O sumiço dos inocentes

É alta madrugada neste momento em que escrevo. Mesmo já sendo relativamente um macaco velho nesta lida de blogueiro, ainda me surpreendo com o quanto este espaço funciona como lenitivo na minha vida. Ora, já são nove anos registrando emoções por aqui, ou seja, um terço da minha existência está distribuída nas quinhentas e setenta vezes que publiquei toda a sorte de sensações conferidas de perto pelos leitores.
De vez em quando, leio minhas postagens antigas. Faço assim: se é junho, leio o que escrevi em junho de anos anteriores. Gosto de recordar o que estava sentindo há um, dois ou três anos. Comecei assim hoje, fui lendo outros meses antigos e logo estava mergulhado em 2010, ano de atividade fértil no Que Momento.
Bons tempos aqueles. Recebia uma média de cinquenta visitas diárias, número que eu classificava como satisfatório para as minhas humildes pretensões. Os comentários giravam na casa de uma dezena, às vezes mais, outras menos. Ainda assim, havia a presença cativa de amigos e amigas que diariamente abriam meu bloguinho para refletirem comigo, darem suas risadas, ou mesmo alguns conselhos para que eu superasse as dificuldades que por aqui confessava atravessar.
Passei a ler então todos os comentários e deixei os textos de lado. Senti uma saudade absurda daquelas pessoas, mesmo das que passaram apenas uma vez por aqui e registraram sua visita. Fui inclusive aos blogs das pessoas para conferir a quantas andam. Muitos ainda postam com frequência, outros mudaram o estilo e terceiros encerraram suas carreiras de blogueiros, o que lamentei bastante.
Diante do atual marasmo que vive minha caixa de comentários, salvo raras e maravilhosas exceções, pergunto-me: onde andarão os viventes? A quantas andará a vida de cada um que dividia seus momentos aqui comigo? São perguntas a esmo, sei bem disso, mas aquela também era uma fase produtiva da minha escrita, pois dividíamos inúmeras experiências uns com os outros.
Três anos depois acabei lançando o livro, já é do conhecimento da maioria. Mencionei toda aquela galera nos agradecimentos, recordei com carinho o papel que cada um teve no meu desenvolvimento como blogueiro quemomentista. Mas, de que adianta? Eles não estão mais por aqui, pelo menos a grande maioria. Alguns sequer sabem que foram citados...
Frustra-me enormemente constatar o término de um período. É uma decepção ainda maior saber que provavelmente aquela fase não voltará mais. Pior que isso, os tempos vindouros estão aquém daquela época frutífera onde até mesmo a maior celeuma que eu publicasse surtia algum resultado menos efêmero que essa minha fase de pseudo-escritor oficial onde faço de conta que o fato de ter autografado uma centena de livros pesa de alguma forma sobre as crônicas que produzirei daqui para frente.
Pura inverdade, pra não dizer o mais explícito. Continuo aquele mesmo rapazola faceiro que via numa agulha motivo para tergiversar e sempre tirava alguma lição do que os leitores tinham a dizer. Afinal, de que vale uma mensagem sem retorno? Para que filosofar se ninguém tiver nada a acrescentar? Estou naquele limiar receio de ter virado um fantoche de mim mesmo.
Sinto uma bruta saudade de todos, sinto falta daqueles tempos em que tudo parecia estar mais à flor da pele. Temo pelo sepultamento do período mais fértil e participativo que o blog atravessou. Aquela era a hora de lançar o livro e ir para as cabeças, ao invés de agora onde tudo mais parece um monte de cinzas. Onde quer que estiverem, que voltem a soprar os bons ventos, antes que novos ares acabem tomando conta de tudo.

7 comentários:

  1. Antônio!
    Não sou uma leitora muito falante, e este também é o motivo de eu não conseguir manter nenhum blog por muito tempo. Leio teu blog com bastante frequência - geralmente nos meus momentos de "tédio" aqui no trabalho, umas duas ou três vezes por semana. Passo por aqui em dias aleatórios, e às vezes, as postagens fazem falta. Sei que é importante que as pessoas comentem as postagens, toda vez que inicio um blog, uma das coisas mais "desesperadoras" é a falta de comentários.
    Continuarei voltando aqui, como sempre. Vamos vez se passo a comentar mais :)

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  2. Que lindo Antônio...muito lindo teu texto. Sabia que eu também tenho mania de ler os meses dos anos passados, no antigo blog e nas agendas. Só fiquei me perguntando o que seria um pseudo-escritor oficial, rs.
    Você não virou um fantoche de si mesmo e teu texto prova isso.
    Abraço.

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  3. A regra da vida é a mudança, meu chapa. Não acho que o teu momento frutífero tenha passado; agora tu escreve de forma diferente desse quando que tu citou, de forma que é só questão de tu perceber que o agora também tem seus pontos positivos :)

    Pode chorar à vontade, só não pare nem diminua a frequencia de escrita. Tu escreve bem quando está alegre, e escreve bem quando está frustrado, vai se ferrar! hehehe

    Abraço, mano velho! Tínhamos que sair para beber e conversar, tipo no Kachurrasco ou algum lugar assim.

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  4. Amigo... uma saudade me bateu e corri aqui pra saber noticias suas. E então me deparo com um texto destes... nossa, faz a gente pensar.
    Concordo com seu amigo Marcus "a regra da vida é a mudança", adapte-se, mas não deixe de escrever.
    Fomos amigos de trabalho, pouco conversávamos sobre seu blog, sua paixão pela escrita. Mas adoro o que você escreve.
    Volta e meia me vem essa sensação de que os "bons tempos" passaram... mas daí me conformo, pois penso que deve ser a idade mesmo... rs...
    Deixo um grande abraço... Deia

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    1. Nossa, Deia, que saudade! Como eu faço pra falar contigo? Teu telefone ainda é o mesmo? Vou tentar te ligar...

      Se tu ler essa resposta antes, escreve pra mim: antonioaugustojr@gmail.com

      Quero saber como tu está! =D

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  5. Desde os tempos de "porali" eu visito o blog e desfruto de seus textos, mas como não possuo o mesmo dom da palavra... rsrsrs... me abstenho de comentários. Porém ao ler o texto hoje senti uma vontade de levantar o dedo e dizer "presente!". hehehehe
    Abraços

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  6. Foi inevitável não deixar um comentário. Hoje também bateu uma saudade e corri para o seu blog e para o da Fê, que foram os amigos que formei através do mundo blogueiro. E me deparei com esse texto.
    Às vezes sentimos mesmo aquilo de que "eu era feliz e não sabia!" ou "tempo bom aquele", na verdade acho que as mudanças estão sendo necessárias para o nosso amadurecimento pessoal.
    Foi bom passar por aqui, Tônio.
    Beijão!

    P.S.: Voltei a escrever em um outro blog e por lá mil novidades. Atualize-se! =)

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