Ela pegou o buquê

Um homem sabe quando vai casar. Ele pressente. As mulheres costumam falar em sexto sentido e talicoisa, mas nós também temos um faro, o timming certeiro que determina que algo mudou no ar: é o casamento que se aproxima. Alguns, mais arredios, fogem ao menor sinal de aparição deste sacramento, tal qual uma manada de zebras dispara buscando guarida quando atacam as leoas famintas; outros, conformados com a própria sorte, tal um boi carreiro - mocho, de preferência - admitem que a hora é chegada e uma família precisa ser constituída a partir de seus espermatozóides, outrora prisioneiros d'algum pedaço de látex ou arremessados vorazmente contra algum azulejo desavisado.
Por fim, há o terceiro grupo, o dos futuros maridos amantes do posto em questão. Homens preparados para o choque, armados até os dentes para a batalha hercúlea que tantos denominam como a maior de todas as cruzes que o ser humano pode carregar. Chama-se "esposa", mas também poderia atender pelo nome de "sogra". Contudo, o diabo não é tão feio quanto se pinta, e esse supracitado grupo de homens encara com orgulho a escolha de Deus, mata no peito todas as vontades da namorada/noiva/futura patroa e assente com alegria ao chamado da aliança eterna.
Em verdade, vos digo: transitei pelos dois primeiros grupos durante meu desenvolvimento masculino. Num primeiro momento, fugi desesperadamente da possibilidade sórdida de virar um barrigudo, em frente à televisão vendo futebol, enquanto as crianças, os cachorros e a mulher solicitavam um naco da minha atenção. Depois, aceitei que era chegada a hora de juntar as escovas de dentes e partir para os braços doces da união pautada pelo célebre clichê "até que a morte os separe".
Os tempos, porém, mudaram. Sucedidos os fatos das peripécias do amor, passei a ver com bons olhos a benfazeja hora de unir-me à pessoa amada. Os amigos estão todos casando, os janeiros começam a pesar sobre os ombros e a solidez do sentimento conquistada em 2010 - a muito custo, diga-se de passagem - trouxeram-me a este estado que vai muito além do lugar-comum típico da petrificada cobrança, aquela história do "tem que casar, tem que casar". Enfim, quando me dei conta, já estava maquinando o esboço da lista de convidados. É, meus caros, eu vou desencalhar.
O tiro de misericórdia deu-se no casamento de um de meus melhores amigos. A tal da hora do buquê, manjam? Aquele ramalhete de flores, macacos me mordam, tem um significado tão estridente para as mulheres solteiras, que talvez seja facilmente comparado à paixão dos homens pelo futebol. Quando a noiva joga o buquê, reporto-me à final de um campeonato qualquer, onde acontece uma falta próxima à grande área aos quarenta e oito do segundo tempo. Até o goleiro adversário, num ato de puro heroísmo, atravessa o campo e tenta a sorte no campo alheio. Zagueiros e atacantes acotovelam-se, um puxa a camisa do outro, o juiz para o jogo, põe fim no alvoroço, que retorna assim que o árbitro vira as costas.
Pegar o buquê, meus caros, é como marcar o gol do título. É a prova cabal de que o casamento se aproxima, não tem mais volta. Todos os convidados da festa voltam-se para o noivo e comemoram, antevêem o próximo matrimônio. O homem, por sua vez, tendo pressentido que isso poderia acontecer quando sua namorada juntou-se à alcatéia de lobas solteiras sedentas por um punhado de flores que as faça casarem, aceita o que o destino lhe reservou.
Quando a noiva arremessou seu buquê, pude ver, em câmera lenta, as mãozinhas da Dani erguendo-se para a redenção. Ele girou, girou e, enquanto ouvia a voz frondosa e grave de Louis Armstrong entoando What a Wonderful World, acompanhei meus últimos segundos de solteirice declarada. Mansamente, as rosas acomodaram-se nas mãos macias da minha namorada, minha pequena Rogério Ceni dos pampas, ávida como um goleiro de Seleção Brasileira, que, ao menor sinal de ameaça da guria ao lado em tomar-lhe a garantia da felicidade eterna, rilhou os dentes, esbugalhou os olhos e, com a calma de um coala neozelandês que saboreia um pedaço de bambu (que bambu?), rosnou bem baixinho algo parecido com: "sai daqui sua cadela idiota, senão eu te parto a cara em mil pedaços". A mocinha, diante daquele olhar tão singelo e comovente, obviamente nem tentou tocar numa pétala de rosa. É, meus caros, ela pegou o buquê. Um homem sabe quando vai casar. E é chegada a minha hora. Que momento.

11 comentários:

  1. hahah excelente, cumpadi!
    consegui imaginar a cena em câmera lenta...

    a propósito, coalas comem eucalipto, pandas comem bambu ^^

    beijos e continua escrevendo!

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  2. Que momento!
    hehe
    Olha, já peguei uns 3 ramalhetes de flores e até agora nada...

    ótimo texto!

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  3. Pior que é o meu terceiro também... mas só esse foi o sinal dos céus que é chegada a hora de desencalhar.

    usahaushauashaushasuashuas.

    Ah, só pra ressaltar, adorei a maneira carinhosa como tu descreveu a minha olhada pra guria. =P

    Beijo, amor, adorei o texto!

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  4. A Dani se saiu bem... A Clarice também estava de olho naquele buquê!

    hahahahahahaha

    Sucesso e felicidade! 2011 já era, quero dizer promete!!

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  5. Nota de esclarecimento: o bambu em questão continha um aromatizante sabor eucalipto.

    =P

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  6. Mazaaaah meu bruxo!
    Bem vindo ao clube! hehehehe
    Em dezembro do ano passado, quando fomos em busca da Dani em Santa Catarina, quem diria que em menos de um ano tu estaria dizendo isso...
    Só uma frase resume tudo isso:

    QUE MOMENTO!!

    Abraço!

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  7. MAS QUE MOMENTO!!

    Adorei o texto Antônio.
    Consegui imaginar a Dani pegar o buquê e a olhada dela para a menina!

    ausuahuahusasha

    Felicidades pra vcs dois, pois merecem tuuudo de melhor nessa vida.

    Saudades de ti.

    Beeijos

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  8. MAS QUE MOMENTO!!

    Adorei o texto Antônio.
    Consegui imaginar a Dani pegar o buquê e a olhada dela para a menina!

    ausuahuahusasha

    Felicidades pra vcs dois, pois merecem tuuudo de melhor nessa vida.

    Saudades de ti.

    Beeijos

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  9. Bah, Antônio... em meio aos meus preparativos, não pude me conter em ler mais este post. Ainda mais com este título, hehe.
    Pra variar, sempre escrevendo muito bem.
    Meu caro, o que posso te dizer é que nem dei a oportunidade do Tiago se preparar psicologicamente pro ato, já que não peguei buquê algum...

    Mas, só sei de uma coisa... preparar este momento tão especial é algo inexplicável. Pois, além de dar um trabaaalho, é muito prazeroso.
    Um grande beijo aos dois...
    E como merecido, desejo eterna felicidade...
    Bibi

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  10. Uaaau Antônio! Eu aqui acompanhando o blog/suas histórias de trás pra frente e chego neste momento tão bacana, mas que momento! (: haha

    Eu não peguei buquê algum, mas tô na fila pro casório nos próximos meses. E seja o que Deus quiser! (:

    Abraço.

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