O Ataque do Chuveiro Maldito - Parte 2

Bueno, dizia eu que acabara de desligar o telefone. Lhes disse também que mamãe está em férias, ou seja, ela viajou para a casa dos meus avós e, desnaturadamente, deixou-me casereando aqui nessa sucursal do inferno, onde faz o calor do cão chupando manga. Abandonou logo a mim, que mal sei lavar minhas cuecas, que passo a iogurte e suco Frukito, que para ter uma refeição balanceada compro pizza e Coca-Cola. Com Trakinas de sobremesa. Nesse ritmo, se ela não voltasse logo, acredito que eu duraria longos dois meses.
Quando nos despedimos lá em São Chico, ela contou-me que havia um problema no chuveiro, já bem conhecido de todos nós, por sinal: ao invés de água, vinha saindo algo parecido com lava vulcânica. Como por aqui a sensação térmica não tem sido nada gélida, água quente mais clima quente resultam em litros de suor que perco diariamente.
De todo modo, chamei o cara que sempre conserta as coisas que um homem deveria consertar aqui em casa, como o chuveiro por exemplo. Ora, mamãe é o homem da casa, e sem ela é impossível consertar esses troços complicadíssimos. Passo longe de resistência de chuveiro, lâmpada queimada. De lida de campo eu entendo, fosse pra curar uma bicheira nos cachorros, certamente seria uma tarefa fácil. Contudo, pra Severino eu não sirvo.
O tiozão veio prontamente e deixou o chuveiro nos trinques, agora posso me esbaldar no banho mais faceiro que tico-tico na chuva. Esse foi, por sinal, o motivo da ligação que fiz para minha mãe, justamente para contar a boa nova, pelo menos para os próximos três meses.
Contudo, qual não foi a minha surpresa ao saber que mamãe havia omitido um detalhe de suma importância: o chuveiro quase havia matado ela e meu irmão quando eu estive fora no fim-de-semana. Pelo que ela contou ao telefone, estava meu maninho fazendo sabe-se lá o que em mais um de seus banhos pra lá de prolongados quando, subitamente, o chuveiro começou a bufar como um carneiro raivoso. E olha que um carneiro raivoso sabe ser coisa feia de se ver.
Diante daquela situação inusitada, meu irmão, cujo pudor precoce faz com que ele não apareça nu à frente de nossa mãe já há algum tempo, aparecesse com os balangandãs de fora no corredor, com os olhos mais arregalados que de uma ovelha tosada (estou com tendências ovinas hoje). Ao tomar partido da situação de emergência, mamãe contou-me que encarnou Usain Bolt e, como um guepardo faminto por antílopes, desembestou rumo ao contador de luz para desligar a chave.
Pausa para uma reflexão. Em vinte e quatro anos de vida, devo ter visto minha mãe correr umas... três vezes. E, mesmo assim, num ritmo pouco afeito à velocidade, com a parcimônia típica de sua personalidade geminiana. Ou seja, por mais que eu me esforce, não consigo visualizar a cena de minha mãe correndo feito uma Márcia Narlock da vida. Mas, segundo palavras próprias dela, jamais imaginou que possuísse tamanha velocidade. Rio 2016, aí vai minha mãe!
Passado o susto do chuveiro bufante, a chave foi ligada novamente. Fazia um calor absurdo na Capital Nacional do Calçado. Naturalmente, foi a vez dela banhar-se. Nada demorado, é claro, mas igualmente necessário.
Esse é um momento da história difícil de imaginar. Diz ela que pelou-se e foi para baixo do chuveiro. Pausa número dois para reflexão. Alguém aí tem o costume de ver sua própria mãe nua? Caramba, mães não ficam peladas! Minha mãe, por sinal, é virgem! Não, não posso, me nego, é uma cena impossível de ser vislumbrada.
Passado o desabafo, prossigamos. Por via das dúvidas, com tarja preta nas partes íntimas e invioláveis de mamãe. Ao ligar o chuveiro, uma lufada d'água escaldante abateu-se sobre sua barriga. O ventre casto e iluminado de minha genitora, sacrilégio! Ainda assim, gargalhei quando ouvi essa parte da história. Imaginei-a saltitando feito um canguru com cirrose hepática, arregalando os olhos igualmente feito meu irmão, tal qual uma segunda ovelha tosada, de língua de fora, assoprando a própria barriga e praguejando o malfeito chuveirístico. Quando eu era pequeno, às vezes tocava uma música mais animada no rádio e mamãe saía dando pinotes exóticos e desconexos. Sempre achei aquilo o máximo, ficava imaginando de onde ela tirava tamanha criatividade. Com o tempo, descobri que, sendo filha do João Maria, é tudo instintivo e nada planejado. Some isso à queimadura na barriga feita por um chuveiro assassino, e temos uma vídeo-cassetada. Com tarjas pretas.
Rimos aos borbotões no telefone, principalmente porque as narrativas dela sempre são recheadas de teor cômico, novamente não planejado, mas fruto da veia humorística que permeia esse lado da família que, de tão engraçado, torna até as tragédias divertidas. Resta agora saber até quando durará o chuveiro novo. Oremos.

2 comentários:

  1. Se é o que eu estou pensando que aconteceu com o chuveiro, o melhor nem é desligar a energia elétrica, o mais indicado seria auimentar a pressão da água ao máximo. O chuveiro bufa quando ele continua esquentando apesar de não haver mais água para esquentar.

    Mas cara, muito engraçado o texto! Os dois! E bem escritos! Quem é que consegue isso? Bem escritos e engraçados, vai se ferrar, no bom sentido, hehehe.

    E como é essa história de que "quem passou pela adolescência sabe"? Eu não sei de nada [emoticon assobiando]

    Abração!

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