Um dia perfeito para conhecer Ronaldo

Domingos de sol constituem uma partícula do paraíso que realmente provam a existência de Deus e manifestação d'Ele aqui na terra. Sendo no Rio Grande do Sul, então, o quadro da perfeição fica completo. O dia de ontem pode, perfeitamente, ilustrar o panorama descrito acima.
Porém, um domingo de sol pode tornar-se insosso se mal aproveitado. Há quem passe um dia desses dormindo, curando a ressaca dos embalos de sábado à noite e acorde apenas para rir das cacetadas do inexorável Fausto Silva. Outros trabalham, cortam a grama, lavam o carro, enfim, transformam a límpida e cristalina lagoa dominical numa efêmera poça d'água. Eu mesmo já gastei inúmeros domingos em cada um dos exemplos citados.
Ontem, contudo, quis o destino que meu dia fosse perfeito. Pouco depois do meio-dia, meu telefone tocou. Eis que surgiu um convite tentador para viajar até Porto Alegre e assistir ao confronto entre Grêmio e Corinthians pelo certame nacional. Julguei que seria uma boa oportunidade de apoiar meu time do coração, carente de palavras incentivadoras após a melancólica eliminação para o Cruzeiro na Libertadores, ambição máxima do tricolor gaúcho para 2009.
Combinamos tudo e fomos, o Biriba, o Amarelo e eu. Cabe frisar que, dentro da capital dos pampas, sou facilmente comparado a um cachorro que caiu da mudança, ou seja, se me girar quinze vezes e mandar eu voltar pra casa do miolo de Porto Alegre, certamente precisarei de muitas informações, ou de um táxi solidário.
Disse o Biriba que conhecia o caminho, que seria barbada de chegar ao estádio Olímpico e talicoisa. Toleimas. Dei-me conta da furada quando ele disse que seguiria o carro da frente, já que havia uma bandeira do Grêmio nele, o que, contando com a sorte, nos levaria ao local da partida. Pior ainda foi quando o dito carro seguiu em frente num cruzamento e o Biriba, numa manobra que até agora não entendo por que ele fez, converteu à esquerda, imergindo-nos junto ao caótico trânsito portoalegrense - e já nem sei mais como se escreve portoalegrense depois da maldita reforma ortográfica.
Todavia, era domingo e de sol. Nada abalava meu humor, uma vez que eu estava a poucos quilômetros de apoiar meu time no estádio e, se os deuses do futebol quisessem, empurrá-lo para uma vitória.
Foi sofrido, chulhado, foi na unha. Não o jogo, mas chegar até ele. O Biriba demorou, mas admitiu que também estava perdido. Acometido por uma vergonha do tamanho do seu nariz, e olha que ele tem um nasa de fazer inveja a qualquer turco, parou o carro e pediu informação. Não sei por que alguns homens conservam esse orgulho besta de não querer pedir socorro quando se perdem, eu não sou assim. Se já tô na merda, pra que sapatear? Paro no primeiro posto e peço ajuda mesmo, antes chegar mais rápido, do que tentar provar que sou algo que não sou, já que vim sem bússola de fábrica.
Chegando no Monumental, depois de darmos mais voltas que bolacha Maria em boca de velho, havia uma fila quilométrica para comprar ingressos e faltavam apenas quinze minutos para o jogo. Cambistas, aí vamos nós! Pedi pro Amarelo, com toda sua protuberância corporal, partir para a pechincha com algum deles, mas o que o rapaz tem de grande, tem de arredio. Como Pau no Mato é Pau no Mato, peguei a carteira do vivente e parti pra peleia. Conheci, então, o poder de hipnose que uma nota de cem reais exerce sobre um brasileiro. Quando mostrei a garoupa pro tiozinho, enxerguei pela primeira vez o pivô amarelo manifestar-se, solitário, num breve sorriso ganancioso. Ou dá, ou desce. Ele deu. Ingresso na mão e cambista feliz, que beleza.

Bom, agora pára tudo, e pára com acento, porque ainda não me conformo com a extinção do acento diferencial, um verdadeiro acinte à Língua Portuguesa.

