Cupins e "Logo ali"

Quando despertei de um curto e desconfortável sono, na quinta (30/10) pela manhã, percebi que a paisagem mudara sensivelmente. Apesar de não saber exatamente que lugar era aquele, intuí que fosse Minas Gerais. Finalmente, após alguns minutos de olhos atentos à janela, uma placa apareceu: "Bem-vindo a Carandaí".
Macacos me mordam, a quantos quilômetros do nada eu estava? Nunca sequer tinha ouvido uma ínfima menção a um lugar chamado Carandaí. De repente, notei que o ônibus adentrava uma pequena cidade. "Chegamos", pensei. Ledo engano. Ainda rodamos mais de hora até desembarcarmos num restaurante em Barbacena. Pelo menos serviu para eu ter a certeza de que estava sobre solo mineiro.
Duas eternidades depois, chegamos a Conselheiro Lafaiete. Aí, descobrimos que nosso hotel não ficava na cidade, mas sim a dez quilômetros dali. Para quem já havia passado milênios dormindo coberto por um edredon molhado do ar-condicionado, que mal faria achatar a bunda no banco por mais alguns minutos?

Passei, então, a apreciar a paisagem. Com isso, descobri que a densidade demográfica da região não se mede por metro quadrado, e sim por cupinzeiros. Sim, porque tu chuta uma moita e urra de dor, já que na verdade não se trata de uma moita, e sim de um cupinzeiro gigante. Para todos os lados possíveis e imagináveis que se dirija a visão, até mesmo o Ostoroeste - grande maestro, por sinal - surgem imensos e inúmeros cupinzeiros.
Fiquei apavorado. Em alguns campos havia mais casas de cupins do que vacas! Nunca tinha visto nada igual na minha vida. Contemplei a multiplicação dos cupinzeiros e, antes de me habituar, qualquer morro para o qual eu olhava, ilusões de ótica me faziam crer que se tratava de um imenso reduto cupinesco.

Centenas de milhares de cupinzeiros depois, chegamos ao hotel, localizado a 500km do nada e a 1600km de casa. Nome dele? Hotel Cupim. Nada seria mais apropriado. Como marinheiro de primeira viagem, tive de me adaptar a certas verdades de quando se está em outro Estado. Por exemplo, só o tempo fará você se acostumar com certas diferenças.
Os chuveiros, por exemplo, no Hotel Cupim eles são temperamentais. Alguns são extremamente frios no início, mas, com a convivência, esquentaram à noite. De qualquer forma, não escapei de um banho gelado antes do almoço. Não reclamei, já que em outros quartos o ralo entupiu e os colegas tiveram a graça de experimentar a sensação de terem piscina no quarto.
Fiquei faceiro quando soube que os passeios a cavalo eram gratuitos! Como gauchão saudoso que sou, solicitei de pronto a benesse. Estou esperando até agora. Toda vez que eu perguntava no balcão a que horas viria o cavalo, a resposta era de que já estava quase chegando. De Barbacena, suponho.
Sim, mas nem tudo são cupins naquele hotel. Nunca comi tanto pão-de-queijo no café-da-manhã, por exemplo. Aproveitei que meu intestino não estranhou a patente e mandei brasa na alimentação, empanturrando-me com furor com a culinária magnífica dos mineiros. Tá certo que nada se compara ao nosso delicioso churrasco, mas devo admitir que aqui no Rio Grande do Sul, à exceção dos cafés coloniais da Serra, não se vê mesa tão farta e diversificada quanto contemplei por lá. Já no primeiro almoço, comi feito um búfalo desvairado.

Eu, que pensava que só teria problemas com o banheiro após comer tanto, enganei-me redondamente. As ruas são tão estreitas, que impediam a passagem do nosso mastodôntico ônibus, o que resultou em termos que caminhar até o restaurante, bem como também até o local da primeira apresentação do coral.
Com os estômagos abarrotados de tutu de feijão e outras misturas que provamos, perguntamos à Dafne, nossa querida madrinha e guia de caminhadas, se o lugar ficava muito longe. Recebemos, então, uma resposta da qual jamais esqueceremos:

- É não, fica logo ali.

