Meu passado me condena



Gosto musical é que nem fiofó: cada um tem o seu e nem sempre é o mais bonito do mundo. Porém, o pessoal da Elite Blogueira, grupo do qual participo na vastidão das redes sociais, andou levantando a lebre das melodias que embalaram infância e adolescência, ao que resolvi remexer no empoeirado baú de minhas memórias e recordar um pouco o tempo antigo. Na falta de assunto, cavaco também é lenha.
A bem da verdade, o que me condena mesmo é meu variado e por vezes inusitado gosto musical. Eu tenho no sangue um estilo "maloca mix" que abrange uma esfera cultural enorme e, ao mesmo tempo, bastante limitada. Mesmo depois de crescidinho enfrento a resistência de quem não curte uma boa moda de viola, basta ver o alto número de churrascos que já encerrei por conta de começar a cantar meus milionários e josés ricos da vida.
Contudo, vamos do começo. Assim que tentei puxar pela lembrança a primeira música que marcou a minha grimpante infância, um disco de vinil azul e de capa amarela veio à mente: Os Três Patinhos! Cara, os patinhos eram demais! Escutava as melodias deles lá na vó Dilma, era viciado no LP e achava o máximo aquela pata cantando com voz engraçada. Como isso é muito anos 80 talvez a maioria não vá lembrar, tanto que até no Google ficou difícil refinar a pesquisa. A música que eu queria partilhar aqui era Ser criança é ser feliz, minha preferida, mas não a encontrei, então fiquem com o clássico Freak Le Boom Boom, que anos mais tarde descobri na voz da Gretchen e lá se foi o encanto pela sarjeta. O destaque fica por conta da voz sexy da patinha e a risadinha inconfundível...




Antes que o desespero gere o caos pelo primeiro sucesso citado, vou amenizar com Balão Mágico. "Sou feliz, por isso estou aqui. Também quero viajar nesse balão", quem nunca? Na vertente deles também surgiu depois o Trem da Alegria com o hit Piuí Abacaxi, bem como surgiam no cenário nacional uns tais de Sérgio Mallandro (Um capeta em forma de guri), Xuxa (Brincar de índio) e Angélica (Vou de táxi). Apesar das três menções com suas respectivas músicas, nunca fui fã de nenhum deles, mas citei os títulos porque também cantarolei as letras junto à gurizada da época. Eu também deliraria mais tarde com o Trem da Alegria através de Cavaleiros do Zodíaco, desenho que eu adorava e cuja abertura era cantada por eles. Completando o ciclo infantil, impossível esquecer do grupo Super Feliz, aquela galera de cara pintada cantando o tema da novela Carrossel, mil vezes mais legal que essa versão brasileira xumbrega que tentaram fazer agora. As criancinhas até são fofinhas, mas Cirilo e Maria Joaquina mexicanos são eternos!



Ainda na mesma época, Gugu soltava sua franga no divertido Baile dos Passarinhos, um ritmo contagiante que fazia todo mundo dançar nos programas de sábado à noite, basta acessar qualquer vídeo do Youtube para comprovar. Seguindo na vertente das breguices, recordo de As Marcianas, presenças sempre marcantes no Sabadão Sertanejo do já supracitado Augusto Liberato.
E aí, desembocamos no pantanoso terreno da tão amada e odiada música sertaneja que embala esse Brasil velho de Deus. Cresci acordando nas manhãs de domingo e ouvindo junto com minha mãe os clássicos da época, início dos anos 90 e auge das duplas que até hoje ainda dão um caldo: Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo. Lá em casa, todo mundo também queria voar no mesmo avião com destino à felicidade... Ainda assim, uma das melodias que recordo com maior clareza é de um cantor solo, o Dalvan. Chamava-se "Te amo, te amo, te amo" e não falhava nunca na Rádio Alegria FM aqui de Novo Hamburgo (a rádio do coração!).



