O maravilhoso mundo alternativo do meu irmão caçula

Quem acompanha este blog há algum tempo certamente já contemplou inúmeras citações minhas a respeito do meu irmão caçula, o guri mais maravilhoso da minha vida, o único homem que eu realmente acho bonito além de mim.
Ainda que a pré-adolescência o esteja tornando um tanto rebelde - fato este que ratifica o surgimento de meus primeiros fios brancos - continuo amando o infante com todas as minhas forças, afinal de contas, já tive onze anos e sei o quanto essa fase mexe com a(s) cabeça(s) da criançada.
No entanto, algumas de suas características me chamam muito a atenção. Desde pequeno que ele parece, em dados momentos, viver num mundo alternativo, fora da realidade pétrea que a sociedade nos entrega. Por exemplo, ele se desliga facilmente das conversas dentro de casa. Daí, quando uma palavra desperta seu interesse, pergunta no mesmo instante do que se trata, mesmo tendo escutado tudo o tempo inteiro.
Sentado no sofá, ele fica pulando e inventando músicas. Não, não é autismo, é um guri absolutamente normal e inteligente. Mas, sei lá, a cabeça dele é inventiva de tal forma, que ele viaja mesmo sem fumar orégano e capim com cravo. O mais engraçado de tudo é que, se a gente pergunta de que se trata, ele desconversa e finge que não estava fazendo nada.
Até aí, alguém poderá dizer que eu tenho um pequeno doido dentro de casa e não quero admitir. Toleimas, o piá é normal, não se preocupem. Tá cheio de gente por aí que come tatu, limpa o forévis e cheira, torce pro Internacional e cultiva tantos outros hábitos estranhos, e mesmo assim passam em concursos públicos, filiam-se a partidos políticos e, pasmem, às vezes até governam algum país.
O fato é que, ultimamente, detectei um fato pra lá de engraçado. Aliás, não pago impostos pra rir da cara dos outros. É sério, adoro rir de fatos impróprios. Certa vez, deu-se uma tormenta lá na fazenda do meu avô e, numa lufada trepidante de vento, a porta do galpão veio abaixo. Espiei pela janela apavorado e enxerguei meu avô prostrado em frente à porta caída, coçando a cabeça. Imaginei que ele estivesse proferindo seus famosos impropérios, algo do tipo "mas é uma merda de bosta" , e fui correndo até lá conferir. Cheguei de mansinho e, dois segundos antes de cair numa gargalhada de assustar siriema, ouvi o vô xingando:

- Mas é uma merda de bosta!

Bueno, mas voltando ao caçula aqui da casa, descobri que ele fala sozinho. Tudo bem, sei que todo mundo fala sozinho de vez em quando, tem até comunidade do Orkut pra isso (o que é irrelevante, pois há comunidades para absolutamente tudo por lá). Todavia, as conversas do guri são hilárias. Ele fala como se tivesse um amigo imaginário. Conjectura fatos, conversa animadamente sobre jogos eletrônicos, conta fatos da vida dele, argumenta, enfatiza, delibera. Parece um programa da Tv Senado!
Se dou um flagrante, ele envareta e pergunta o que eu quero, o que estou fazendo ali. Sente sua privacidade invadida, sei lá, vai ver o amigo imaginário vai embora nessas horas. Mas é incrível, me dobro de rir escutando as palestras, ontem mesmo ele discutia com autoridade sobre os gráficos de um jogo, quase entrei em colapso de tanto rir.
Em verdade, vos digo: eu invejo meu irmão. Queria sair de órbita, conversar com seres imaginários e desligar dessa vida real que, de engraçada, não tem nada. A menos, é claro, que falemos das peripécias impagáveis do meu avô. Mas isso já é assunto pra outro dia...

2 comentários:

  1. Adorei.. é tão raro irmãos mais velhos que gostam e invejam os caçulas.. é triste.. mas não faço parte dessa camada rara.. Mas enfim.. eu gostei.. e tenho também, as vezes vontade de me desligar do mundo e agir como se tivesse 11 anos. ;)

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  2. Sair de órbita deve realmente ser maravilhoso. Como não consigo, vou dormir, assim não penso. O ruim é ter que acordar depois...

    Beijos

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