"Logo ali". Palavras que saíram daquela boca sorridente e faceira. Diante de tamanho bom humor, imaginei que realmente fosse perto, já que o sol a pino torrava nossos couros cabeludos e me fazia suar em bicas.
Vários quilômetros depois, conheci o real significado de um "logo ali" mineiro. É mais ou menos como dizer "vamos atravessar Novo Hamburgo, só isso". Acreditem, foi uma caminhada homérica. Chegamos na Superintendência Regional de Ensino botando os bofes pra fora, suando litros e praguejando cruzeirenses, atleticanos e torcedores do Ipatinga, que eu não sei como se chama quem torce pra esse time. Azarado, talvez.
Apareceu, então, uma senhora com uma jarra cheia de água e alguns copos. Coitada. A multidão do coral avançou sobre ela de tal forma, que três segundos depois ela teve de ajeitar os cabelos e correr para buscar uma segunda jarra, e depois uma terceira, quarta e muitas, muitas jarras, muita água, porque a sede do pessoal somou o calor, o tempero salgado do almoço e a raiva por termos feito aquela romaria dentro de Conselheiro Lafaiete.
Após consumirmos toda a água existente no recinto, finalmente cantamos. A apresentação, apesar de quente como as areias do sertão da Paraíba, ficou boa. A única coisa na qual não havíamos pensado é que teríamos de voltar a pé até o ônibus novamente. Juro que vi uns cinco coralistas desmaiando, outros arranhavam as paredes e cheguei a ver alguém chicoteando as próprias costas enquanto chorava copiosamente e proferia palavras de ordem.

Essa viagem a Minas foi realmente marcante. Nos divertimos muito e esses fatos, digamos, diferentes que aconteceram serviram apenas de inspiração para nossos diários de bordo, bem como para rirmos um bocado na viagem de volta. De qualquer forma, da próxima vez que um mineiro apontar para uma direção e disser que "é logo ali", eu juro que pego um táxi. E, se um dia eu for seqüestrado e acordar num campo lotado de cupinzeiros, respirarei aliviado, pois pelo menos saberei em que Estado fui abandonado.

6 comentários:

  1. Eu estou absolutamente frustrada por vc ter ido a Minas e não ter me visitado.. mas tudo bem, eu te pego hohohohho


    Brigada pela consideração lá no infinito, viu? Pensei q vc neeeem me lesse mais! Eu sempre passo aqui tbm, só nao comento, mas vou me fazer mais presente, guri, uahuahuhaua

    E para de achar q vc nao escreve mais legal, pra mim vc é o gaucho cabeçudo bem-humorado e escritor de semrpe!

    Beeeijas

    ResponderExcluir
  2. aiheuhaiuehuahueiiuaheiuhauiehuiahuieahuiehuiaheuihaiehiuahueiiaheuihaiehuiahiuehiuaehiuhuieai


    aii neeeeh!
    nada mais a dizer... é isso aí mesmo! Entrou pra história!

    Bjoo!

    ResponderExcluir
  3. E nada melhor que histórias de viagens. Ficam registradas para sempre em nossa memória.
    Beijão!

    ResponderExcluir
  4. kkkkkkkkkkkkkkkk
    adorei, branquelo!
    vc nao existe meeeeesmo!
    imaginei cada cena dessa!!!
    hahahahaha

    vc abra o olho qnd vier pra cá pq eu tb tenho a terrivel mania de dizer "é bem ali, homi".
    uahuahauhau

    *papito morou em barbacena (que eu ia escrever Barcelona O.o) e fala bem de lá até hoje!
    **vc falando de comida, me lembrei de vc contando de uma dia que foi pra algum evento com o coral e comeu horrores só pq era de graça!
    kkkkkkkkkkkk
    "Amo mto tdo isso"

    :D

    ResponderExcluir
  5. Seu texto me fez lembrar das visões que tenho das janelas quando viajo pelo interior de Goiás, meu estado natal. Só talvez não tenha tanta certeza de que foi deixado em Minas... E se foi em Goiás? ;)
    E essa começão de pão de queijo fez-me lembrar mais ainda do meu estado. Minha avó mora lá e faz pão de queijo, biscoito de queijo e umas outras coisas de queijo que eu A-M-O demais! Ai que vontade! E que saudade!
    Bjitos!

    ResponderExcluir

<< >>