Síndrome de Garfield

Existe algo pior que segunda-feira? Sim, existe: uma segunda-feira chuvosa. Não falo de qualquer chuvinha de molhar bobo, não. É água mesmo, a cântaros, de fazer chafariz no guarda-chuva, de relembrar Noé e talicoisa (plagiando David Coimbra carinhosamente).
Já notei que, de semanas para cá, tem sido difícil encarar este dia funesto. Por sorte, estou imerso nesta overdose de Abba, que funciona como morfina psicológica. Mesmo assim, o niilismo segue encrostado em meus pensamentos, bloqueando toda e qualquer vontade de fazer coisa alguma. Num rompante de teimosia, consegui escapar deste oceano inerte e vir aqui partilhar um pouco do azedume convosco.

Sábado foi legal. Nosso jogo foi cancelado em decorrência da chuva que já dava mostras de vir para ficar. Com isso, fiquei liberado às quatro da tarde para fazer o que quisesse, inclusive pegar o carro e tomar o rumo de São Chico, idéia que abalroou-me de pronto. Todavia, como bom libriano indeciso que sou, fiquei naquele vai-não-vai medonho, analisando possibilidades do fim-de-semana, se o passeio seria interessante mesmo com chuva, enfim, virei numa barata tonta.
A cabeça começou a dar nós, os miolos fritavam, vejam só como a indecisão me maltrata por fatos simples. Desatinado, fui para o carro e coloquei o CD do Abba para tocar. Pois, que caiam todos os pêlos do meu corpo se eu estiver mentindo, ao tocar Dancing Queen, uma luz pairou sobre minha mente e todos os caminhos abriram-se de uma só vez. O que era um céu nebuloso ficou claro, límpido, como o mais puro soro fisiológico, e bati o martelo. Abasteci o carro e fui reto à fazenda passar a noite com meus avós. Cheguei às 19 horas lá e dormi um dos melhores sonos do ano.

* Pausa para contemplar o dilúvio que desaba sobre Novo Hamburgo nesse momento. *

Tudo correu às mil maravilhas, o domingo foi balsâmico. Contudo, bastou ter que voltar para casa, que a maionese desandou. Tá certo que a vó veio junto e que eu já me conformei em ter de ficar por aqui mais uns anos, mas foi outro fato que me incomodou.
Fiquei triste em constatar a indiferença com que os moradores da minha casa tiveram com a visita da vó. Quando eu era criança, Deus me livre, receber as avós em casa era um acontecimento ímpar! Eu dava pulos, escaramuçava feito um terneiro novo, grudava no pescoço delas e cobria de beijos, atacava as malas para ver o que de bom tinham trazido. Em resumo, era uma festa.
Meu irmão, no entanto, só saiu da frente do computador para abraçá-la porque fui chamá-lo. Cumprimentou-a e voltou pra lá. Nem uma conversinha, nem um carinho. Fiquei absolutamente pasmo. Aliás, venho notando de tempos para cá que sou o único que trata meus avós como eles merecem, sem falsa modéstia. Pôxa, estão os quatro com idade avançada, já fizeram tanto pela vida, entre acertos e erros, não será justo que agora mereçam um pouco de atenção?
Nada me faz bem maior do que tomar um chimarrão com meu avô, ser recebido com um sorriso largo no rosto por eles, perceber o brilho em seus olhos quando eu chego. Não há amizade, não há mulher, nada no mundo que me cause sensação parecida. E perceber que tenho sido o único a agir dessa maneira me entristece e contribui para minha reflexão niilista nesta segunda-feira.

* Segue chovendo de maneira impiedosa. *

Estou desiludido, tenho que confessar a vocês, que são meus amigos e provavelmente devem estranhar minha ausência. Se não fosse o Abba, não sei o que seria de mim (podem rir, mas é a realidade). Das mulheres, dos dias, da vida em geral. Conforme citei acima, fui chamado de niilista semana passada, e com razão.
É claro que não sou um suicida, tampouco penso que essa chuva vá durar pra sempre, mas, tenho que lhes dizer, não há nada pior do que a desilusão. Descrer de tudo, sabe? Nem para as mulheres que passam por mim eu olho direito. Tá, eu olho, mas não como deveria, digamos que eu não aprecie como fazia antes.
A verdade é essa. Relutei em escrever desse jeito, já que sempre levo na base da sátira, do sarcasmo. Porém, minha expressão de quem chupou dois quilos de limão é inconfundível. Niilismo puro. Um rabugento, prestes a completar 23 anos, mas com o incoformismo de um velho de 90, que passa o dia praguejando a vida.

Gente, acreditem, se não fosse o Abba... Essas músicas fazem milagres.

Ah, a propósito: chove incessantemente.

13 comentários:

  1. Não sei por que detesta tanto a chuva assim. É tão bom ficar escutando aquele batuque do lado de fora da sala de aula (ou do trabalho, seja como for). O ruim mesmo é ter que sair na rua com chuva, se locomover de um ponto até outro. Mas no fim o resultado ainda é positivo.

