Não mexa, não toque nesse meu cabelo...

Na quadragésima terceira vez que assisti ao Rei Leão III, uma constatação assustadora assombrou minha mente: estou decorando as falas do filme. Nada se compara, no entanto, ao meu irmão, que está prestes a decorar o filme inteiro, com expressões, trejeitos e atitudes das personagens. Isso me lembra a vez que ele assistiu ao Madagascar dez vezes num fim-de-semana e passou dias dançando "eu me remexo muito" pela casa.
Que coisa. A gente educa, cuida, cobre com o edredon pra não passar frio, tudo isso pra quê? Pra criança viciar num filme e virar um suricate. Aonde esse mundo vai parar?

Vejam vocês como são as coisas. Num dia, não há nem um parágrafo decente a se postar. Noutro, é dia de Santo Antônio (belíssimo nome tem esse cara), sexta-feira treze e ainda sobra assunto, tudo ao mesmo tempo. "Coisas de Laurinha"...
Bom, mas deixemos os temas acima pra lá, porque hoje quero discorrer sobre algo que, por muito tempo, teve vida independente no meu corpo: meu genioso, indomável, carismático e inigualável cabelo.
Pois sim, as madeixas de uma pessoa dizem muito sobre sua personalidade, ou melhor, sobre o momento que se está vivendo. É uma forma de expressão, de mostrar ao mundo quem somos, para onde vamos e de onde viemos (por mais que, na maioria das vezes, essa última resposta seja "salão de beleza").
Até os seis anos, quando minha mãe determinava totalmente quando, quem e de que jeito seria o corte, eu cultivava um abominante penteado "peniquinho", estilo Papa-Capim, da Turma da Mônica. Foi então que entrou na moda a cabeça raspada à máquina. Uma verdadeira febre de carecas, a gurizada alucinada com a praticidade e o charme de uma cabeça redondinha (lembrando a marchinha aquela "é dos carecas que elas gostam mais"). Cheguei, inclusive, a raspar totalmente o cabelo, com gilete e tudo. Se o Tio Chico, da família Adams, me visse, se acharia lindo. Lembro dos meus colegas rolando no chão, de tanto rir da minha cara, com aquela cabeça que lembrava a Serra Pelada. Com as meninas até que foi legal, algumas passavam a mão na careca lisinha, tive lá meus quinze minutos de fama. Porém, nunca mais apelei pra navalha e segui cultivando o cabelo curtinho até a adolescência.
Quando chegou essa fase, em termos de penteado, pro inferno eu fui pela primeira vez. Descobri que até um amontoado de palha era mais fácil de dominar do que meus rebeldes fios escuros e grossos. Queria ser o Visconde de Sabugosa, um dos Hanson, a Elba Ramalho, sei lá, qualquer cabelo era melhor que o meu. Um redemoinho bem na testa e outro no centro do côco duelavam diariamente contra minhas mãos ávidas por um penteado certinho.
Aí, caí na besteira de jogar tudo pro lado e virei a coisa mais medonha do mundo. Auxiliado por potes e mais potes de gel, minha cabeça virou num pântano melequento, que secava na metade da manhã e me fazia parecer uma daquelas lavouras plantadas com trator, cheias de trilhos. Quando eu entrava no chuveiro, a água demorava vários minutos até alcançar o couro cabeludo.
Foi então que um amigo me aprontou uma puta sacanagem e pro inferno eu fui pela segunda vez. O cara entrou na minha mente de tal forma, que me convenceu a pintarmos o cabelo de loiro. Você deve estar apavorado em frente do monitor, balançando a cabeça negativamente e dizendo "não, Antônio, tu não...". Pois eu lhes digo: sim, eu fiz. Fomos para o salão de uma conhecida e, ingenuamente, fui o primeiro a ir para o abate. Acontece que, quando o sacripanta viu o resultado, ganhou um ataque de risos e desistiu na hora de fazer o mesmo. Minha cabeça parecia uma gema de ovo, pelo menos era o que todo mundo dizia.
Jamais esquecerei o dia seguinte, quando cheguei na escola. Não existia viva alma que não olhasse com pavor para mim, como se eu fosse um Alien. Aliás, quem dera eu fosse um naquela hora, talvez o resultado fosse melhor. Me apelidaram de Medonho, Amarelinho, além das dezenas de explicações que eu dava pra cada professor que me parava nos corredores e, com olhar de pesar nos olhos, me perguntava o porquê de ter cometido tamanho desatino.
Pensei que meu avô fosse me deserdar quando me enxergou. Desejei naquela hora que ele não fosse tão sincero. A vó, por exemplo, mentia, dizia que achava bonito, ou melhor, que nem tinha ficado tão feio assim. E eu ali, rezando para os fios crescerem o mais rápido possível, me dando a chance de consertar aquela manobra infeliz. Também não esquecerei da felicidade que senti quando vi caírem capa abaixo aqueles últimos fios amarelos, misturado com os milímetros pretos que já haviam crescido. Imaginem o meu estado, eu parecia uma hiena bicolor, coisa mais ridícula do mundo.
Por último, veio a fase do topete. Todos os meus colegas usavam topetinho com gel, coisinha linda, bem cuidada, arrancavam suspiros das gurias. E eu ali, com aquela vassoura de guanxuma na cabeça, que não tinha Cristo que resolvesse. Passei trabalho, gastei quilos de gel, gritei aos quatro ventos que meu cabelo me odiava, um horror. Esse entrave dramático durou até uns dezoito anos, quando finalmente desencanei.
Ah, o paraíso! Atualmente, nos damos muito bem, meu cabelo e eu. O pacto é o seguinte: um não incomoda o outro. O mantenho curto, corto uma vez por mês e, quando ele está num tamanho considerável, vez ou outra arrisco uma manobra qualquer, um gelzinho pra variar, mas nada definitivo. Com isso, ele colabora, felizmente. Agora também compro meu próprio xampu, para cabelos secos, o que amaciou o bicho velho e resolveu todos os meus problemas. Ao invés de pente, as mãos. É o que uso pela manhã para manter meu penteado três tapas. Simples, prático e indolor. Graças a Deus.
Vejam que a vida é como o cabelo: passamos por várias dificuldades, mudanças, temores, tudo em vão. Basta enxergar e aceitar as limitações e redemoinhos, além de saber como lidar com eles, que tudo se ajeita. Ah, e nada de pintar de loiro, por favor, ou seus dias podem virar uma inóspita e gosmenta gema de ovo.

