O Saudosista (8)

No último domingo disputei um torneio de futebol sete com o time que jogo em quartas-feiras. Passamos o dia inteiro envolvidos na disputa, naquele estilo interséries, quando se disputava os jogos na escola. Já na primeira partida, entrei de carrinho numa dividida e ralei meu joelho esquerdo.
Quando vi aquilo, estranhei, não estava mais acostumado a me machucar. Agora está aquela casquinha gostosa, que dá uma vontade danada de beliscar, furungar, fazer sair sangue. Coisa boa, né? Nem lembro quando foi a última vez que ralei o joelho. E, bah, eu era campeão disso, vivia todo esfolado. Cotovelo, pernas, cascas e mais cascas que tirei à unha. E comia. Sim, eu comia a casquinha, coisa mais nojenta do mundo.
Crianças devem ter um dispositivo no estômago que atrai porcarias. Tirava a casquinha pelas beiradas, cuidando pro machucado não sangrar, mas explorando ao mesmo tempo o máximo que pudesse retirar daquilo tudo. Depois, uma olhada pros lados, conferindo se ninguém vigiava e zupt, transformava em chiclé.
E sangue, então? Que delícia lamber sangue! Era machucar, passar uma água e lamber a ferida, tal qual um felino. Aquele gosto acre, forte, de carne crua, quem nunca experimentou? Sangue é bom demais!
De pus eu nunca gostei. Ugh, palavra mais feia: pus. Nojo, nojo, nojo! Quando uma ferida criava aquela gosminha amarela, eu sempre ficava alerta. Se meus pais vissem, mandariam limpar, viriam com algodão, gase e ele, o temível, atroz, voraz e maquiavélico mertiolate. Cacilda, ardia pra cacete aquela droga! Uma vez detonei o joelho, abriu um abcesso, coisa medonha, pra veterinário temer. Não deu outra, criou aquele oceano de pus. Cada vez que iam limpar, era o mesmo que grudar um leitão pelas pernas pra aramear a venta, um berreiro medonho, hecatômbico. Havia uma pinça na jogada, se não me engano pra retirar as plaquinhas amarelas. De tão pavoroso, minha mente apagou a função dela. Daquele machucado em diante, passei a odiar pus.
Engraçado... Eu vivia ralado, cortado, machucado, mas sempre rindo, brincando, me divertindo. Aí, quando a gente cresce, pára de se ralar. A pele se enche de pêlos e se livra das casquinhas. Porém, ledo é o engano de quem pensa que está a salvo dos machucados. É aí que começam as feridas de dentro. E dessas, porca miséria, não dá nem pra sentir o gosto da casca, quiçá do sangue.

13 comentários:

  1. Arááá
    Depois de roubar o meu primeiro comentário no Blog da Mah, por questão de 1 minuto você já postou? Como é sagaaaaz! Hahaha
    Como assim Antônio, comia a casquinha? Crianças tem alguma coisa dentro do estômago que não permitem pegar infecções e afins, isso sim! Cacetoides, que nojo, nunca mais te verei da mesma forma depois de saber que vc comia casquinha! Huahuahua
    E sábia analogia sua, os machucados do interior não há metiolate que cure. Só o tempo e Deus mesmo.
    Ri tanto no começo do seu post, e no final fiquei sem saber se de fato você está bem, e o fim de semana será alegre, ou não.
    Enfim, beijoss!
    Ah sim, entrei na comunidade Que Momento, e 'si esqueci' de avisar.

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  2. Outro belo texto! Cada vez curto mais teu estilo de escrita. Quase sempre começo morrendo de rir e termino embargado com suas perspicazes analogias...

    Espero que além do saudosismo a que se refere a primeira parte do seu texto, o restante não passe de uma poética bem colocada e distante do seu hoje! Não é bom ferida interna...

    Abs.

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  3. comer casquinha hahahahaa
    concordo com o comentario acima
    tirando a intimidade, q eu não te conheço =P, eu diria algo parecido

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  4. Tirando a reflexão do final eu só tenho a dizer uma coisa com todas as minhas forças:
    E-C-A!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    hahaahahaa

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  5. Jura que tu comia a casquinha dos machucados??! Nhéca.

    Guri, vai AGORA tomar remedinho para vermes...

    Ok, só não vouu zoar mais porque, quando criança, eu comia...sabonete. Hum, e adorava!

    Beijos Doces,

    Pitanga

    P.S.: Passa lá no Vermelho Pitanga...NOVIDADES!

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  6. Arrrrrrrrrgh!!!!!!!! QUe nojo AA...

    eu comia tijolo, mas casquinha nunca ecaaaaaaaa

    as feridas de dentro nem casquinha fazem né???

    e quando se fecham ainda nos restam as cicatrizes....




    Mas fala serio!!! tu é boleiro é??? deve ser mó perna de pau kkkkk


    Beijinhos

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  7. Que nojooooOOO!
    Mas bacana! Coragem vc tem, viu!
    Hushaushaushau
    Saudosistas somos.
    Bom demais neh?!
    Grande beijo
    =)

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  8. Cara, infelizmente imaginei a cena: vc comendocasquinha de ferida... Zesus! rs.
    Mas tu tá certo: as feridas de dentro são as piores, as vezes deixam cicatrizes feias...
    Bjs.

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  9. antônio, esse post foi nojento demais hahaha...

    e eu, mesmo depois de grande, sempre ando ralada, sou muito desastrada.




    e a foto???

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  10. Mesmo hoje em dia, vivo ralada... haeuhueahaue.


    :*

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  11. Ol�....
    Mto bacana seu blog heim...

    Voltarei mais vezes.
    Abra�os

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  12. Aiiiiiiii Antôniooo.. quase me deu ânsia esse post! hahaha

    Peloamor heein.. cada gosto que você tem! Comer casquinha de machucado? Sangue?!

    Eu só concordo com a parte do mertiolate.. Doía muuuuito mesmo! Aff

    Ainda bem que agora somos crianças um pouco mais comportadas! rs

    beeijo

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  13. Lembro-me das feridas que deixaram feridas pelo corpo e ainda tento me esquecer de algumas feridas deixadas internamente.
    Com sua licença, que coisa mais nojenta héin moço?
    Por ser menina, eu não tinha essas síndromes de porco (hihihi), mas já experimentei sangue sim. E se até hoje me corto, a primeira coisa que faço é levar a boca para sentir aquele gosto de ferro.
    Bjitos!

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