Como nasce um amor?

A partida do meu avô, em fevereiro, significou para mim a desmistificação da morte. Julgava que fosse algo complexo, enigmático, difícil de entender. Não é. Pelo contrário, é algo fácil demais. À frente do caixão, você percebe e entende que é o fim, adeus, não tem volta. Aceitar é que são outros quinhentos, e daí provém a dor. Você não quer que aquilo aconteça e, com isso, gera todo o desconforto seguinte.

Se a morte é simples de compreender, me intriga o nascimento. O milagre da concepção de uma vida desperta minha total curiosidade, afinal de contas, é uma soma cujo resultado é a metade dela própria: dois geram um.
Mais ainda, deixa-me perplexo refletir sobre como nasce um sentimento. O amor, por exemplo. Como é gerado o amor entre duas pessoas? Qual é o momento exato em que dois seres descobrem que se amam verdadeira e eternamente?
Me vem à mente a comparação com a própria concepção de uma criança. Parto desse princípio, um lívido pimpolho. Um bebê, antes de ser bebê, é um embrião. Anterior a isso, um gameta. Uma semente. Ela percorre um longo caminho e deixa para trás várias sementes que não vingaram para encontrar uma casa onde, aconchegada, germinará.
Penso na paixão como semente. O amor, para mim, nasce dela. A paixão é fulgurante como um espermatozóide, é rápida, impulsiva, desmiolada. Sozinha, porém, morre. Então, eis que encontra o óvulo. Não o vejo propriamente como o amor, uma vez que esse sentimento é a união das duas partes das quais falo. Portanto, o óvulo seria um conjunto de necessidades básicas para aconchegar a paixão e, daí, formar o amor propriamente dito. Seriam elas o respeito, carinho, companheirismo, fidelidade, amizade, diálogo, enfim, uma série de pré-requisitos dos quais o embrião necessita para vingar.
Uma vez ocorrida a fecundação, acontece um milagre. A fúria da paixão encontra conforto no calor dos outros sentimentos e, de dois, da tempestade e da calmaria, nasce o amor.

Contudo, vejam que curioso: uma mulher não sabe detectar o exato momento em que engravida. Do mesmo modo, não percebe o homem o exato momento no qual engravidou sua parceira. É algo que ocorre sem concessão prévia, apenas acontece e pronto. Somente alguns dias ou semanas depois é que surgem os primeiros sinais.
Saberia, portanto, uma pessoa quando começou a amar? É fácil perceber quando não há mais amor. Acabou, tão somente, simples como a frieza da morte. Mas, e ao nascer? Como se dá a fecundação perfeita que encaminha a sintonia do amor verdadeiro?

Essa é a minha grande dúvida, uma curiosidade insólita e inquietante. Não há como evitar uma gravidez, a menos que se use métodos contraceptivos; logo, só se impede a geração de um amor a partir do momento em que algo é feito no sentido de bloqueá-lo.
Como primeira certeza, nesse caso, posso dizer que, para nascer um amor basta não evitá-lo. A paixão é escorregadia, lépida, sorrateira, ela sabe como percorrer os mais longos caminhos até atingir seu objetivo. Se não conseguir, será apenas mais uma paixão. Todavia, se encontrar um óvulo disposto a oferecer o que ela necessita para constituir-se em algo belo, haverá sucesso.

Concluo, assim, que um amor nasce da disponibilidade em deixar-se amar. Como uma criança é um milagre divino, também este fruto de que falo necessita de cuidados, de educação, apoio e vigília. Criar um filho é amar sem cessar, estou errado? Se for isso mesmo, criar um amor exige atenção redobrada, sempre pautada pelo curso natural da vida, com cada dia acontecendo de cada vez, desde a concepção, passando pela gestação e, após o nascimento, uma vida inteira pela frente.
Se um pai cuida de seu filho a vida inteira, quem ama cuida do seu amor também para todo o sempre. Não é possível controlar a hora exata de gerá-lo, mas necessita dedicação para o resto da vida, uma vez que será eterno. Se não for assim, não é amor. Ou não é verdadeiro.

