O que tiver que ser será

"É tão dificil entender
Que eu já não vejo em você
Aquele alguém que eu conheci
E me apaixonei
Já não consigo suportar
Você querendo me tocar
O meu desejo, a sua voz
O que aconteceu?"

(Marjorie Estiano)


Devo confessar que, ultimamente, intriga-me a seguinte questão: o que leva alguém a deixar de amar? É possível fazê-lo?
Desde que me conheço por amante, ainda que de maneira condenável e duvidosa, nunca consegui abandonar o sentimento forte que abalroou-me de tal forma, que passei a chamá-lo de amor. Tentei, é bem verdade, porém não obtive sucesso, talvez porque minha concepção de amar alguém seja algo tão ratificado dentro de meu coração, que soa quase como que impossível o pensamento de viver longe de quem se ama.
No entanto, sei que sou exceção. A maioria das pessoas consegue amar duas, três, várias vezes durante a vida. Há quem case várias vezes, quem demore para encontrar o grande amor de sua vida, ou mesmo quem jamais consegue encontrá-lo. Ultimamente, tenho lutado para não fazer parte do grupo daqueles que perdem a pessoa amada para sempre.
De qualquer forma, se o quadro assim prosseguir, sei que algum dia terei que desamar. Para continuar a vida de maneira saudável, será necessário que esqueça quem foi durante tantos anos e ainda é tão importante na minha caminhada. Precisarei riscar, parar de recordar e, inclusive, restringir o contato o máximo possível, de modo que com o tempo já não enxergue mais nela a mulher que quero tocar, amar e fazer feliz.
Enquanto não parto para essa atitude final, e sublinho que a evitarei tanto quanto puder, pergunto-me, novamente: como é possível isso? As pessoas dividem suas vidas durante anos, trocam juras de amor e, de repente, não vêem mais naquele indivíduo alguém que seja digno do seu sentimento verdadeiro. Alguém argumentará que existem surpresas desagradáveis, decepções e erros que comprometem a estrutura da relação. Tudo bem, argumento aceito, isso lá é bem verdade.
Mas, e os amores imaculados? Aqueles que todos admiram, que parecem mesmo ser para sempre, já que não têm em sua história algo drástico, capaz de provocar terra arrasada na relação. Como se faz para esquecer um desses? Acorda-se pela manhã e, ao abrir os olhos, acontece a mudança? É assim que ocorre?
Não sei. A bem da verdade, penso que o turbilhão das dúvidas gera tanto desgaste, que chega um ponto em que o cidadão cansa de amar. Isso não deveria ocorrer, amor de verdade tinha que ser para sempre, mas nem sempre é. Com ou sem explicação, ele termina. Por mais que especulem, esperneiem, insistam, não tem jeito, vai pro brejo.
Por enquanto, fazer o quê? Se até as mães dizem que o tempo é o senhor da razão, quem sou eu para questionar, não é mesmo? Sigo aqui, amando, não sei por quanto tempo, nem a quem, nem sei se a mim. Ainda assim, preciso amar, é meu combustível. Preciso de uma mulher que me precise, que me queira e me aceite. Se não for quem penso que deve ser, há de ser outra, e há de merecer ainda mais, pois terá superado aquela que eu considerei o ápice de meus sentimentos. Enquanto isso, o que tiver que ser, será. Mesmo que, no fim, não seja.


Participando da postagem coletiva da semana.

4 comentários:

  1. Nossa, fiquei tão feliz com sua visita e seu comentário no meu blog!
    Suas palavras também são lindas e me fizeram pensar...
    Sabe, o amor em si é para sempre. Não adianta você dizer que não, por mais que se esforce você vai levar aquela pessoa para sempre dentro de você. Acho que talvez seja esse o sentido. Quando amamos, nos entregamos, abrimos nosso coração e a pessoa entra ali, fica marcada, não tem como tirá-la dali. Tem como amar outra, e outra. Mas todo mundo marca, todo mundo leva um pouco da gente e deixa um pouco de si.
    Já tive pelo menos dois amores e foi muito complicado escolher entre eles, só consegui porque meu coração me mostrou que aquele amor que tinha me feito sofrer tanto (o do texto do blog) tinha deixado de ser o maior, mais belo, mais forte.
    Só sei viver se for de amor. Estou sempre apaixonada, pela vida, pelas pessoas, por amigos. Sou intensa.
    Espero que tenha conseguido facilitar as coisas para você, estou seguindo!
    Beijo!

    PS: Adorei o 'Traço a traço'.

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  2. Amor sempre fica, porque marca. O Passado existe.

    Porém, pode ser que as vidas não sigam juntas, por muitos motivos. Acredito que a explicação para isso seja a do Vinicius: "Que não seja eterno, posto que é chama. Mas que seja eterno, enquanto dure".

    Abraços

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  3. Dá vontade de repetir aquela frase do depoimento: histórias de amor deveriam ser eternas.

    Sabia que tu não ia me desapontar nessa postagem coletiva, Ton!

    Beijo

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  4. Tuas belas palavras lá no meu post fazem com que as minhas sejam insossas.

    Tantos questionamentos num texto só... A aflição daqueles que amam é saber onde estará o fim, queremos conhecê-lo, mas será que mudaria algo ou aproveitaríamos melhor esse momento dito “único”?

    O ápice do amor ou da felicidade?

    Obrigada pela visita! Belo post.

    Beijos
    ;*

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