Marajó superfaturada

Analise a foto do meu perfil com atenção, esta que está aí em cima, estampada no blog, exibindo todo o meu charme e beleza. Agora responda: é ou não é a cara do Carlos Alberto de Nóbrega? Bem, se você respondeu que não, que sou infinitamente mais belo, agradeço a gentileza e concordo plenamente. No entanto, se você enxergou alguma semelhança, por menor que seja, então é porque concorda com as pessoas que sentam ao meu lado na parada de ônibus e ficam puxando assunto, como se eu fosse o apresentador da Praça é Nossa.
E olha que eu nem me considero o cara mais simpático do mundo, ainda mais em plena segunda-feira de manhã, após um fim-de-semana ensolarado, quando ocorreu o emocionado reencontro entre mim e o astro-rei. Ah, que emoção senti ao contemplar os primeiros raios de sol após a longa era glacial que assolou a região! Com os olhos chorosos e a dor pungente que dilacerava minh'alma, ergui os braços aos céus e orei com devoção pedindo a permanência desse clima perfeito. Se adiantou? A meteorologia marcou chuva para hoje.
Pois bem, estava eu sentado no banco da parada de ônibus, atrasado, sonolento, aguardando a condução para mais uma árdua semana de labuta. De repente, eis que surge um cidadão ao meu lado, puxando assunto como se eu fosse seu vizinho de banco há três anos. Em sete minutos, a criatura me relatou sua vida, contou do sobrinho ladrão, que mora no interior, que colheu milho na lavoura nos últimos dias e comprou uma Marajó 90. Pagou sete mil por ela. É por essas e outras que brasileiro tem mais é que tomar no fiofó mesmo. Imaginem, pagar sete mil reais por uma Marajó 90! Inteira, segundo ele, sem um arranhãozinho, zero bala. Tão zero, que ele mandou fazer o motor novo. Ah, minha Nossa Senhora da Bicicletinha, dai-me equilíbrio! Não bastasse pagar sete barões pelo caco velho, ainda precisou retificar o motor!
Fiquei ali, rezando baixinho para que meu ônibus viesse logo, meu coração doía em ser testemunha de sete mil reais indo pelo ralo. E ele animado, gabando maravilhas do carro, contando da moto que tinha, da filhinha, da esposa, externando seu complexo de inferioridade, dizendo que as pessoas achavam que ele era ladrão, só porque carregava uma jaqueta na mão e talicoisa.
Pára, pára, pára tudo. O cara compra uma Marajó 90 por sete mil reais, SETE MIL REAIS! Planta milho no interior, é pedreiro, tem uma moto, uma filha, uma jaqueta e diz que os outros pensam que ele é ladrão? Tchê, que raio de paranóia é essa? Quase mandei o vivente se tratar num psiquiatra, apesar que duvido que ele tivesse dinheiro para as consultas, já que torrou sete mil reais numa mulambenta de uma Marajó 90. Sim, aquilo me abalou emocionalmente. Nessas alturas, eu já rezava para que qualquer um de nossos ônibus viesse logo, antes que ele me dissesse que comprou um par de feijões mágicos por três mil reais, o que certamente seria fatal para meu pobre coração.
Antes disso, contudo, o ônibus dele chegou. Nem mesmo pude dar-lhe os pêsames pela compra da Marajó. Fiquei ali, sorumbático, mas também aliviado por saber economizar meu rico dinheirinho, já que carro velho eu não compro nem à base de paulada. Ele entrou no ônibus rapidamente e sumiu na multidão.
Ainda meio grogue pela bomba que recebi em plena segunda-feira de manhã, um susto. Pensando que finalmente estava livre de relatos pouco ortodoxos e gente rasgando dinheiro, eis que um velhinho se materializa do meu lado, no mesmo lugar do dono da Marajó. Por Deus, se materializou! Nenhum idoso daquela idade ocupa um lugar recém vago em tão pouco tempo, questão de segundos! Esse, felizmente, não puxou papo. Apenas me olhava. Mirava meus olhos, fitava minhas íris profundamente. Um olhar hipnótico, estonteante. Eu, no entanto, não caí na armadilha do velho bruxo, pois preferi prestar atenção no gorro que ele tinha na cabeça. Percebi que havia algo de estranho com aquilo, nunca tinha visto nada parecido com aquele chapeuzinho. Até que, de repente, acordei para a realidade: era um boné! Com a aba cortada! Jesus, me abana, um compra uma Marajó 90 por sete mil reais, o outro me olha no fundo do grão do olho e usa um boné pela metade, aba cortada, que barbaridade de magia negra é essa que me cerca na segunda de manhã?
Ele percebeu meu horror, estava estampado em meus olhos. Mexeu na sacolinha plástica que carregava, e ali acordei de vez do meu sono mal dormido. As pernas bambearam, antevi a catástrofe, o ancião me amaldiçoaria com alguma erva nociva dos confins da Amazônia, me intoxicaria com algum pó mágico que me deixaria cego, reumático e constipado. Num relance, percebi meu ônibus se aproximando, saltei do banco em disparada e, suando em bicas, com calafrios até no pâncreas, invadi o ônibus e procurei um banco vazio. Essa parte foi fácil, eu era o único dentro dele, além do motorista.
Da janela, ainda pude perceber o velho bruxo lendo um folheto de supermercado que ele havia retirado da sacolinha, o que me deixou com cara de tacho. E, pra completar a doideira, o danado do motorista do ônibus fez o quê? Puxou assunto comigo, obviamente. Sim, tenho a síndrome de Carlos Alberto de Nóbrega. Ou isso, ou síndrome de pânico de segundas-feiras de manhã após um fim-de-semana ensolarado. Agora, convenhamos, pagar sete mil por uma Marajó, é pra deixar qualquer um biruta.