24 comentários:

  1. Graças a Deus que a fase dos cabelos amarelos eu perdi. hehehehe!

    Ah, e teu cabelos nem eram tão rebeldes assim, eram ótimos para ficar mexendo. Eu adorava, mesmo tu não gostando muito desta idéia. ;)

    Beijão!

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  2. hhehehe
    eu não gosto muito de mudar meu cabelo.
    mas ultimamente fiz uma revoluçãozinha nele.

    =*

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  3. Menino, você é ótimo!

    E acho que temos "essa peculiaridade" em comum: os cabelos quase que indomáveis.
    Tem que ver as fotos do dia em que nasci (já uma premonição do que seriam os fios que habitavam minha cabeça). Minha mãe disse que o pai olhou pra mim e disse (com uma cara de pavor aparente): "Que bonitinha"! Mas, só se via um pequeno filhote de "porco-espinho".

    Tenho medo daquelas fotos!

    Mas se tu já aprendeu a respeitar os limites e redemoinhos, creio que está no caminho certo.

    Beijos Doces,
    Pitanga

    P.S.: Que história é essa de dizer que aprendeu a ler com 3 anos??? Eu "toda-toda" lá no blog, me orgulhando de ter aprendido o "be-a-bá" aos 4 e me vens tu...haha.

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  4. Jesus Cristinho do céu..
    Eu sabia, sim, que uns caras tinham problema com cabelo, e coisa e tal, mas não sabia que esses problemas podiam tomar essas proporções!
    Rachei o bico... e tentei imaginar todas as suas fases..e espero que hoje em dia, esteja melhor com ele e com um bom convívio.. como você disse!
    Olha só.. eu posso te ensinar uns truques de cabelo, se quiser... (Haha, cabelo de homem!! Viu!!) Meu irmão tambem não gosta do cabelo dele, mas eu sempre tento umas coisas e vez ou outra ele curte =D

    Beijãooooooo!!

