Hoje é o dia mais triste da minha vida

Paulo Sant'Ana e David Coimbra são duas pessoas por quem nutro efervescente admiração. Por coincidência, ambos são gremistas. Não os conheço pessoalmente, é verdade, mas a escrita dos dois acalanta meu coração, amacia a dureza dos meus sentimentos e, mesmo no subsolo do fundo do poço, consegue arrancar um tímido sorriso dos músculos enrijecidos em minha face.
Estou triste. Triste, triste, triste, absurdamente triste. E, o que mais me chama a atenção em Paulo e David, estes dois cidadãos gaúchos, porto-alegrenses e tricolores, é o brilhantismo com o qual eles discorrem sobre sua tristeza. Talvez quem lê superficialmente não perceba, mas eu sei quando Sant'Ana e Coimbra estão tristes. É palpável e genial ao mesmo tempo. Ao dividirem seus dissabores, ao dissolvê-los em frases e mais frases, creio que conseguem dissipá-la. Porque uma tristeza, quando partilhada, vira meia tristeza.

Sempre espero pelos comentários do último texto publicado, para só então publicar o seguinte. Hoje, todavia, meu peito está apertado, como uma dessas calças de ginástica que as adolescentes usam para erguer o que a gravidade insiste em derrubar. É claro que não sou minimamente comparável aos meus ídolos e mestres, tampouco disponho de alguma credencial para tentar transformar meu macambúzio semblante n'alguma linha que preste. Mas, como vocês sabem, estou triste.

Quando o árbitro encerrou o primeiro tempo daquela hecatombe que presenciei ontem, esvaíram-se junto minhas réstias de esperança acerca das forças tricolores neste certame. Inconformado, movi minha esquálida massa corpórea até o balcão, paguei as cervejas que desnorteavam meus pensamentos e, pé ante pé, dirigi-me ao meu quarto. Assim, diretamente, ao meu quarto. Meu refúgio para momentos insones.
Pobre de meu irmão, que divertia-se na internet e, sem meias palavras, foi enxotado do recinto. Após trancafiar-me em meus aposentos, ainda pude ouvir uma gaveta de talheres espatifando-se na cozinha, fruto de sua indignação com a minha indignação. De fato, o futebol ser o estopim de minhas crises existenciais não é algo comum lá em casa.
Alquebrado, porém, nada fiz. Prostrei-me diante da tela do computador e, estático, escutei o segundo tempo pelo rádio como um condenado à forca escuta, do calabouço, os gritos da multidão clamando por sua morte. Por sorte, o Inter foi deveras benevolente com meu time e poupou-me de um vexame ainda maior - a última vez que aplicou 4 a 1 no primeiro tempo num adversário gaúcho em seu estádio, o placar terminou dobrado ao fim da partida.
Terminado o jogo, percebi que meu sofrimento apenas começara. Inoperante, sequer desliguei o rádio e, propositalmente, ouvi cada entrevista, cada comentário, cada declaração acalorada dos atletas e suas impressões sobre a catástrofe. Enclausurado, desliguei o computador e, antes das nove da noite, deitei-me.
Vieram, então, os incessantes pensamentos. E, bah, como pensa um homem que sofre! Divaguei por horas a fio em devaneios, acontecimentos imaginários e fatos incontidos que dilaceram meu aparelho cardiovascular até agora. Depois de tantos anos de sono angelical, a insônia abalroou-me sem piedade alguma. A cada sinal do relógio de hora passada, a tristeza ocupava todos os milímetros cúbicos do meu quarto.
Fui, paulatinamente, sendo tomado de um sentimento que misturou tudo de ruim que pode haver na face da terra, entre eles, o exagero. Até que, em algum momento entre três e quatro da manhã, os olhos esbugalhados no escuro foram vencidos pelo cansaço e, felizmente, descansaram. Acordei, pouco depois, com o despertador gritão e acompanhado da sensação de não ter repousado um minuto sequer.
Meu corpo dói como se eu tivesse, de fato, sido atropelado por uma jamanta. Aliás, fosse essa uma dor física, talvez algum remédio sanasse. Dor nenhuma, no entanto, é pior que a de amor. Quem sofre por esse sentimento padece do pior castigo que um ser humano pode experimentar. Já li sobre poetas que morreram de amor, e ele mata mesmo. Mata por dentro, aos poucos, como um veneno letal.
E eu, meus caros, amo. Amo esse time, amo demais. Tanto, que a demora em perceber isso está, nesse momento, dilacerando o que restou de meu sistema nervoso. Insônia, sudorese nas mãos e pés e uma angústia entalada entre o peito e a garganta que, sinceramente, não sei quando passará.
Pode ser que eu tenha sorte e isso aconteça hoje; por outro lado, temo que dure mais tempo, e mais, e mais, e mais. Que perpasse o confronto contra o Botafogo, e depois o Santos, Portuguesa e Sport. Que não cesse após o Gauchão 2009 e - mais do que tudo - que não acabe nunca mais. Aí, sim, estarei fadado ao sofrimento eterno.

3 comentários:

  1. Deus do céu, quanto sofrimento, e bah, a três dias após o próprio aniversário!!! Assim não pode, Antônio, assim não dá...

    Sou flamenguista. Imagina se eu ficasse assim sempre que ele jogasse mal! Eu nem dormiria mais!rsrs

    ABS.

    ResponderExcluir
  2. Isso que eu chamo torcer pelo time...
    Bjitos!

    ResponderExcluir
  3. Não conheço o Sant´Ana, mas sou fã do David... Adoro o que ele escreve e como escreve...

    Mas ei guri, quanta tristeza poxa... Fiquei triste só em ler...

    Mas é isso mesmo, quando a gente gosta de algo ou alguém, a gente sofre junto e a gente só quer o bem...

    Vai melhorar, viu? Eu, como não torcia por time nenhum, resolvi torcer pelo Grêmio...

    Um beijão pra tu

    ResponderExcluir

<< >>