O sertanejo raiz demorou um pouco a tocar a minha alma, mas quando o fez foi em grande estilo. Certa vez, a vó Dilma comprou um box de CD's só com os grandes sucessos e, lá pelas tantas, descobri Índia na voz de Cascatinha e Inhana. Foi amor à primeira melodia. Em seguida, tocou No Calor dos Teus Abraços com as inexoráveis Irmãs Galvão. Quase entrei em colapso de tamanha emoção! Notem que já estamos falando do final dos anos 90, eu tinha 14 anos e os CD's já estavam bombando. Estou mencionando as músicas de maneira atemporal para conseguir aglomerar os ritmos. Logo depois, viciei em Sula Miranda com seu Caminhoneiro do Amor, descobri a maravilha que são Milionário & José Rico, Teodoro & Sampaio e mergulhei fundo na música raiz para de lá nunca mais sair. E só pra manchar o meu relato sobre a música do sertão, vou atestar aqui que, sim, cantei muito Abra a Porta, Mariquinha, que eu também sou Junior e achava a Sandy bem ajeitadinha.
Voltemos, no entanto, ao final da década de 80 para falarmos um pouco de temas de novelas. Como vocês certamente já devem ter notado, a vó Dilma exerceu uma baita influência no meu gosto musical. Até porque lá na casa dela sempre tinha música tocando no rádio, ou na televisão através dos folhetins que ela acompanhava religiosamente. Foi assim que conheci Luís Caldas em Tieta, Fágner em Pedras Sobre Pedra, Rita Lee em Sassaricando, Rosana (!) em Mandala, Pepeu Gomes em Mulheres de Areia, Orquestra da Terra em O Rei do Gado, a gloriosa Vange Leonel em Vamp e o vitaminado Sidney Magal em Rainha da Sucata (HEI, Ê Ô Ê Ô!).

Me chama que eu vou!
Em meio a todo esse frisson sertanejo e familiar, alguém perguntará: este cidadão não sofreu nenhuma influência dos amigos e/ou do ambiente escolar em sua condenação musical? Digo-lhes, com galhardia, que bem pouca. Fui um gurizote caseiro e apreciador do que a minha gente ouvia, no entanto é claro que também atentei meus gostos para o que embalava a galera no colégio. Ora, em meados da década de 90 surgiu a ímpar Macarena, hit alucinante tocado com insistência até hoje, pleno século XXI, nas festas de casamento mais respeitadas da sociedade. O fato curioso fica por conta de que, naquela época, minha professora de espanhol tinha exatamente este nome, Macarena, o que possibilitava uma série de trocadilhos infames em sala de aula. Los Ladrones Sueltos também marcaram época em nossas reuniões dançantes com La Rubia del Avión, não podia faltar nunca. Na esfera nacional, o primeiro grande sucesso que marcou meus tempos de puberdade foi Garota Nacional. Até agora, quando ouço Skank, minha mente volta aos onze anos e balanço a cabeça com vontade, encho os pulmões de ar e berro: MARIANA VAGABUNDA! Antes deles, os Mamonas Assassinas também chafurdavam com muitas letras irreverentes que merecem a citação (teus cabelo é da hora). Ah, e dormi muitas noites ouvindo Ana Julia, isso já na virada do século, ainda que seja a única obra que conheço de Los Hermanos. Essa música surgiu junto com Papo de Jacaré, do P.O. Box, que, felizmente, passou feito um meteoro. Por essa época também retumbaram em meu cérebro Vai Popozuda, da De Falla e o pagode moderno dava seus primeiros passos para ganhar terreno com Se Ativa, que tocava direto por aqui o hit Pra Ficar legal (sucesso tão incrível que não encontrei nenhum vídeo na internet, por isso ficará fora da lista final).

Um dos poucos gostos em comum com os colegas da época. Não estou falando da mulher, mas poderia ser.

