Quebra de protocolo

É engraçado, mas os momentos obscuros são os mais inspiradores, pelo menos pra mim. Talvez inspiração até nem seja a palavra correta para expressar essa idéia, mas sim uma súbita vontade de procurar a esmo soluções para o que parece inalcançável. O fato é que, sufocado por meus próprios pensamentos, não vejo outra forma de me livrar deles a não ser despejá-los aqui.

Depois de muito pensar, analisar e absorver fatos e informações, cheguei à conclusão de que está tudo ao contrário. Sempre fui considerado um espertalhão, trovador, metódico e meticulosamente apto a dar um jeito de sair das maiores enrascadas. Um cara ligeiro, como se diz na gíria. Alguém que, amparado pela inteligência e raciocínio rápido, usufrui dessas qualidades para viver melhor.
Mentira, tudo mentira. Engana-se redondamente quem pensa desse jeito. Engano-me, inclusive, pois também eu pensava dessa forma. Sou um ingênuo. Um trouxa, por que não dizer. Não no sentido pejorativo, é claro, mas sim pela forma como sempre conduzi minhas teses. E, após a explicação a seguir, por mais que não sejam todos conhecedores de causa, entenderão que sou, de fato, um ingênuo.

Sempre pensei que nada mudaria. Que a vida seguiria seu curso natural sem sobressaltos, ou melhor, que tais erupções no caminho não alterariam o produto final. Tinha em mente que pão seria sempre pão, e queijo sempre queijo. Imaginava que, tudo bem, algumas mudanças pequenas fossem realmente necessárias para a vida seguir melhor. Experiências a mais, algumas até fugindo um pouco do aceitável, fatos que minha tenra ingenuidade não cogitava que pudessem alterar todo o panorama seguinte.
Dei com meus burros, um a um, n'água. Tudo mudou, quase que se invertendo, e hoje eu constato, apavorado, que fui um ingênuo. Pior, que essa postura pode ter me custado um sonho. Não só pelo fato de estar prestes a ver ruir meu castelo de areia, mas sim por perceber que, de tão pouco esperto e inteligente, talvez eu não consiga reconstruí-lo.
O panorama, conforme citei algumas linhas acima, alterou-se completamente. Pão não é mais pão, queijo não é mais queijo. Ou pelo menos não quer ser. Como diz a filósofa Dona Dilma, que por coincidência também é minha avó, "a dor ensina a gemer", o que me leva a crer que os frutos da minha ingenuidade lasciva serão mais amargos do que parece.
E, pra completar, o mais prejudicial de tudo é a resistência que tenho em aceitar tudo isso. Existem certas coisas que demoram para entrar na cabeça, entendem? A gente sabe como é, que não mais mudará, mas teima em assimilar, é difícil. Tenho uma colega que me disse, certo dia, que seu conto de fadas terminou, referindo-se a um malfadado relacionamento. Temo, igualmente, que esteja findo o meu também.
Por isso, se um dia eu vier a exercer a paternidade, direi ao meu filho ou filha, desde seus primeiros dias, que jamais desistam de seus sonhos em prol de aventuras. A própria construção do sonho já é emocionante, não precisa mais do que isso. Trocar o certo pelo duvidoso tem exatamente o efeito que a frase diz: o que antes era certo e definitivo torna-se, num estalar de dedos, um amontoado de interrogações. E, para conseguir essa façanha, só sendo muito, mas muito ingênuo.

7 comentários:

  1. Antonio, meu caro!
    Tbm sou ingênua e muuuuito trouxa, só me ferro nas coisas por acreditar demais que tudo pode dar certo. O bom é que isso nos faz mais fortes, aprendemos com nossos erros e com as mudanças que eles trazem!
    Super beijo

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  2. antônio, acho que todo mundo já passou por isso, ao menos uma vez... é horrível, né?

    pois, é. tem coisa que a gente só aprende se estrepando.

    querido, melhoras...

    bjo*

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  3. Meu querido...
    Infelizmente, vários castelos caem ao longo da nossa vida. Mas aprendemos com cara demolição e com cada reconstrução.
    Ingênuos? Somos sim. Por termos um coração imenso e não acreditarmos que alguém possa nos fazer mal.
    E nem sempre é por querer que nos atingem...
    O jeito é juntar o que resta e encarar o desafio de recomeçar de frente. O que ficou pra trás, não volta...
    Mas há uma página em branco. É só virar e reescrever!
    Beijo imenso.

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  4. Trocar o certo pelo duvidoso não é lá uma boa idéia... Mas, já ouvi casos que tiveram um bom desenrolar...

    Mas, como sempre diz a minha mãe e a grande filósofa, "a dor ensina a gemer". E ensina mesmo! Então, aprendamos com ela!

    Fica bem, tá?
    Beijão

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  5. A gente vai aprendendo com a vida e com suas rasteiras...
    Espero que o tombo não seja tão dolorido dai.
    Bjitos!

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  6. Putz, sou do tipo q troca certo pelo duvidoso, q resiste a certas mudanças, q v~e tudo virar de cabeça para baixo de uma hora pra outra. Resumindo, acho q tb sou ingênua. :(
    Beijos.

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  7. Viver é um sonho é melhor que uma aventura, gostei dessa sua colocação. E concordo contigo.
    Trocar o certo pelo duvidoso nunca trouxe bons resultados. Isso ao meu vê.
    Beijo, moço :*

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