11 comentários:

  1. Amor é isso, entrega, sacrifício, paixão, carinho, amizade...
    Nasce não sei como, vem não sei de onde, fica não sei porquê...
    Podemos ficar dias falando sobre isso, mas pra trocar mais idéias, só com um amargo bem cevado!
    Um grande abraço ao meu amigo mais Pau no Mato!

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  2. Taí, levantaste um debate em torno de um tema que beira uma das maiores complexidades que possuímos nas nossas vidas. Assim sendo, certamente não tenho uma resposta e muito menos uma opinião derradeira formada, mas acompanho seu racicínio frente ao fato. Ahh o amor. É como as mulheres, todos querem, mas poucos ententem.

    Belo texto.
    Abraço

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  3. .... Li e Reli... não a uma opnião de fato sobre o Amor, como nasce ou acaba... mas tu criou um texto com toda essa comparação.. e se nascer é ganhar vida .... Amar é Viver a Vida...

    Otimo Texto!
    Grande Abraço!

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  4. Concluo, assim, que um amor nasce da disponibilidade em deixar-se amar.Eu concordo e assino embaixo.

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  5. Gostei da parte da 'disponibilidade em deixar-se amar'. Eu perdi meus dois avôs no mesmo ano. Eu tenho uma certa dificuldade em pensar que eles não voltam mais apesar de não ter sido ligada a eles. Mas concordo com você sobre o amor. É só deixar ele chegar mansamente, sem oferecer barreiras.

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  6. Minha gente!
    inspiração chegou e ficou, hein?
    Nossa!

    fazia tempo que nao lia um texto teu tão profundo e que parece ter saído da sua caixola, com tanta facilidade.
    Lindo!

    Ah, deixa eu dizer uma coisa, antes que eu esqueça.
    Qnd eu escrevi sobre o Inter, a primeira pessoa que imaginei foi vc!
    hahahaha
    lendo e nao gostando!
    kkkkkkkkkkk
    deixa eu te dizer outra coisa, como nao sou gaúcha, me sinto mto bem torcendo pelos 2! tb gosto do azulão!
    hihihi
    :D

    Sobre o amor, bem...
    disso eu ando evitando falar. Depois de um moooonte de tropeço, prefiro pensar na crise mundial, em Obama, em moda...

    :**

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  7. Bah, guri! Ótimo texto!!!
    E, olha que triste, o lendo, principalmente este trecho que me tocou mais: "Se um pai cuida de seu filho a vida inteira, quem ama cuida do seu amor também para todo o sempre...", sabe o que eu pude concluir? QUE EU NUNCA AMEI! (tá, tirando meus pais e meus irmãos) hauahuahauahauahuahauahau
    Parabéns pelo o que escreveste!

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  8. Ootimo texto, nunca faria tal comparação, o amor é complexo, como a vida.

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  9. Fazia tempos que não lia um texto tão seu. Com as suas perfeitas comparações.
    O amor tem dessas coisas, é impossível explicar.
    Como disse Camões, o amor tem razões que a própria razão desconhece.
    Ele chega e como você disse precisamos cuidar pelo resto da vida para que ele cresça e torne-se eterno e verdadeiro.
    Beijão Antônio! Adorei te lê hoje.

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  10. o amor eh como um abcesso que esperamos uma drenagem para nos aliviar da dor intensa e profunda,.... ele eh o produto final da paixonite.........paixao eh dispertar atencao em alguem................ e ai, a atencao diperta fica memorizada, gravada que tanto quer sempre lembrar, tocar e estar perto dela/e... assim nasce um amor com requisitos necessarios... gosto, amizade, carinho, empatia, paixao, confianca, fidelidade e felicidade....................... bjsssssssssssssss calientes,,,,,,,,,,

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  11. o amor eh como um abcesso que esperamos uma drenagem para nos aliviar da dor intensa e profunda,.... ele eh o produto final da paixonite.........paixao eh dispertar atencao em alguem................ e ai, a atencao diperta fica memorizada, gravada que tanto quer sempre lembrar, tocar e estar perto dela/e... assim nasce um amor com requisitos necessarios... gosto, amizade, carinho, empatia, paixao, confianca, fidelidade e felicidade....................... bjsssssssssssssss calientes,,,,,,,,,,

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