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  5. Nunca ri tanto em toda a minha vida! Antônio, como você consegue essas coisas?! ahuahuaha
    Gostei do seu irmão parecendo um surikate, quero um! Um surikate, porque irmão já tenho dois! rsrsr
    Beijos

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  6. Eu também tenho uma saga com meu cabelo, mas acho que talvez seja um pouco mais simples que a sua.
    Sempre o mantive preso, pois é ondulado (o que pra mim não é o problema), mas é armado, então, não me aceitava assim.
    Dai, fui fazer luzes ruivas, depois claras (sem chegar no loiro).
    Até que conheci a progressiva (e não abandono mais) e as luzes loiras que achei que nunca faria, mas que não vejo a hora de retocar as madeixas.
    Bjitos!

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  7. Ah guri!!! Adoro tuas histórias!!!
    Imaginei cada fase do teu cabelo...

    Ah! Mas todo cabelo tem fases... Quando eu era pequena o meu cabelo ela bonitinho, mas na adolescência (como acontece com a maior parte dos adolescentes) ele ficou uma desgraça. E, ainda por cima, dependendo de como estava o meu humor e estado de espírito, eu pintava o cabelo. Na maioria das vezes, de vermelho... Não ficava tão legal, mas não era como o teu loiro...
    Enfim, hoje aprendi a viver com ele. Fiz a promessa de nunca mais pintar e já estou cumprindo a mais de um ano. Estou feliz em conseguir!
    E sim... a vida pode realmente ser vista como um cabelo, basta saber cuidar e usar os "produtos" certos!!!!


    Beijão pra tu guri!

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  8. Eu imagino a cena: você chegando com os cabelos louros em casa e sua avó falando 'até que não ficou tão ruim'... ela é uma santa mesmo! rs

    Ainda bem que a gente vai mudando com o tempo e o cabelo acompanha. Eu ainda tenho meus momentos de crise com minhas madeixas, vontade de cortar tudo para não ter trabalho, mas ai eu lembro que os cabelos moldam a nossa personalidade e mudo de opinião!

    É assim mesmoooo.. ;D

    Feliz sexta-feira 13! rs

    beeijo

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  9. Hehhehehehe
    Muito bom o texto!
    Me mijei rindo aqui! =]

    Abraço!

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  10. antônio, te dou qualquer coisa pra te ver loiro. aposto que você tem uma foto dessa fase, certo?

    argh! odeio homens com o cabelo empapado de gel.


    um bjo*

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  11. é os cabelos dizem muito sobre a pessoa msm, no caso das mulheres os cabelos são uma moldura para o rosto,os meus já foram loiros, ruivos,preto azulado, até cor de chocolate, mas o que prevalece é o castanho básico e charmoso, e como já sofri por uma cor equivocada nos mesmos, mais é assim quando aprendemos a gostar deles como são e acima de tudo tratá-los com carinho as coisas se resolvem.. mas uma duvida..pq raios não pintou este cabelo de preto novamente quando o loiro não caiu bem?...rsrs

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  12. Hakuna Matata


    http://www.palavrasdotioaderbal.blogspot.com/

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  13. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Ai, Branquelo, vc não existe!!!!!!
    Vc loiro deve ter ficado medonho msm!
    uahuahahauauaha
    (aliás, adorei esse apelido...).

    Ah, pra quem nao gosta de legião, hein?
    "pro inferno(...)".
    huhuhuhu

    sabe aquela foto que te mandei hoje q vc gostou?
    to maaaais boniiiita
    uiiiiiii
    \o/
    adoooooro ser modesta assim!
    :D

    ;*********

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  14. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    To com a Bia e não abro...
    tadinho de vc, se poupe de certas cisas, tá?

    Mas sabe, essa onda de Rei Leão na sua casa tá me fazendo rir muito...

    Enfim, eu tenho um cabelããão, quase na cintura, e morro de vontade de mudar, mas falta oragem =/

    Bom final de semana!
    Beijo na bunda

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  15. Olha Antônio, há muito fico de passar por aqui e nunca passo. Sempre que vou comentar os belos textos de nossos amigos pela blogosfera, tá lá você comentando também em muitos deles. E foi justamente isso que me atraiu a visitá-lo. Agora veja bem, vim visitá-lo e decide, sem muitos esforços, te linkar aos meus favoritos. Agora entendo porque muitos dos nossos amigos-blogueiros em comum gostam tanto do seu blog e de você... Cara, genial! Parabéns!

    Quanto a saga de uma vida toda sobre as suas madeichas, se te consola, muitos de nós passamos pelos mesmos obstáculos, armadilhas, furadas e frustrações que você...
    Agora quanto a analogia entre a vida e os percursos capilares, nem tenho o que dizer. Só que além de ser uma sacada genial, de muita pertinência, é também, de uma criatividade que só os grandes escritores possuem. parabéns! Mesmo.

