Um calor nada dominical

Dentre as várias imitações e personagens que sempre interpretei entre os amigos em nossas jantas e encontros, surgiu o tio Epaminondas. Trata-se de um senhor gordo, careca e bigodudo, que está sempre suando e, na maioria das vezes, usando um velho calção verde, daqueles antigos da Adidas, com duas listras brancas do lado.
Quando eu digo "sempre suando", leia-se vertendo água. O tio não é gaudério, pelo contrário, ele tem um forte sotaque germânico, mas é daqueles que dorme na geada e acorda empapado de suor. Não que isso o incomode, aliás, quase nada abala o humor contagiante do tio Epaminondas. A não ser que alguém invente de lavar seu velho calção Adidas sem avisá-lo previamente...

Certa vez, fazia um calor desumano em Novo Hamburgo. Aliás, dizer isso é besteira, já que o verão nessa cidade já é normalmente o próprio Apocalipse anunciado. De repente, meu celular tocou. Era uma mensagem do Léo (de blog novo, confiram!), que dizia: "cara, tô suando mais que o Tio Epaminondas".
Bah, sintomático. Realmente, estava de fritar ovo no asfalto, o que me fez pensar no estado do vivente. Quando cheguei na casa dele, encontrei-o atirado no sofá, suando em bicas e quase de boca aberta, como fazem as galinhas quando estão com calor. Deprimente.
Porém, gaudérios de marca maior que somos, fizemos um chimarrão e o apreciamos, mesmo no calor. Ala fresca!

Hoje é mais um dia desses infernais, nos quais o único pensamento a que sou remetido é encher várias panelas de água e enfiar os pés dentro. Sinto-me um peru de Natal, enrolado em papel alumínio e passando agradáveis quarenta minutos no forno.
É a minha vez de dizer que estou suando mais do que o saudoso Tio Epaminondas. Estou virado praticamente numa filial das cataratas do Iguaçu, transpirando a cântaros e desidratando a olhos vistos. A moleza é generalizada e desoladora.
Não há, portanto, outro assunto plausível a ser tratato, ainda que eu tenha inúmeros temas para discorrer a respeito. É ele, o vilão maior, o Leôncio da Escrava Isaura, a Odeth Roitmann climática, a Nazaré calorenta.
Parei alguns minutos para assistir aos desfiles das escolas de samba. Troquei de canal em dois minutos, pois comecei a suar só de ver aquele povo sambando. Banhos, já tomei cinco. Água, bebi um caminhão-pipa. É, definitivamente, o fim dos tempos que se aproxima, a começar pelo derretimento da população terrestre.
Bom, podia ser pior. Imaginem se eu fosse o Toni Ramos. Com aquele monte de pêlos (vejam como o acento diferencial é necessário) e nesse calor, o suicídio seria um dever. Oremos.

Vou tomar outro banho.

3 comentários:

  1. hahahahaha!!! Definitivamente muito bom! Pude dar muitas risadas durante a leitura.
    O calor realmente está insuportável! Metáforas perfeitas! Parece que eu estava ali, dentro do teu texto...

    Abração, Jéssica.

    P.S.: O acento diferencial com certeza é necessário. Observação muito bem colocada!

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  2. Tche, deveras hilário e bem colocado esse texto.
    Apenas uma observação: calção da Adidas não tem 3 listras ao invés de 2?
    Abração

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  3. Fez, realmente, muito calor... Mas eu nem reclamei, porque me ajudou a aproveitar muito a minha viagem. ;)
    Bjitos!

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