Uma das milhões de análises da derrota na Copa do Mundo

A eliminação da Seleção Brasileira numa Copa do Mundo pode ter dois enfoques distintos: o lado passional, com todas as suas ramificações radicalistas e analíticas, e o racional. Como brasileiro e amante do futebol enquanto esporte, não há como deixar de escrever a respeito, ainda que nos últimos dias meus palpites tenham sido todos em tom de chacota no Twitter.
A batida forte do coração faz do brasileiro um eterno comentarista futebolístico. É fácil encontrar um Paulo Roberto Falcão em qualquer esquina dos nossos bairros. Num momento como esse, então, até mesmo quem não costuma palpitar acaba dando o seu parecer, na maioria das vezes negativo e atentando contra a integridade da mãe do técnico.
É claro que também tenho as minhas considerações emocionais. Não torci para o Brasil como em outras Copas. Sei lá, foi um sentimento diferente, venho acompanhando essa Copa com certa neutralidade. Isso se deve às convocações de Felipe Melo e Michel Bastos, dois jogadores que estiveram na pífia campanha do Grêmio em 2004, ano do rebaixamento gremista, borrão vergonhoso sacramentado na gloriosa história tricolor. Não engoli desde o início a presença desses sujeitos no escrete brasileiro, o que deteriorou meu sentimento ufanista em relação ao triunfo dos comandados de Dunga.
No entanto, a cada vez que tocou o Hino Nacional Brasileiro, obviamente me arrepiei. Estavam ali Júlio César, Lúcio, Juan e Maicon, jogadores que eu admiro e respeito. Torci por eles, vibrei em alguns de seus lances. Porém, no conjunto da obra, eu continuava descrente do título, e quem conversou comigo durante os últimos tempos sabe que este não é um comentário oportunista da minha parte. Bom, deu no que deu. Sempre entendi as convicções do treinador, ainda que discordasse de muitas, pois queria ver Ganso e Ronaldinho nesse time, além de um lateral-esquerdo competente e um volante que não tivesse um rebaixamento no currículo.
Sobre Dunga, bem, Dunga é um ser humano. É um gaúcho. É teimoso, tem seus princípios, seus dogmas. Resolveu segui-los, defendeu-os com unhas e dentes, e agora, como homem íntegro, arcará com as consequências, não tenho dúvidas disso. Lamentei por algumas de suas escolhas, admirei várias de suas atitudes e, enfim, acredito que ele tenha sido apenas mais um personagem brasileiro no Mundial. A grana que ele recebeu nos últimos três anos e meio compensa, sem dúvida, qualquer sacrifício, vaia ou desgaste psicológico. Quem dera eu me estressasse com trezentos mil por mês pingando na minha conta.
Bem, mas este é o lado passional da eliminação. Como qualquer brasileiro, também externei a minha opinião. Em contrapartida, há o discurso racional e politicamente correto, afinal de contas, são 190 milhões de brasileiros chorando pela derrota de vinte e três milionários, cujas vidas sofreram um pequeno balanço hoje, mas suas contas bancárias permanecem intactas.
Ou seja, pode parecer moral de cueca, mas Pernambuco e Alagoas continuam cheios de barro pós-enchentes, o governo continua aprovando aumentos exorbitantes para uma minoria, os gatunos conjecturam suas candidaturas para nos enrolar em mais um ano de eleição e, sinceramente, por este prisma o futebol acaba sendo apenas uma válvula de escape que faz com que o brasileiro derrame lágrimas que deveriam cair se enxergássemos o que passa despercebido aos olhos da maioria. O pior cego é aquele que não quer ver, e nós, brasileiros, ainda padecemos dessa postura omissa que temos diante de inúmeras questões cruciais que rolam entre os corredores da nação brasileira.

Agora, que futebol é uma paixão nacional incontestável, contra isso não se pode lutar. Mas, Copa que é bom, meus caros, só em 2014.

2 comentários:

  1. Muito bom!
    Futebol, pra mim é e sempre será meio pão-e-circo. Descreveste de maneira genial, como sempre. ;)
    Gaúcho, né.
    Abraço! :)

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  2. Bem observado.Já era previsto que essa copa não era nossa,a escalação dizia tudo.O pior é que o futebol é a maior paixão do país,nossa seleção,apesar de tudo,tem um enorme apoio,nossos jogadores ganham por mês mais do que muitos brasileiros ganham por ano e mesmo assim o futebol não consegue ser compatível à expectativa dos torcedores.
    Os brasileiros são muito ufanistas e esquecem que certas coisas no país ainda precisam ser consertadas.
    Tudo bem não vencer essa copa,vencer duas vezes seguidas é sem graça.Mais importante é a de 2014,e essa sim,precisamos vencer.

    beeijo

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