A cruel vida canina

Braba mesmo é a vida dos cachorros, não tenham dúvidas disso. Nos últimos dias, Sofia, nossa cachorrinha caçula, entrou no cio. Quando comecei a perceber um movimento estranho de outros cães em frente ao portão de casa, já sabia do que se tratava. Averigüei nossas fêmeas e constatei: a menina está virando mocinha.
Cadela no cio lá em casa é um fardo. Hora de empunhar cabos de vassoura, pôr água pra ferver e proteger o território até os dentes, pois a invasão dos garanhões será impiedosa. Quem leva sorte na parada é o Scooby, nosso bravo rapaz, que se encarrega bravamente do serviço quando ele aparece.
Todavia, para minha surpresa, Sofia não atraiu muitos pretendentes. Espero que não seja pelo fato de ela ser preta, cachorro com preconceito seria demais para mim. Até agora, somente um guaipeca picaço instalou-se à frente do portão. Magrinho, pêlo feio, aquela cara de manguaça medonha, jamais permitirei que aquele resquício canino corteje nossa donzela.
Mas, é como eu disse, a vida canina é dura. Todos os dias, sem falta, lá está o picaço, olhinhos atentos, esperando uma brecha no portão para invadir nosso pátio em busca de uma paixão fulgurante. Basta a mãe chegar de carro, que ele se põe a postos; já o peguei duas vezes tentando abusar sexualmente de Sofia.
Tchê, é um nojo. Começa numa lambeção sem igual. Lambe, lambe, lambe, bem, vocês sabem o que ele lambe. Nada contra práticas sexuais pouco ortodoxas, bem sabemos que entre quatro paredes vale tudo, mas, poxa vida, ao vivo é deprimente. Os outros cachorros ali na volta, o Scooby tirando um cochilo - claro, ele sabe que no fim é quem acaba levando o corpinho - e o guaipeca ali, dê-lhe língua. E a Sofia de uma figa nem fica com vergonha! Enfim, a putaria rola solta.
Aí, chego eu, defensor da moral e dos bons costumes, pedaço de pau em punho, bradando impropérios contra o jaguara e pondo ordem na casa. Comigo não, violão, vá lamber a bunda de qualquer cadela da rua, que Sofia é de família!
E ele não desiste. Passa manhã, passa noite, sempre de sentinela em frente ao pátio, implorando por uma bimbada, uminha só. Quando me enxerga, sai de mansinho, disfarça, cheira um cocô, se coça, o baita é esperto. Assim que eu viro as costas, ele volta pra lá, ganindo de paixão, com a ponta do ticolino de fora, um tesão que dá até dó.
Tudo isso pra quê? Apenas pra dar meia-dúzia de sacodidas e depois ficar quinze minutos grudado com a parceira, cada um virado pra um lado e tentando se soltar. Sei lá, o troço incha, é sinistro o processo. Ficam aquelas duas carinhas envergonhadas, fornicando em público, deve bater o arrependimento, um acesso de pudor. Só pode ser, porque eles tentam se desvencilhar da armadilha sexual a todo custo, coisa mais triste de se presenciar.
Vejam que vida cruel: vem o cio, dá aquela fome sexual tremenda, o instinto faz miséria com os hormônios caninos, tudo isso pra depois querer fugir dos finalmentes! Sinceramente, não tenho do que me queixar. Braba mesmo é a vida dos cachorros.


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Conforme disse ontem, recebi, amavelmente, um prêmio da Fê, que também me foi concedido pelo meu chapa, Adriano: o Prêmio Dardos. Agradeço muito aos dois pelo carinho e pela lembrança!

Com o Prêmio Dardos se reconhece os valores que cada blogueiro mostra cada dia em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc, que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.

E possui três regras: 1- aceitar exibir a imagem. 2- Linkar o blog do qual recebeu o prêmio. 3- Escolher 15 blogs para entregar o Prêmio Dardos.



LindaRê, Mari, Candy, Kari, Grazi,
Cris Martins, Ná, Lydia, Aline, Frodo,
Ciça, Lusinha, Pitanga, Má e Letícia.