Fragmentos de um dia qualquer

Parte 1: De quem é esse jegue?

Trabalhei pouco hoje. Sabem como é começar num emprego novo, né, burocracia, papelada, monte de exames, xerox e o diabo a quatro. Pois bem, fui liberado para correr atrás dos trâmites às dez da manhã e me larguei pro centro.
A caminho do ponto de ônibus, passei em frente a uma chacrinha. Ah, a paisagem bucólica do campo, vaquinhas pastando com parcimônia, deu até saudades de São Chico. Desacelerei os passos por alguns segundos, só pra sentir o cheiro da terra e tentar saciar um pouco da falta do meu paraíso.
De repente, vi ao longe um jegue de cinco pernas. Coisa mais estranha do mundo. Quinze passos depois, percebi o erro e, horrorizado, constatei: o praga do bicho não tinha quatro pernas coisíssima nenhuma. Ele estava excitado! Ficou mais claro ainda quando, talvez na hora em que ele pensou em sua mula amada, o "instrumento" do rapaz subiu e ficou dez segundos, eu disse dez segundos, colado à barriga. Coisa de outro mundo!
Vou dizer algo sério pra vocês, se o Kid Bengala encontra aquele jegue no banheiro, ele se aposenta. Cara, descomunal! Eu quero reencarnar em qualquer bicho, menos numa fêmea de jegue. Imagina levar uma ferroada daquela? Deus me livre e guarde!

Parte 2: Passeando de ônibus.

Odeio quando tenho que pegar uma linha de ônibus cujo roteiro eu desconheço. Fico meio apavorado, sem saber direito onde descer. Deve ser porque, quando era pequeno, minha mãe disse que, se eu puxasse a cordinha na parada errada, teria de descer ali, sem choro nem vela. E ainda há quem diga que crianças não ficam traumatizadas.
Quinze minutos esperando, e nada do tal de ônibus. Gotículas de suor começavam a brotar das minhas têmporas quando ele dobrou a esquina. Subi, paguei a passagem e, mais atento que gato negaceando passarinho, acomodei-me numa poltrona.
Dobra aqui, sobe ali, esquerda, direita, pronto, me perdi. Aquele motorista deu mais voltas que bolacha em boca de velha, impressionante! Vai ver o cara ganha por quilômetro rodado, só pode ser. A verdade é que fiz um tour por Novo Hamburgo, conheci meia cidade e, de quebra, achei uma linha que anda mais que o Vila Marte (essa, infelizmente, só vai entender quem conhece Novo Hamburgo).
Felizmente, desembocou no Centro. Mesmo depois de uma longa jornada, ainda cheguei a tempo de fazer o primeiro exame.

Parte 3: O pecado da gula

Aqui perto de casa tem um restaurante vegetariano, cujos donos são malasianos. Coisa linda é vê-los conversando em mandarim, ou chinês, sei lá, só sei que minha língua daria um nó ao tentar dizer "você pode me passar o arroz?". De qualquer forma, a comida é gostosa feito beijo de prima (pra quem tem prima bonita, naturalmente).
Eu já tenho o hábito de ser bom de garfo. Sendo a comida boa, barata e, o que é melhor, livre, tá feito o crime. Nunca sei direito o que são exatamente aqueles molhos e vegetais que servem por lá, mas não prezo pela cerimônia e construo aquele Everest no prato.
Comi feito um hipopótamo, essa é que é a verdade. Percebi que o Léo, meu companheiro de almoço, fez uma cara de espanto pra quantia que servi, especialmente porque quando fui repetir, servi quase mais que a primeira vez.
Como eu não jogo comida fora, tratei de limpar o prato. E, com isso, poupar minha mãe de fazer a janta, pois já são seis da tarde e ainda não cabe sequer um grão de arroz no meu estômago. Olina nele!

Parte 4: A arte de enfeiar-se.

Fui ao shopping largar o carro para fazer o segundo exame e resolver outras pendências. Ao atravessar a praça de alimentação, quase tive que esfregar os olhos para ter certeza de que os dois não estavam me aprontando um chiste.
Devia ser uma guria. Bom, era uma guria, tinha seios. Apesar que, nesses tempos cada vez mais modernos, onde pão não é mais pão e queijo não é mais queijo, quem duvida do improvável é louco. De qualquer forma, vou considerar que fosse um ser do sexo feminino. O fato é o que ela fez com o próprio cabelo. Da direita, eu via um cabelo curto, mais do que coice de porco. Porém, à medida em que passei para o outro lado, a dita melena foi crescendo, crescendo e, macacos me mordam, no lado esquerdo ele estava abaixo do ombro!
Com todo o respeito a quem comete essa atrocidade com o próprio cabelo, mas parecia a crina de uma égua velha, todo retalhado na diagonal, disforme, um horror. Lembrei daquela técnica que Da Vinci usou ao pintar a Monalisa, na qual, dependendo do ângulo que a pessoa olha, ela está sorrindo, ou não. Agora, por favor, precisava a guria puxar a excentricidade do Leonardo justo no cabelo?

Enfim, a verdade é que, se o cara parar pra analisar alguns detalhes do que acontece à volta, pode tanto se assustar com a genitália de um jegue, quanto descobrir cortes capilares pouco ortodoxos. E ainda há quem ache 24 horas pouco pra um só dia.

8 comentários:

  1. Simplesmente... Wonderful!!!! Hahahahahahahaha :)

    ResponderExcluir
  2. Amigo, preciso dizer que estava sentindo MUIIITA faltar de ler teus relatos MARAVILHOSOS!!!!!!rsrs

    MUITO BOM SEMPRE!
    abs.

    ResponderExcluir
  3. Show de bola!

    Dias como esse são sempre maravilhosos, ainda mais para nós blogueiros,que sei lá, temos um faro todo especial para coisas legais assim.

    E ah, cara, tem certos costumes (tipo esse da guria), que mesmo o cara mais tolerante torde o nariz, por que tá louco, vai ter mau gosto assim lá na Back in Black.

    Abraço!

    ResponderExcluir
  4. Há dias em que eu acordo assim, disposta a olhar tudo com calma e analisar cada coisinha que me rodeia...

    Pois é! Há cada coisa que a gente vê por aí...

    Beijão pra tu

    ResponderExcluir
  5. Quem tem olhar crítico e sagaz acaba percebendo coisas que ninguém enxerga, por vezes isso é trágico, em outros momentos é bastante cômico.
    Grande abraço

    ResponderExcluir
  6. tu faz milagres com os teus segundos, jesuisamado!

    ResponderExcluir
  7. kkkkkkkkkkkk
    e vc, como sempre, fazendo as historias ainda mais engraçadas e interessantes!
    huhuuhuh

    beeeeijoooo, meu branquelo lindo!

    ResponderExcluir
  8. Ai Antônio, ainda estou pensando no jegue.
    E tentando imaginar sua cara pedindo a para num ser a esposa de um jugue na proxima reencarnação.

    Você é otimo...

    BeijO

    Ps. Queria ver tbm o monte de comida da segunda rodada e o cabelo da menina. Nem morta faço uns trem desses no meu cabelinho.

    ResponderExcluir

<< >>