A dieta matrimonial

O ser humano, não raro, costuma ter atitudes pouco comuns ao seu gênero. Isso significa dizer que muitas mulheres têm atitudes masculinas, bem como vários homens agem feito donzelas das estórias dos Irmãos Grimm. Até demais, diga-se de passagem. Do jeito que está esse mundão velho de Deus, o que se vê de marmanjo dando uma de Rapunzel e balançando as tranças por aí é brincadeira.
De qualquer forma, dentro das atitudes aceitáveis, ou pelo menos denominadas pela sociedade como tal – ou todos os homens seriam clones do Clóvis Bornay – está a famigerada vaidade exacerbada, que nos últimos tempos classificou uma nesga da classe masculina como metrossexual. São estes indivíduos que depilam o corpo, passam creme e desfilam à beira-mar de sunguinha azul, mas ainda empunham sua espada em prol da perpetuação da espécie. Pessoalmente, tenho tantos pêlos que, se for perder tempo me depilando, além de ser deserdado pelo meu avô, ainda vou gastar uma fortuna em gilete.
Isso não significa, no entanto, que eu não alimente certas vaidades. Um gelzinho no cabelo, por exemplo, sempre vai bem. Manter as unhas cortadas (eu disse cortadas, não me venham com esse negócio de BASE), borrifar um extrato aqui e ali, vestir uma roupa a preceito, enfim, são costumes que, apesar de pouco gaudérios e rústicos, convivem pacificamente com meu lado brasino, macanudo e peleador das horas de lida de campo, onde não se sabe o que é mão e o que é casco.
O estopim de minha vaidade é o peso. É aí que aperta o sapato deste pecado capital que não me abandona há vinte e seis árduos anos. Engordar é pra porco, não consigo admitir. Sempre procurei manter o físico jogando futebol e, felizmente, vinha conseguindo sucesso na empreitada. Nunca fui uma montanha de músculos e só frequentei a academia durante três meses no ano passado, o que me confere um tipo franzino e, por que não dizer, esquálido.

Aí, veio o casamento.

Meus amigos, a lenda urbana é real: casar engorda. Não sei o que acontece na hora da bênção do padre, se é um castigo pelos pecados que não contei na confissão do dia antes do sacramento, ou se é o peso da aliança que dá início à obesidade, mas o fato é que, de outubro para cá, aumentei inacreditáveis cinco quilos. Eu, que há anos mantinha a marca de 70 quilos bem distribuídos em meu esqueleto esbelto, acumulei um saco de arroz no abdômen em noventa dias!
Surtei. Tenho que admitir, fiquei muito brabo mesmo. Decepcionei a mim mesmo, cheguei no fundo do poço. Quando subi na balança da academia e a maldita acusou 75 quilos, tive vontade de chorar de vergonha. Era como se todos os que malhavam naquele recinto olhassem para minha barriguinha saliente e gargalhassem desaforadamente, me apelidassem de Nhonho e tivessem vontade de chutar meu traseiro gordo.
A síncope, no entanto, não durou mais do que cinco minutos. Num arroubo de motivação advinda sabe-se lá de que canto do universo, indignei-me. Não, não posso admitir que minha esposa durma ao lado de um Jô Soares, que ganhe beijos do gordo e faça carinhos numa barriga adiposa. Decidi, portanto, defenestrar estes cinco quilos de meu corpo, expulsar a graxa à base de academia, dieta e reeducação alimentar. Enfim, essas atitudes de sexualidade duvidosa que permeiam o mundo atualmente, mas que já tá todo mundo aceitando numa boa, até porque, do contrário, dá cadeia.
O fato é que, fazendo uma análise dos primeiros meses de casado, realmente o oba-oba alimentar fez parte do nosso ninho de amor. Foram pizzas e mais pizzas, um verão regado a churrasco, cerveja e um punhado de guloseimas deliciosas que se alojaram impavidamente na minha pança. Este mito de que o casamento engorda deixa de ser surreal a partir do momento em que há um relaxamento generalizado, aliado àquela crença de que o tempo só passa para os outros e teremos eternamente o corpinho dos dezoito anos (caso a pessoa tenha sido magra nessa idade, é claro).
Tendo sido definitivamente afetado pela voracidade da balança, resta-me apenas mastigar por alguns meses aqueles alimentos integrais odiosos, comer frutas, verduras e deixar de lado, por enquanto, a carne gorda, a montanha de queijo catupiry que vem na borda das pizzas e o adorável pão com mortadela de cada dia. Só assim, agindo como uma mulherzinha paranóica, conseguirei recuperar meu orgulho de homem de setenta quilos. Mas, por via das dúvidas, como nesse mundo velho até égua velha anda negando estribo, vou manter a cervejinha. Porque a vida não tem graça se não tiver um certo grau de dificuldade.

3 comentários:

  1. Já ouvi dizer que não é o casamento que engorda, mas o amor. haha
    Me diverti muito com teu texto. Acho que quando a alma e coração estão bem, a gente descuida do resto. Pra mim é assim.

    PS: Mas que choradeira por apenas 5kg! Numa corridinha cê perde isso ai porque você, meu amigo, é homem, perde muito fácil. Agora vai ser mulher, viu? A gente sofre pra perder um mísero quilinho. TT__TT

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  2. Hehehe, curti o final, quando fala da cervejinha.
    Qualquer hora temos que sair pra tomar uma e comer um xis (ou uma torrada natural, sei lá) pra botar as conversas em dia ;)

    Abraço!

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  3. Ai Antônio, como disse estou chorando de rir desse seu texto.
    Já vi isso acontecer comigo durante meu namoro, pois meu noivo é metido a chef de cozinha e pro meu delírio, cozinha muitíssimo bem.
    Ao contrário de você, ainda não me submeti a nenhum programa de reeducação. Até tentei academia nas férias, mas as aulas começaram e perdi o ritmo.
    Só sei que, quando o casamento chegar, estarei completamente perdida. rs

    Abraços!

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