14 comentários:

  1. rsrs
    Ah, meu caro amigo, acredite. já ouvi tantas outras histórias reais e mais inacreditáveis sobre rasgar dinheiro que achei até um lucro 7 mil pela carranca 90 viu! Qualquer dia te conto a de uma senhora que conheci e que me confessou ter gasto 150,00reais em um Mentos(Sim, aquela bala que custa em média 1,00real)rs. Aconteçe...rs

    Abs. E ah! Espero que seu Ego cunpra logo sua nobre missão na África e retorne pra você viu! Você deveria ser mais possessivo com ele sabia!rs

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    to rindo até agora!
    acho que um dos seus posts mais engraçados!
    uahauhauahuahauhauahuahauhauahhua
    sem comentários!!!!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Ler uma pérola dessa em plena segunda-feira anima qlqer um!!!
    Esse é meu Branquelo msm!
    :D

    *mas tu é amarrado q benza-te deus!
    :o
    hahaaha

    boa semana, Nuvem

    ;*****

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  3. dsahudisahuidsadsa
    eu nao sei quanto custa normalmente uma marajo, mas se ele so tinha grana para a marajó deixe ele coitado, se era chamado de ladrão por segurar jaqueta na mao eu tb devo ser chamada e me deu pena do ancião, mas q tu tem sindrome do cara da praça isso temmm...


    beijos

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  4. Antônio
    Têm dias que as pessoas nos acham com cara de pscicologos ou Calos Alberto como vc mesmo disse! Ainda mais quando estão carentes!
    Bicho adorei o "minha Nossa Senhora da Bicicletinha, dai-me equilíbrio"! Bacana demais!
    Beijo
    =)

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  5. Olha Antônio, com o apresentador da Praça é Nossa, só o tom humorístico mesmo.

    P.S.: admito. Não li teu post todo. (Voltarei, amigo. Voltarei).

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  6. Meooooo!
    Isso sempre acontece comigo... Eu devo parecer atendente de CVV, psicóloga ou coisa do gênero. O povo tem mania de parar do meu lado em tudo qto é fila pra me contar a vida inteira!!! rs
    Te entendo perfeitamente!

    Beijos

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  7. Eis a pergutna que não quer calar: o cara pagou sete mil reais pela Marajó 90 e tava pegando ônibus na segunda de manhã??
    Com certeza o cara é doente! heheheheh
    Abraço, bruxo!

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  8. Não uma segunda, mas essa minha terça pela manhã, já começou ótima só em ler esse relato tão maravilhoso....
    hehehehehehehehehe

    Pois é... Cada um sabe o que faz com seu dinheirinho, né? É uma questão de valores! Coitadinho do senhor... Talvez ele tenha sido enganado oras...
    E, quando ao velhinho do (quase) boné... Fiquei tentando imaginar como ele conseguiu.... ehehehhehehehehehehehe

    Amei!!!!
    Espero que a manhã da terça tenha sido mais tranquila!!!!

    Beijão pra tu

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  9. Que Momento! Que saudades daqui!

    Ainda não li tudo que perdi esses dias.. mas eu volto!

    Juro!

    beeijo Antônio!

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  10. Eu falo em ponto de onibus. Não posso ver ngm sozinho que eu eu solto a lingua.. falo sobre o tempo, sobre a prefeitura, sobre o transporte público e sobre as minhas façanhas financeiras tb, pq não?
    Mas a pergunta q não quer calar, se o cara tinha um carro recém comprado, pq ele tava no ponto de onibus?
    E nem pra ti oferecer uma carona!
    hahahaha.. dei mta risada com esse teu texto. Adoro bom humor.
    bjs

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  11. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Alegrou o meu dia!!!

    Bjo

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  12. Reparou no que está escrito logo ali, no link para abrir esta "cardeneta" de comentários? Então não reclama, sô!

    Olhe, esse negócio de puxar assunto nunca foi meu distintivo. Dizem que as pessoas falam asssim de seus privados porque não conhecem com quem falam, fica tudo sem compromisso, terapia de graça e por aí.
    Quando alguém se arrisca, respondo com monossílabos,encosto a cabeça e finjo que durmo, tusso uma barbaridade e se não funcionar mesmo assim, coço a cabeça que nem doida e depois esmago uma unha contra a outra. É tiro e fuga!
    Abraço e se faltar sol, manda buscar aqui que tem.

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  13. Segunda Feira, é o Dia que preparação! ... Pontos de Onibus Lotado! .. Aquele Encoxa Encoxa! dentro do bus! .. Seu Chefe que num te esquece! ... O Despertador que num dispertaa! u-u" ... Segunda feira é simplismente um teste! se vc passa por ele.... o resto da semana eh moleza!~~

    Ps: Pow! 7mil!! ... + um post desse eu morro de tanto rir xDDD

    Abraço cara!

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  14. Você me fez lembrar daquelas pessoas que falam, falam e você não quer ouvir e já não sabe mais o que fazer para que elas parem de falar.
    Bjitos!

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