O Sarau do Intervalo

Eu falo com espelhos. Ou melhor, falo comigo mesmo, uma vez que enxergo meu lindo rostinho refletido e, diante do inusitado encontro, aproveito para trocar algumas ideias. Tem um quê de narcisismo, bate aquela atração fatal, coisa mais irresistível aquele moreno de sobrancelhas grossas e desprovido de caixa torácica abundante, sei lá, sinto atração pela minha magreza. Nesses breves momentos de troca de olhares é que vivo um amor fulgurante com minha própria pessoa e, não raro, discuto assuntos de ordem existencial com minha imagem que prontamente ouve a tudo com atenção.
Hoje, por exemplo, debatíamos a seguinte questão: como pode alguém, em sã consciência, em pleno funcionamento de suas faculdades mentais e com todos os impostos em dia, como pode este vivente não comprar o livro Que Momento? Quais as razões obscuras desta vida terrena que vivemos dia após dia, o que pode existir entre o céu e a terra que desvie a atenção das pessoas para qualquer outro assunto que não seja mergulhar na literatura quemomentista e fazer de mim o autor de um best seller? Por que, afinal de contas, as criaturas deste mundo ainda não me fizeram milionário?
Diante de tantas indagações, olho nos grãos de meus próprios olhos, dou aquela encarada maléfica e só não ergo uma sobrancelha porque não consigo executar este movimento que Alberto Roberto realizava com maestria. Ainda assim, mergulho lentamente no âmago de meu ser e, diante de tamanho questionamento tão intrigante, não me resta nada a não ser espalmar a mão direita, tomar certa distância do rosto e aproximá-la vorazmente contra minha bochecha promovendo um estrondoso PLAFT:

- Acorda, vagabundo!

E eu ainda quero que as pessoas me leiam escrevendo tamanha idiotice, vejam vocês.



Bueno, mas o tema central de hoje, além da minha nada propaganda subliminar, é divulgar também o acontecimento do Sarau do Intervalo, evento ocorrido hoje na ULBRA, universidade na qual estou granjando meu diploma de veterinário para daqui a algumas luas. Muitas luas, por sinal.
Graças à iniciativa do professor Renato Pulz, que demonstrou elogiável interesse pela minha obra (aliás, tá esperando o que para fazer o mesmo?), promovemos um descontraído bate-papo com alguns colegas a respeito do livro. Contei resumidamente a história do blog, pincelei sobre como nascem as crônicas e aproveitei para fazer o meu jabá também, que não sou filho de pai bobo, né?
Depois disso, li duas crônicas, tremi um bocado e, passado o intervalo, voltamos para a aula. A iniciativa, contudo, reacendeu o lançamento do livro, fez com que eu voltasse a falar um pouco sobre ele depois de alguns dias de pequeno ostracismo e, por que não dizer, uma certa incerteza acerca do meu futuro como escritor.
Antes de sairmos da cafeteria, contudo, aconteceu um fato que marcou tanto o meu dia, que posso perfeitamente dizer que foi a mola propulsora de vir aqui escrever a respeito do sarau. Três colegas aproximaram-se para comprar o livro (viram só como as pessoas compram? Faça você o mesmo!) e, entre eles, um colega mais velho disse algumas palavras que me deixaram emocionado.
Porém, mais emocionado estava ele, que continha lágrimas nos olhos e transmitiu tamanho sentimento naquela hora a ponto de sacudir as minhas pulgas. Falou-me sobre persistência, pediu-me que escrevesse sobre ela. E as lágrimas, para minha surpresa, correram pelo seu rosto. Puxa vida, aquilo foi tão marcante, que pensei: "gente, isso não pode parar".
Por mais idiota que a vida seja às vezes, no fundo ela traz consigo uma sabedoria sem igual. Mesmo tendo feito um pedido, aquele homem atendeu justamente ao que venho pedindo há dias: um naco de perseverança. E como é gratificante quando alguém faz o bem mesmo sem saber! Autografei aquele livro não com as palavras escolhidas a dedo, mas com profunda gratidão. Tirei lá do fundo da alma o melhor sentimento que minha pessoa podia produzir e transmiti para aquelas palavras. Sinceramente, não sei que reação o livro causará naquele colega, contudo rezo para que chegue ao menos perto do bem que ele me fez através de uma atitude tão singela.

Quanto a você, se já comprou o livro, vou orar para que vá para o céu; caso contrário, deixe de preguiça e encomende seu livro! Prometo facilitar a forma de pagamento. Ou você realmente pensou que eu ficaria só na reflexão? A fé sem obras é morta, meu amigo! E, nesse mundo, quem menos corre voa!


1 comentário:

  1. Ai Ton! Que alegria ver esse bom humor singular mostrar as caras por aqui de novo! Õ/
    Que caso de amor é esse com o reflexo do espelho? Desse jeito dona Dani ficará com ciúmes. hahahaha
    Sabe que eu devia fazer isso as vezes? Conversar com o espelho pra vê se perco a vergonha de falar em público?! Talvez funcione e minhas pernas parem de tremer um bocado. ;)

    Enfim, inda bem que comprei o livro hein? (apesar de: MEU MARCADOR NÃO VEIO E ESTOU MUITO, MUITO, MUITO BRAVA POR ISSO). Então, quer dizer que vou pro céu! Õ/

    Beijo. ;)

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