluir
  8. Se tu tivesse ombros, seria facil passar pelas pessoas e deixando filhas de pessoas mortas... [6]

    Mas ser agil e sem ombros é bem melhor, pq dá pra passar por cada frestinha da hora.





    é, voltei
    :*

    ResponderExcluir
  9. Acho que fui alguém muuuuito ruim, que fez muita gente sofrer! Haushuahsuahus

    E devo ter sido prensada como um x-bacon!!

    Seus textos são excelentes!

    Beeeeeeejo


    Michele
    magricelanapanela.zip.net

    ResponderExcluir
  10. Ai, que horror.
    Mas sabe, eu não fui um porquinho da Índia e nem acredito em vidas passadas, só sei que nessas baladas me dá vontade de virar qualquer coisa para fugir da multidão. Tenho aversão a lugares muito habitados. E isso, inclusive, está influenciando na minha vontade de mudar de cidade.
    Bjitos!

    ResponderExcluir
  11. ha ha ha adorei teu texto, escreves muito bem, já te disseram pra escrever um livro? Eu compraria, beijo.

    ResponderExcluir
  12. ha ha ha adorei teu texto, escreves muito bem, já te disseram pra escrever um livro? Eu compraria, beijo.

    ResponderExcluir
  13. engraçado que quando eu entrei naquele site que diz o que a pessoa foi na outra vida, tinha lá que eu fui um homem kkkkkk e que lutei na guerra não sei da onde......
    loucuraaaaaaa.

    minha páscoa foi boa, mas o coelhinho chegou meio tarde. spo ganhei um ovo, às 17 horas do domingo de páscoa.

    ResponderExcluir

<< >>