Tempos insones

Amor I love you - Marisa Monte by Marisa Monte on Grooveshark

Acabo de descobrir que preciso perder o sono mais vezes. O silêncio da madrugada é amigo da inspiração, que descoberta! Sei que não farei isso, mas falo por besteira mesmo. Esta é uma noite totalmente atípica na minha vida, onde bebi um chá verde que me tirou o sono e, como tal, remeteu-me aos áureos tempos em que a adolescência possuía força suficiente para não me deixar dormir.
Atualmente, meu sono é tão pesado quanto um hipopótamo com obesidade mórbida. Aliás, aqui em casa a Dani e eu padecemos deste mal. Deve ser o sofá. Compramos este móvel com tanto apreço, que seu efeito sonífero nos é irresistível. Deitamo-nos esticados ao longo de sua maciez e cataputz: sono profundo.
Cá estou, divagando sobre os braços de Orfeu quando, na verdade, sinto-me inebriado pelos inacreditáveis sentimentos que uma noite sem dormir pode despertar. Há quanto tempo não passava uma noite acordado sem motivo especial? Mais que isso, há quanto tempo não escrevia dois textos de uma tacada só? Será que já fiz isso alguma vez na vida?
Cinco minutos após escrever sobre o danado do chá e pincelar dicas esparsas sobre a pior noite da minha vida no último texto, passei a visitar blogs amigos como sempre faço quando tenho tempo. Hoje a inspiração veio no Palavras & Silêncios, da minha estimada Maria Fernanda Probst, mestra das palavras doces. Aliás, outra raridade, eu escrevendo parágrafos sentimentalistas. Pareço um maricas.
Recordo, especificamente, o ano 2000. Descobri a internet naquele tempo, quando comprei meu primeiro computador. Esperava a meia-noite para conectar a dial-up discada. Alguém com quinze anos hoje sabe o que é isso? Pura nostalgia. Baixava dezenas de músicas pelo Audio Galaxy, entre elas as mais tocadas nas paradas de sucesso (expressão bem mais antiga do que os anos dois mil, por sinal).
Três sucessos daquele ano marcaram minha puberdade: Papo de Jacaré, do extinto P.O. Box, Anna Júlia, do Los Hermanos e Amor I Love You, da Marisa Monte.

"... tinha suspirado,
tinha beijado o papel devotamente!
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades,
e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,
como um corpo ressequido que se estira num banho tépido;
sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo condizia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Deus do céu, como esquecer de um tempo tão descompromissado? Aliás, nem sei o termo certo para descrever aquela fase. Era uma irresponsabilidade marota, especificamente para mim, que aos quinze anos era um recluso, um vivente sem melhores amigos e cuja principal distração era passar as madrugadas em claro descobrindo a web. Como consegui viver tanto tempo daquela forma? As músicas me distraíam.
Apaixonei-me umas sete vezes naquele ano. Era como queimar uma folha de jornal, quando terminava uma, começava outra. Minha turma do primeiro ano do Ensino Médio era um harém de lindas meninas, nunca havia visto nada igual na minha vida escolar. As calças corsário (é assim que se escreve?) faziam sucesso e delineavam as curvas das minhas colegas, era impossível acalmar os hormônios com tanta oferta.
Ocorre que minha aparência não chamava a atenção. Pelo contrário, hoje percebo que atochar o cabelo com quilos de gel e ainda penteá-lo para o lado era a pior estratégia possível. Minhas habilidades no mundo da conquista eram nulas, e só descobri isso quando vivi a última daquelas paixões.
A guria era feia. Depois de desejar todas as lindas da turma, encantei-me por uma feia. Era a única que me tratava bem, que dispendia seu tempo com alguma atenção dirigida a mim. Caí de amores por ela e não hesitei em declará-lo.
Bah, que erro medonho. A justificativa que ela usou foi nada menos que o melhor argumento de rejeição já usado por uma mulher até hoje contra mim: "tu já te apaixonou por todas as gurias da turma, que garantia eu tenho que isso que tu sente por mim é de verdade?". Não lembro exatamente as palavras ditas por ela, mas o teor da coisa foi esse. Não tive defesa, caí prostrado diante de minha própria incompetência amorosa.
Foi então que Deus, piedosamente, resolveu minha vida no ano seguinte. Em outubro de 2001, conheci a Dani e todos os meus problemas foram solucionados. E, para minha sorte, uma menina linda, né? Imaginem se eu tivesse casado com a feia?
Os hits musicais ficaram no passado, junto com essas histórias bizarras da minha adolescência. Mas, até hoje, quando escuto Marisa Monte cantando Amor I Love You, lembro daquelas noites em que deitava com o rádio ligado junto ao ouvido e passava horas rolando na cama pensando nas irrelevâncias da vida. Madrugadas em claro que forjaram o meu caráter. As de agora viram texto. Quanta evolução.

5 comentários:

  1. Eu era a feia da adolescência. :/
    A magrela que só servia pra ser amiga. Não havia calça corsário que servisse pra delinear curvas inexistentes.
    Era bulling o tempo todo, só que agora tem esse nome, lá atrás era implicância e apelidos mesmo.
    Até que, um amigo se apaixonou e eu acreditei - sei lá se eu era a sobra ou sei lá o quê - acontece que fui notada depois de ser notada por gente de fora.
    Ser o o patinho feio tem lá suas vantagens, a minha amiga mais cobiçada da época, simplesmente ficou com TODOS os meninos que ela podia e não podia. Uma ____, sei lá o quê né?!

    Ton, que sorte a sua então hein? Pois a Sra, Dutra é uma linda mulher, e tenho certeza que quando Deus 'se apiedou' de você, ele sabia direitinho o que estava fazendo. Vocês foram feitos um para o outro.

    Beijo.

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  2. Tu e a Mafê sempre foram meus preferidos. Continuam sendo. Inspirem-me, vamos... preciso me resgatar de mim mesma hahaha

    Eu nunca tive essa dádiva chamada internet discada. Nessa época eu era obrigada a usar Lan Houses. quando passei a ter internet em casa, em 2007 ou 2008, não me recordo, já era a cabo. Ou seja, eu não sofri porque sofri de outra forma, se é que vc me entende.

    Não to falando coisa com coisa... melhor ir ouvir Marisa Monte.
    Beijos

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  3. Ahaaaaaaaaaaaam, entrava na internet pra escutar música. Sei como é.

    Ironias à parte, eu adorava essa coisa da internet discada. Era um tempo precioso. Eu lembro que eu entrava exatos 15 minutos perto das 21h, tempo para postar um texto no blog, verificar o Orkut e ler e-mails. Que nostalgia, de fato.

    Abração!

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  4. Ai, relembrar é viver... viajei agora pensando no teu dial up... melhor abafar o caso que é pra não parecer muito velho hahahahha

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  5. Meu Deus! Quanta nostalgia mesmo... Caso fosse eu que tivesse perdido o sono de madrugada e resolvesse escrever alguma coisa do passado, escreveria sobre o dia que um colega me convenceu a desistir de ir no show do Nenhum de Nós na Eletric para ir num Retiro. E poderia descrever o quanto isso me fez bem e ajudou a construir meu caráter e fazer com que a minha vida seja tão boa como ela é hoje. Obrigado, meu colega, meu AMIGO. (Fui tomado por toda essa nostalgia... ehhehehe)

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