Apelidos

- E esse aqui é o Amarelo, meu amigo.
- Por que Amarelo?

É sempre assim. Cada vez que apresento o Amarelinho pra alguém, parece que um brilho extra brota nos olhos das pessoas, acompanhado de uma curiosidade sem igual para saber a mística que norteia tão original apelido. Com isso, seja quem for o estranho (ou a estranha, já que essa tática é usada normalmente tendo o público feminino como alvo), basta mencionar essa peculiar nomenclatura para inicar um dedo de prosa.

Sempre fui cercado de gente com apelidos. Certa vez, outro amigo quebrou a clavícula durante um entrevero formado na saída da escola. No meio do banzé, alguém o empurrou contra o cordão da calçada, ao que ele deu com as paletas na pedra e tirou esse osso do lugar. O que mais me impressionou, no entanto, foi ele pôr a mochila nas costas e, resignado com a dor latente, ir a pezito pra casa, como se nada tivesse acontecido.
No dia seguinte, me chega o vivente com meio corpo enfaixado. O andar dele era todo torto, sendo que ele já era um alemão alto, algo que lembrava uma ave pernalta. Diante daquela cena pitoresca, como que por impulso, sentenciei:

- Cara, tu tá igual a uma garça.

Foi caixão e vela. Até hoje o Garça é uma figura emblemática nas histórias da galera. Apresentei-o pro meu avô e, duas semanas depois, veio ele perguntando:

- Como que tá aquele teu amigo, o Ganso?
- É Garça, vô.
- Sim, sim, tem pena e bico igual.

E não para por aí. Até o ano passado, eu trabalhava num antro de apelidos. Ninguém escapava, todo mundo era conhecido por algum nome engraçado. Depois eu falo sobre o meu.
Tinha Bolão, Merenda, Foguinho, Manteiga, Jair (o nome dele é Anderson), Tubbies - de Telettubies, Catatau, Ned, Zeca Urubu e por aí vai.
Na época em que eu e o Renato começamos na empresa estava acontecendo a Copa de 2006. Desprovido de abundância capilar que era, não demorou uma semana para ele ser premiado com um nada criativo apelido: Zidane.
Aqui onde trabalho agora não é diferente. Espeto, Cláudia Leite, Bochecha, Peidinho e Senninha são todos meus colegas de trabalho, e confesso que demorei alguns dias para descobrir o verdadeiro nome deles.
No time de futebol em que jogo também temos apelidos em série. Vamos à escalação: Amarelo, Xebeco, Lúcio, Maiquinho e Bunda; Sula, Alemão, Rico e Bola; Cabecinha e Cesinha. Sim, sou reserva, não riam. Meu futebol não tem convencido o treinador ultimamente, mais conhecido, por sinal, como Geada. De qualquer forma, o importante é estar à disposição do professor e continuar trabalhando forte para conquistar o meu espaço dentro do time. Típico discurso de boleiro, hein?

