Gauchinha Bem-querer

Véspera de Natal... Todas as pessoas, a essa hora, devem estar cuidando dos preparativos para a ceia, a celebração em família desta data que move multidões, seja no âmbito comercial, seja porque o coração fala mais alto e sugere um clima de harmonia.
Não nego que passo por um bom momento, pelo menos profissionalmente. A própria vida, de um modo geral em termos psicológicos, está tranquila. Mas, como minha pirâmide tem três pontas, me falta o teu amor, não adianta. É um pedaço a menos, uma parte que falta e que não me permite estar conformado.
Dessa forma, enquanto a maioria procura gerir as celebrações natalinas, eu sigo pedindo ao Papai Noel um presente que não cabe num embrulho, que não se envia por Sedex. Queria, de verdade, um olhar, algumas horas de conversa. Talvez um abraço, se não for muita pretensão. E duas colheres de carinho, ultrapassando as barreiras da audácia.
Para minha desilusão, há alguns anos descobri que Papai Noel não existe. Foi traumático, porém necessário. Com isso, um dia como o de hoje me sugere muitas lembranças, recordações boas de tempos passados que, enquanto não voltam, servem de consolo para que eu não pense que a vida foi em vão.

As gaudérias tocam sem cessar por aqui. Tenho preferido as mais calmas, pois, acompanhadas de um mate, me levam para longe... Por outro lado, quando toca uma vaneira, ou, principalmente, um chote, é impossível não te sentir rodopiando ao meu lado.
A propósito, lembra do primeiro baile em que fomos juntos? Sinceramente, apesar de muito me esforçar, não consigo lembrar quando foi. Apenas me vem à mente nós dois no salão dançando a noite inteira, suando em bicas e aprimorando a sincronia que nunca atingi com mais ninguém.
Aliás, que parceira de bailes! Não lembro de uma mísera recusa, jamais! Sempre disposta, por mais cansada que estivesse, não recusava meus convites para dançar mais uma vaneira. Na rancheira, então, que pavor! Fazer o quê, se me baixa o santo nessas horas e desato a corcovear feito um redomão com a cincha nas virilhas. Quando ela chegava ao final, teus pezinhos pediam clemência aos céus, e eu te dava o tempo suficiente de descanso, pelo menos até que tocasse o próximo chote.
Ainda não conseguimos, por sinal, entrosar esse ritmo trocando os pares com os guabirovas. A única com quem consegui foi, pasme, minha irmã. Mas isso só aconteceu porque eu finalmente prestei a atenção na marcação do Lauro e do Luís, e agora consigo acertar o tempo certo de figurar e, em seguida, executar a troca. Não tem erro, tu vai pegar direitinho, tenho certeza.
Quantos elogios recebi de nós dois dançando. Paramos algum baile com nossas figuras afiadas, principalmente depois que fizemos aquele curso de aperfeiçoamento. Bastava uma palavra, um rápido olhar ou um movimento de mãos, para que tu soubesse exatamente qual seria a próxima figura. Pena que já esqueci as mais legais... Também, quando foi nosso último baile? Na Várzea, em janeiro? É, faz tempo.
O mais demorado para assimilarmos foi o tal de chamamé. Um pouco por preguiça, já que, no início, quando o ritmo iniciava, nos retirávamos da sala. Por incrível que pareça, tive que aprender na marra, pra dançar lá em Minas pelo coral. Agora, nem chamamé eu recuso mais. Mesmo assim, os trancos e barrancos contigo foram o máximo de sincronia que eu já atingi. Agora que estou mais seguro, tenho certeza que daríamos show também nessa hora.
Valsa, que tédio! Milonga, nem pensar. Não gosto, coisa mais lenta que tropeada de lesma. Uma polonésia pra variar, de vez em quando, um bugiozinho marcado, contrapasso pra relaxar e, claro, dezenas de vaneiras. Às vezes, treinando o dois-e-um, só pra dificultar, variar um tiquinho. De qualquer forma, dançar a noite inteira sempre foi o nosso lema.
Quem diria que, em quinze anos por aqui, te tornaria tão bela prenda. Se a pessoa não souber, afirma categoricamente que trata-se de uma legítima gaúcha. E é, se paramos pra pensar. Sei que tu leva a tradição no coração, mesmo ele tendo um espacinho catarinense. Me orgulha imensamente sempre receber os teus elogios quando estou pilchado, que tu diga que fico lindo de bota e bombacha. Quantos minutos tu perdia ajeitando minha camisa, né? Eu e minhas manias de perfeição...

E pensar que, todo esse texto nasceu, curiosamente, de um chamamé, o ritmo menos frequente. Estava aqui, de bobeira, pensando que amanhã é Natal, e do quanto eu gostaria de estar contigo nesse momento. Tantas vezes que eu defendi o cada um pro seu lado, e tanta vontade que eu tenho hoje de passar todos os Natais que virão na minha vida junto contigo, seja onde for. Um ano aí, outro aqui, sei lá, a gente resolve. Todo mundo muda, por que eu não posso mudar? Ainda mais se for pra melhor, se for para contribuir.
Mas, como eu dizia, quando escutei a letra dessa música, como tem ocorrido o tempo todo ultimamente, logo lembrei de nós. Mais pelo título, "decisão", do que pela letra, ainda que ela também seja eloquente. Tu sempre me cobrou tanto isso, que eu tomasse jeito, que me decidisse e tivesse rumos e objetivos definidos, que agora optar por isso tem sido minha maior convicção. É o que eu quero ser, não tenho que ser obrigado a nada. Sem que ninguém tenha me pedido, tu é minha prioridade e, mesmo que isso não me leve a nada, é a minha decisão. Por isso, a letra abaixo vem a calhar.

E, quem sabe, quando não mais tivermos pernas para bailarmos vaneiras, chamamés e figurarmos tantos chotes, possamos, pelo menos, dançar uma valsinha serena, mais ou menos desse jeito aqui.

Feliz Natal. =)


Decisão
(Tchê Garotos)

Eu agora estou decidido
Que esta paixão não vou mais calar
Resolvi, de hoje em diante,
Eu faço tudo pra te mostrar
Esse meu sentimento forte que eu quis disfarçar
Vem mais perto, olha nos meus olhos, pode confessar
Que aí dentro seu coração também quer ser meu,
E quer compensar o tempo que perdeu

A minha vida é te amar, sei que vou conseguir
Te guardar nos meus braços para não mais sair
Te apertar contra o peito e poder sentir mais forte
O pulsar do teu, do meu coração

2 comentários:

  1. Ô querido... Sabe que eu passei meses em PoA querendo conhecer Tchê garotos e não fui? Não conheci?
    E agora daqui do Rj é que fica difícil =P
    Enfim... Cheguei tarde pro natal, mas eu explico: ando ausente dos blogs mesmo, tenho acompanhado apenas pelo Reader. Mas é Ano Novo, né? Milagres não acontecem só no natal kkkkk
    Vim te desejar bons ventos em 2010 =)

    Aproveito pra contar um mico que eu paguei por tua causa! outro dia, no orkut, um amigo meu, tbm chamado Antonio estava fazendo aniversário! Não me pergunte porque, eu achei que era vc e deixei no scrap do cidadão uma coisa que vc entenderia, mas ele não: o parabéns pra vc gaudério!
    Enfim... mico revelado, o menino não entendeu mas achou legal o tal dos "parabéns diferentes" e eu achei melhor não explicar!

    Agora me diz: que raios de dia é o SEU aniversário?
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


    BJOS ENORMES

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  2. Ê! Que saudade disso aqui!!
    Acho que agora estamos todos de volta, certo?
    Beijos

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