    E como os amigos a que me referi ha pouco, certamente, voltarei sempre agora. Vale muito a pena!

    Aliás, e pra estreiar seu link no meu cantinho com chave de ouro, você é, com muito orgulho e prazer, o meu LINK DA VEZ.

    Abs.

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  16. Blog legal!
    Mtu lindo o que vc escreveee! =]
    xD
    Passa no meu? ;D
    ;*

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  17. fdahduaishdsa, eu tb ja passei das minhas com o cabelo, mas as duas mais feias foram, pintar com tinta esprey amarela que ficou verde, mas o intuiro era ficar loiro, dahsuihdasuidsa mas sorte q era so lavar, mas fui para aula achando q tava tdo mto bem, so me dei conta quando vi uma menina sair chorando depois me ver dhasuihdsauidsa...
    e a segunda foi pintar/descolorir o cabelo q nem o da vampira do desenho X man evolution dhsauhdsauihduisadsa
    ai ai vidinha cruel a do meu cabelo..

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  18. nem me fala... to nessa crise de muito pra escrever e um bloqueio enorme nos dedos. As palavras somem na frente do teclado...

    quanto eu selo, achei divertido e por isso passei para pessoas que eu considero divertidas e cujo senso de humor é inteligente

    beijos beijos

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  19. Hahaha
    Ri muito aqui, principalmente pq também fiz uma besteira dessa uma vez, pintei o cabelo de roxo acredita? Devia ter uns 13, 14 anos, pra ir numa festa das bruxas, achando que a tinta ia sair no outro dia...saiu sim, mas aí ficou rosa, hahahaah
    Muito engraçado! Ah, que graça tem a vida se não tivermos histórias pra contar?
    Hoje sou loira tingidaaaa! E adoro meu cabelo! Claro que não fica gema de ovo que nem o teu ficou né...
    Sempre digo, tudo tem sua fase, até os cabelos!
    Beijão

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  20. Nuusa! essa segunda vai ser otima! asduhuasd... se jah to rindo agora! asudhuashdud.... pow todo mundo tem seus traumas "cabelais", me lembro de uma vez que fui aparar minha juba ( nunca! gostei de corta o cabei, mas tem que corta neh xD ) , estava eu la! sentadinho na cadeira esperando "ELA!" aaah cabelereira! começar!... mas foi incrivel! foi uma coisa tão rapida! na primeira tosourada! ouvi um "opa" .. ai eu " que que aconteceu!!!?? O_O!... ela aa nada não, ela usando suas tecnicas maliginas!!! me deu um gibi da turma da Monica!! para que eu fikace distraido!! ... quando acabei de ler, eme olho no espelho... "Ela tinha rapadoooo minha cabeçaaa!!! RAPADOO!!!"... imaginaaa um bixim, piquenuuu!!, rodondoo!!, vermelho!! nervoso! e chorandoo!!!... eu gritava " VC VAI CONPRA UM BONE PRA MIM!!! VC VAIIII!!!!" ... NEM PRECISO FALAR DA ESCOLA NO OUTRO xDDD ....
    e Depois da Epoca do Famoso GEL!... eu desencanei tbm.. fiz o meus pacto que vc fez, cada um na sua! xDD~

    Pow cara! como sempre! Blog! show!

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  21. Que bom que gostou de lá também, é muito bem-vindo. Mesmo.

    -------
    Andei lendo outros posts seus e olha só: você merece um presentinho que deixei pra alguns bons escritores lá no meu canto. passa lá depois viu.

    Abs.

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  22. Os meus cabelos já sofreram mais mutações. A única a qual subimeto-os é "deixe-os crescer". Confesso que já cansei dessa espera de deixar crescer: deixo, deixo, deixo mas ele não cresce. Ok, ok.
    E discordo, em gênero, número e grau, desse teu último parágrafo. Principalmente aquelas últimas linhas antes do ponto final. Blé.

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  23. Só pra avisar que tem meme para você lá no blog.
    Bjitos!

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  24. Sobre a curta participação do Rei Leão em seu post:
    Não se assuste se decorar as falas...
    E não julgue seu irmão.. hehehe
    Decorar com os trejeitos de quem fala é muito mais divertido!
    Faço isso desde meus 11 anos e até hoje me mantenho inteiramente bem...
    ...
    eu acho!
    até o/

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