    E se quiser desabafar sobre o teu niilismo (achei no segundo dicionário consultado) pode contar com o meu ombro e meu zuvido. Embora a gente não se fale mais tanto como antes, eu ainda estou aqui a disposição.

    E sobre o ABBA, eu sempre fui fã deles. Bem, sempre não, mas eu sempre adorei as músicas deles, e quando soube que eram de uma banda só, passei a gostar deles. Há algum tempo o Jader trouve aqui pra casa um DVD sobre ABBA, tipo documentário. Bem legal, contava a história deles e tal. Atualmente ainda estão todos vivos, mas não podem se olhar na cara e uma das mulheres não suporta as músicas deles.

    Bem, abração!

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  2. Menino, tembém fico pasma com o jeito das crianças de hoje... ada dia menos crianças... Quando eu era novinha, adorava ficar com minha vó, ouvindo as histórias que ela contava..


    :*

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  3. O nome disso é crise existencial. Algo imprescindível para o crescimento.

    Muito comum antes de aniversários.

    Bjo

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  4. Eu acho que vc está velho demais para os seus 23 anos.
    Será necessário um puxão de orelhas para essas coisas mudarem?

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  5. Compartilho de seu niilismo, caro Antônio.
    por aqui, há sol lá fora, mas os raios ainda não conseguiram contagiar-me... ainda mais que eu, aqui, fico só olhando o mundo lá fora, mas me sinto pássaro tolhido de liberdade dentro dessa sala com ar-condicionado enqt me pergunto "q q eu tô fazendo aqui?", sem obter respostas, claro.
    Bjs.

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  6. "Chove chuva-a. Chove sem parar..."
    Gelei ao ler sobre a chuva torrencial daí. É que, depois que chove nos pampas, a chuva sobe pra cá. E eu não ando muito afim de virar sapa.

    PS: desculpa o sumiço. A inspiração me convidou para um passeio e eu não recusei. Precisei aliviar a cabeça e fugi daqui para não matar os leitores com as minhas palavras funestas...

    PPS: tem presentinho pra ti lá no blog. Não sei se já recebeu, mas vale a intenção de presentear-te.

    Beijo meu *:

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  7. Chuva e ABBA! Duas coisas ótimas Antonio!! Pq vc não une as duas coisas? hehe
    Bom, brincadeiras a parte, segunda-feira é cruel-el-el!!!
    Volte a olhar pras mulheres guri!!! (não não , só vc pra me vir com essa de "Nem para as mulheres que passam por mim eu olho direito. Tá, eu olho, mas não como deveria, digamos que eu não aprecie como fazia antes.")
    Será que essa tua síndrome também me pegou? Cá com meus botões, também não ando olhando muito pro sexo oposto ultimamente (do meu sexo posto, é claro, haha)
    Melhoras pro teu humor!
    bjão

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  8. Menos chuva pra você, porque se formos iguais nesse ponto, imagino o seu humor como deve star com tantos dias de água seguidos.
    Bjitos!

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  9. Eu gosto até da chuva sabe...é bom quando a gente está quietinho em casa...
    O fim de semana pra mim também foi um tanto desesperador...
    Mas são coisas da vida!
    Beijos

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  10. Eu nesses dias: niilista [2]
    por isso nem me manifestei.
    =/

    ta melhor?
    como c ta?

    ;*

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  11. Será que foi essa chuva que te levou pra longe de mim? Senti sua falta, meu filhooo.. ahahaha
    Por fim, acho que hoje a chuva já passou por aí, né?
    Aqui, nada de chuva. Só um tempo seco de f**** qualquer saúde.
    Beijos

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  12. Antonio, ninguém é feliz o tempo inteiro, isso seria chato demais...
    E depois, a chuva também tem um lado bom, mas tem que procurar, ô se tem.
    Bjo grande

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  13. Espero que pelo menos a chuva, neste instante, tenha cessado! Quanto aos nefastos comportamentos joviais de hoje em dia perante os mais velhos (pais, avós, desconhecidos que seja), só uma coisa a sentirmos: PENA!
    Mal sabem eles a riqueza que estão a perder! Mas a vida ensina. Ainda creio nisso!
    Quanto ao ABBA... Bom, que bom que estavam contigo nestes dias complicados. ABBA realmente é um grupo que opera milagres na vida de qualquer um...!
    E quanto a mim, VOLTEI! E agora pra ficar! A vida decidiu me tirar o direito de administrar meu tempo com livre arbítrio durantes quase um mês, mas a driblei, como se deve fazer, e cá estou eu de volta a BLOGOSFERA sempre tão cheia de frescor! Ih, esquece o frescor, melhor não falarmos sobre climas e sensações térmicas neste momento complicado pra ti...rs SORRY.

    Advinha: Voltei, e já deixei presente pra ti lá! SORRIA RAPAZ!

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