Já eu, miseravelmente, nunca tive um apelido de fato. Nos tempos de escola, alguns colegas me chamavam de Toninho. Só que, além de ser apenas um diminutivo de Antônio, Toninho é também o apelido pelo qual meu pai é mundialmente conhecido, ou seja, não pegou. Noutra vez, um sacana de um amigo desandou a me chamar de Antônio Rapadura. Juro que até hoje desconheço o motivo, já que sequer levei rapadura de merenda pra aula alguma vez na vida. De qualquer forma, esse também não vingou e escapei de ter um apelido ridículo.
No meu emprego anterior eu disse que ninguém escapava de ter o seu. Pois bem, acabei sendo batizado pelo pessoal da produção. Permitam que eu conte a história.
Acontece que eu trabalhava com a Dani nessa empresa e, namorados que éramos, eu desfrutava de certas regalias por parte dela. Acepipes, por exemplo. Cada vez que ela ia ao mercadinho da esquina, voltava com algo pra mim. Profunda conhecedora de minhas preferências gastronômicas, quase sempre me agraciava com um iogurte, ao que eu degustava ali mesmo, na sala que dava de frente para a produção, reduto dos salafrários distribuidores de apelidos.
Certo dia, bateu a curiosidade: afinal de contas, será que só eu escapara ileso? Perguntei ao Bolão e, depois de muito relutar, descobri como eu era conhecido nas obscuras conversas que esgueiravam-se pelas engraxadas e ladinas línguas que ali labutavam: Danone. Tem base um troço desses?
Mas, como apelido só pega se o cara ficar brabo, tratei de levar na esportiva e, como nenhum nunca fixa em mim, o tal Danone acabou se perdendo na poeira do tempo. Não tenho, portanto, nenhum codinome, nada que me identifique junto aos demais que não seja o meu próprio nome: Antônio. Assim, sisudo, austero e robusto. Já acostumei, é verdade, agora até quando falo sozinho eu me chamo pelo nome. "Boa, Antônio, boa", eu digo pra mim mesmo.
Agora, se eu parar pra pensar com calma e lucidez, ter um apelido é nada mais do que um desperdício para a minha pessoa, uma vez que meus pais, ao me batizarem, resolveram tirar uma com a minha cara e defenestraram: Antônio Augusto Aguiar Dutra Junior. Sem o ponto final, é claro, senão, pelo tamanho, seria uma frase. De qualquer forma, posso não ter um apelido que inicie o assunto, contudo, se digo meu nome em meio à conversa, sempre vejo queixos caindo, olhos arregalando e uma pá de expressões incrédulas diante dessa nomenclatura imperial que possuo.
No fim do ano passado, estávamos em uma festa, até que chegou um cidadão se achando a bolachinha mais recheada do pacote, parecia um galo terra no meio dos garnizés. Peito estufado, nariz empinado, copinho de uísque, colar e camisa de botão entreaberta, um horror. Lá pelas tantas, ele cometeu o seguinte erro ao virar-se para mim e perguntar:

- E tu, magrão, qual é teu nome?
- Antônio.
- Antônio de quê?
- Antônio Augusto Aguiar Dutra Junior.
- Bahhhhhhhhhhh! - ao berrar essa interjeição, virou-se e foi-se para nunca mais voltar.

É por isso que, definitivamente, eu não preciso de um apelido.

6 comentários:

  1. O melhor foi o dia que eu perguntei se tu tinha apelido lá na Utz tbm e tu me disse que sim, todo indignado. E ainda completou dizendo que a culpa era minha... hehehe!Depois disso tu vinha beber o iogurte na minha sala, né?!

    hsauushsahuusahsausahuashau

    Ainda bem que não pegou o dito "danone", pq ô coisa bem feia!

    Beijo!

    ResponderExcluir
  2. Olha só, até hj eu sou o Zidane, Zizou, RG. Lá em casa me chamam de (?) Pulga. Mas isso só na casa dos meus pais. Aqui em casa, com minha esposa e filhos eu sou o Baby(sic).
    Mazáááááá!! Mas tu também é conhecido como AAA(Antônio Augusto Aguiar), Danoninho, Tonho.
    Tu esqueceu do Seu "PITU"? Cara, cada vez que ele entra aqui eu choro rindo!!!

    ResponderExcluir
  3. usaasuhahusahuhuasahusahuashuasuhsa

    Ri demais em algumas partes, cara. Votou comtudo hein?

    Eu sempre tive apelidos, mas nenhum venceu o tempo. Quando era pequeno, era Cabecinha, Prego, uma época fui Indio não sei o que do rei do gado, entre outros. Na escola tentaram me dar apelidos, mas também nunca pegava. Ano passado me deram um excepcional: paquito. Mas também não pegou. esse ano tem um promissor, que é o Cremoso. Sei lá por que. Mas me soa bem.

    Então é certo que também não vai pegar.

    Abraço!

    ResponderExcluir
  4. Realmente, com um nome grande desses e ainda esse monte de "A", não é pra qualquer um...

    Eu também nunca tive um apelido que ficou... Meu primo me chamava de Karina Margarina e eu fica chorando pela casa... hehehehehhee

    E é tãoooo bom te ler de novo... Fico feliz mesmo...

    Beijão

    ResponderExcluir
  5. É Branquelo, nao abro mao e nao se fala mais nisso.
    Ponto final.

    *eu tinha escrito "pinto final"
    hahahaha

    :****

    ResponderExcluir
  6. É Antônio e também não tenho apelido nenhum. Muitos foram arriscados mas nenhuma pegou e não sou muito diferente. Tenho quatro nomes e grandes por sinal... heehhehe...
    Beijão Tônio!!!! Aforo tu e estava numa saudade "arretada".

    ResponderExcluir

<< >>