O Homem Elefante

Certa feita, li um livro em inglês. Até hoje custo a crer que isso aconteceu, mas li. Foi para uma cadeira da faculdade, numa de minhas inúmeras tentativas frustradas de obter êxito nos estudos, nos idos de 2004, se não me engano. A cadeira, obviamente, era de Língua Inglesa.

Xeroquei todo o livro. Não façam isso, é crime. Já fui operador de fotocopiadora, pra quem não sabe. A grosso modo, o guri do xerox. Ganhava alguns centavos por cópia, não lembro direito quantos. Então, uma professora, alma piedosa dos guris do xerox, resolveu passar um livro para quatro turmas lerem simultaneamente. Aplicados e trapaceiros, vieram todos tirar cópias do livro inteiro, para meu deleite.
Ganhei uma fortuna naquele mês, algo exorbitante para um simples guri do xerox. Porém, como nem tudo são flores, um dia chega a bibliotecária, sorrateira como uma cobra que aparece no Discovery Channel, com uma cópia (!) de uma reportagem que dizia que xerocar livros inteiros é crime. Murchei. Meu período de Tio Patinhas terminava ali.

Bom, isso foi só um detalhe. Segui como um criminoso e fiz uma cópia do livro em inglês. Acontece que eu odeio o idioma dos americanos e britânicos, ou seja, jamais me imaginei lendo um livro noutra língua que não fosse a materna. Mas, vá lá, despi-me de preconceitos e picuinhas e passei a devorar o xerox.
The Elephant Man, esse era o nome. Quase um be-a-bá para iniciantes em inglês, consegui até, para minha apavorante surpresa, entender a história. O cara nasceu com uma doença rara e, por isso, tinha cabeça de elefante. Há um filme sobre esse livro, se não me engano.
No fim ele morre. Lembro bem do "ahhhh" que fiz quando li "broke your neck", ou algo do gênero, indicando que ele morreu quebrando o pescoço enquanto dormia. Sim, não sirvo pra jaguara no tal de inglês, apesar de não gostar. Estudar a língua desde a quinta série tinha que me render algum fruto, por mais esparso que fosse.

Certa vez, a professora do Ensino Médio dissertava sobre o verbo haver e perguntou:

- Alguém sabe o que é "is there"?
- É a menina da turma 210, professora - respondi prontamente.

Risadas. Nem ela aguentou. De fato, havia uma Estér na outra turma, a resposta não estava de todo incorreta, mas não ganhei o ponto, e sim uma bela advertência, acompanhada de "a Globo está te perdendo, Antônio". Num próximo texto eu conto sobre como é ser a vida inteira considerado o palhaço da turma. Quase um Corcorán.

Voltemos, porém, ao paquiderme do livro que fui obrigado a ler. Era um incompreendido, coitado. As pessoas não gostavam de conviver com alguém cujo rosto lembrava um elefante. Naturalmente, o preconceito era o centro da história, bem como os vigaristas que queriam levá-lo para o circo e fazer algum trocado às custas da nada ortodoxa aparência do vivente (como vocês podem ver, não lembro mais o nome dele e estou com preguiça de procurar no Google).
Lembrei de tudo isso principalmente por causa da solidão que a personagem transmitia. Mesmo rodeado de interesseiros e supostos amigos ao longo da trama, meu inglês de sala de aula detectou esse sentimento acentuado. Também, imaginem, ter cara de elefante. Quem chegaria perto de uma pessoa assim? Que não fosse do circo, no caso...

Bueno, é isso. Meio sem graça, mas foi a recordação da qual fui acometido nesse momento e, como minha escrita anda mais lenta que tropeada de lesma, julguei que não deveria deixar escapar a oportunidade. E também pra poder finalizar o texto dizendo que solidão é um sentimento muito ruim.

3 comentários:

  1. Eu gosto de inglês e um dia desses quero ler um livro nessa língua só pra ver como eu me saio.

    Sobre o teu comentário, vou deixar passar por que tu só tá tentando puxar meu sacfo por não ter ido sábado. A propósito, por que tu não foi?

    E sobre a solidão, é mesmo um sentimento ruim. Nos últimos dias estou me sentindo assim, rodeado de pessoas mas sozinho mesmo assim. Mais uma vez, to te dizendo então: se precisar de copanhia, estou aí. Um cinema, um shopping, ou um churrasquinho de gato pra sair mais barato, qualquer que seja o programa, se eu puder ir já to lá!

    Abração!

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  2. Comecei a estudar e aprender inglês por gosto, o que facilitou minha vida a hora que decidi fazer um curso para aprender direito.
    Nunca li um livro em inglês, mas leio textos em inglês todos os dias, porque trabalho com contratos internacionais.
    Bjitos!

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  3. Estudei inglês por 5 anos, hoje dou aulas...
    Sempre gostei.

    :*

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