Por último, seria uma infâmia da minha parte não confessar o quanto era bom dançar 2 Become 1, na voz das Spice Girls, agarrado na cintura das gurias quando a luz apagava e a penumbra tomava conta do ambiente nas reuniões dançantes. Também citarei a axé music por uma questão de ética, pois todo guri já botou a mão no joelho e deu uma abaixadinha só pra ver as colegas do lado balançando a bundinha com É o Tchan. Logo depois, vinha a Dança do Maxixe, e que coisa bem boa que era virar sanduíche! Finalizando, vou dar o prêmio de hors concours ao nobre deputado Tiririca, pois Florentina foi uma febre desgramada que cantarolei por muito tempo...
Tchê, que coisa boa recordar tudo isso! Me faz lembrar o quanto meu gosto era único e como era curioso o fato de eu nunca ter sido fã de carteirinha de uma banda só, por exemplo. Meu negócio eram músicas aleatórias, sem fidelidade aos artistas e, admito, com escolhas um tanto bizarras que realmente me condenam. Isso é tão verdade, que fui lembrando de vários títulos enquanto montava este post e muitas vezes adicionei mais algum. De todo modo, demonstra claramente o quanto as trilhas sonoras embalam nossas vidas. Ouvi-las de vez em quando é uma forma de voltar ao passado e ser criança outra vez.


PS: Poderá haver quem estranhe o fato de as composições gauchescas não figurarem neste texto. De fato, é um ritmo que me acompanha desde praticamente o nascimento, mas seria um crime absurdo colocar como caráter condenatório ou mesmo citar em pé de igualdade com qualquer outro gênero. A música gaúcha, ao menos na minha vida, é única e está um degrau acima das demais.

8 comentários:

  1. Muito bom Antônio, mas até que o seu passado musical é bem cultural, em vista dos outros! HAHAHAHAHAHHAAHAHAHAH
    A gente vai lendo e recordando, eu tinha me esquecido dos Mamonas Assassinas, quando eles morrem eu chorei horrores, foi muito triste. E esqueci também da Florentina de Jesus, meu Deus como a gente era brega nessa parte ne?
    Mas adorei, muiiito bom mesmo! Bejos

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  2. Macarena, É o tchan, Mamonas!! Fantástico!!! rsrs
    (queria participar do grupo, mas acho q nem sou elite, rs)

    Beijjs!

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    1. Claro que pode participar do grupo, Rê! Tu tem facebook? É só me adicionar lá (Antônio Dutra Junior) que eu te apresento a galera!

      Beijo!

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  3. Como você é MUITO mais velho que eu, Branquelo, não conheço nada aí de cima... cof cof cof
    haha

    Tchan, Spice, pintinho amarelinho, Carrossel, Chiquitita... tudo isso me pertenceu. kkkk
    mas vou te falar que a dança do maxixe foi um choque para minha inocência infantil, lembro que fiquei horrorizada com meus colegas mais saidinhos dançando na sala.
    Vc lembra de Tiririca cantando "indía, seus cabelos. indía, seus cabelos. ííííndia, seeeeeeus cabeeeeeelos"? kkkkk

    acho que tô de volta sim. :D

    beijão

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  4. Piui Abacaxi foi a melhor! kkkkk
    Adorei Antônio, cada um com seu passado condenável né?
    Skank ouço ate hoje.
    Beijos

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  5. Pra variar, morri de rir. Certamente, sue gosto musical é realmente maloca mix. kkkkkkkkkkkkk

    Muito booom!

    Beijos.

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  6. Aí eu fico cantarolando mentalmente: 'Piuí, piuí, choque, choque, choque, choque por aí'e a culpa é totalmente sua Ton. hahahaha

    A diferença de playlist nem é tanta assim, tem coisas que não são da minha época e que ouvi quando criança, e outras até hoje nunca ouvi falar. kkkk
    Como eu não lembrei de Papo de Jacaré?!

    Demais Ton.

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  7. Geeeeeeeeeeeeente, eu curtia Tiririca o.O
    E sabia que teu passado musical seria diferente da geral, Ton. Mas relembrei de alguns. E o vinil do trem da alegria eu também tinha. Hahaha


    Beijo

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