Após essa breve introdução, devo contar um pouco sobre o que sente um amante do futebol quando sabe que vai, pela primeira vez, ver de perto o maior artilheiro de todas as Copas do Mundo de futebol: Ronaldo, brilha muito no Corinthians.
Desde que aceitei o convite para assistir ao jogo, saber que veria Ronaldo Nazário de Lima jogar ao vivo, a olho nu, sem dúvida foi uma motivação a mais. Meu pai deve ter sentido o mesmo em relação a Falcão e Zico. Digo isso, meus caros, porque um apreciador do bom futebol enche seus olhos quando assiste a um jogador diferenciado, e Ronaldo, guardadas as devidas proporções e características próprias, assim como Zico e Falcão, é um jogador de exceção. Pode estar gordo, pegar traveco, matar treino, falem o que quiserem, mas ninguém torna-se o maior artilheiros de Copas do Mundo por acaso. O cara é, com todo o respeito, foda. E com orgasmos múltiplos.
Ao entrarmos no estádio, acontecia justamente naquele momento o famigerado minuto de silêncio. E, diante da quietude, foi a silhueta obesa de Ronaldo que enxerguei dentro do campo, ignorando os demais vinte e um jogadores que ali estavam. Às quatro da tarde do dia doze de julho de 2009, realizei um sonho de infância: vi um craque de perto.
A bola rolou e o sonho esvaiu-se em meio ao meu gremismo acentuado. É claro que admiro o cara, mas jamais gostaria de vê-lo marcando um gol no Grêmio. Como todos sabem, era um domingo de sol no Rio Grande do Sul, ou seja, o gordo não teve vez. E, de fato, não precisava o Ronaldo jogar bem, eu apenas queria vê-lo de perto, dominando uma bola, dando um passe, tomando um cartão amarelo. Vibrei ao ver que o Fenômeno é humano, também perde, é de carne e osso como todos nós. Pode, sim, um homem comum executar o que ele já fez brilhantemente nos gramados europeus. Esbravejei ao contemplar meu tricolor fazendo três a zero, ao natural, justamente no algoz do co-irmão na semana passada. Carimbamos a faixa deles, e com que mestria!
Depois de regozijar-me fartamente com o maiúsculo resultado conquistado pelos comandados de Paulo Autuori, retornamos para casa felizes, satisfeitos e sorridentes. E eu, que andei tão desacreditado das benesses dessa vida, pensando que tudo tem gosto de rúcula e rabanete, pude novamente desfrutar de um dia bom. Simplesmente bom. Humanamente bom. Um agradável, irretocável e emoldurado domingo de sol no Rio Grande do Sul.

4 comentários:

  1. Cara! É emocionante ouvir o grito da geral, assistir a avalanche (eu tenho medo de participar e ser pisoteada), cantar o tempo inteiro! Maravilha ser gremista, paraíso aquele imortal!!!

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  2. Opa!

    1) Parece que eu só venho aqui quando posto no meu blog, e é verdade. É o que eu faço em todos os blogs, mas no teu é irresistível ler todos os posts que eu perdi.
    2) Muito bom o post do Valmir. Tuas tiradas são sempre as melhores!
    3) Já que tu mesmo chegou a conclusão de que as coisas não tem gosto dee rúcula, então não vou comentar o texto abaixo.
    4) Só tu mesmo pra meter no texto ali o "brilha muito pelo Corinthians. Um colega meu, ao ser desfiado, conseguiu botar isso no meio do debate de filosofia/sociologia sobre tecnologia. Não, não lembro como.
    5) Cem reais!? É por isso que eu só olho jogo da seleção, e pela televisão. (embora esteja mais por dentro das cosias agora, sei lá por que)

    Era isso, maninho, nos vemos uma hora dessas!

    Abraço!

    PS: fiz o texto sobre a morte, inspirado naquele que tu diz como que que façam as coisas no teu velório. Dá uma olhada lá, ;)

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  3. Meu Branqueeeeeeeeeeeeeeelo!
    oooootimo post!
    adoooorei! uahuahuhauhauahuahuahau

    Se eu te disser que pensei exatamente isso ("como aquele Branquelo mora no RS, torce pro Grêmio e perde um jogão desses?"), vai parecer que to inventando?
    Pois é a mais pura verdade!

    Eu nao torço pro Corinthians (iécow!), mas sou do RFC - Ronaldo Futebol Clube - assumidamente. Sou doida pra ve-lo jogar assim de pertinho! Falem o que quiserem, mas Ronaldinho é Ronaldinho!
    (sim, eu ainda o chamo no diminutivo).

    :***

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  4. Ronaldo. Eu gosto dele até. Não do time, mas dele. rsrrs

    Beijos. Saudade

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