Se beber, não divirja

Diga-me, distinto leitor: o que é a vida, senão uma eterna e surpreendente ciranda de acontecimentos desconexos e retumbantes reviravoltas dignas de novelas das oito? Mesmo que você seja contra a Globo e o sistema capitalista que aí está, há de convir comigo que o exemplo faz-se necessário uma vez que, já dizia Joseph Climber, a vida é mesmo uma caixinha de surpresas.
Este início enfático se deve ao fato que relatarei a seguir com requinte de detalhes e, claro, uma pitada de acidez que só os maridos sarcásticos possuem. Em se tratando de mim, um sacana de marca maior, nada mais apropriado.
E por falar em situação marital, vou antes contar a vocês como minha esposa, a Dani, lê meus textos. Normalmente, ela abre o blog em casa, aqui mesmo neste confortável sofá de onde escrevo recostado neste instante, e saboreia minhas linhas. É bom que se diga que a moçoila adota esta prática de leitura desde os primórdios quemomentistas, quando este recanto ainda trazia sôfregos desabafos a respeito de nada ou coisa nenhuma. Bueno, ela vai lendo, e lendo mais, até que solta uns risinhos contidos, ou mesmo uma gargalhada gostosa. E olha pra mim. Gente, é tão romântico que dá até vontade de largar a comédia e ficar escrevendo só romances e folhetins globais. É bonitinho. É cute, como diz o pessoal da modinha.
Desta vez, porém, receio que a expressão de minha cônjuge mudará um pouco assim que ela perceber o teor da postagem. Ocorre, meus caros, que ontem a Dani e eu bebemos nosso primeiro porre juntos. E ela levou a pior.
Pratico com amigos a arte da degustação das bebidas alcoólicas há um punhado de anos. Como todo ser vivente que ingere álcool em excesso, já tive meus episódios pitorescos em relação a cambalear de pernas e muitas, mas muitas ressacas, daquelas em que parece que uma banda do exército toca na sua cabeça na manhã do dia seguinte enquanto você saboreia o amargo gosto da vergonha alheia.
É bem verdade também que até hoje ainda cometo certos excessos. Ok, muitos excessos. Digamos que não sou um bom exemplo para jovens tementes a Deus que devem se manter afastados dos desmandos de Satanás, que apresenta-se em forma de cerveja, destilados e, para alguns aficionados por fortes emoções, até mesmo xampu. Não que eu seja um alcoólatra inveterado, evitem julgamentos prematuros! Ainda assim, posso dizer que sou bom de copo e, como tal, arco com as consequências do dia seguinte como todo praticante dessa lúdica atividade etílica.
A Dani é o contrário. Criaturinha casta, filha de devotos de Nossa Senhora, malimal beberica goles raros de uma cervejinha aqui, uma champanhota ali, mas nada que se possa classificar como uma bebum de fato. Aliás, ela sempre é a motorista da rodada quando saímos, o que contribui mais ainda para que eu sobrecarregue minha atividade hepática nos convescotes dos quais participamos.
Ontem fomos à formatura de um colega de trabalho dela. Grande sujeito, por sinal! Já era um rapazola tido em alto conceito pela minha pessoa, mas que subiu consideravelmente depois que cheguei na festa e soube que havia mais de cento e cinquenta litros de chope à disposição dos convidados. Isso que é altruísmo, meus caros!
E, em verdade, é bom que se diga que a festa estava supimpa. O chope e a champanhe corriam à revelia servidos pelos atentos garçons, que ao menor estalar de dedos materializavam-se em nossa mesa com copos e garrafas cheias de néctar do prazer. Em meio à minha usual prática do copo sempre à mão, observei que minha digníssima esposa também mantinha-se firme em seus goles da champanhe docinha feito rapadura.
Lá pelas tantas, contudo, percebi que a situação estava saindo do controle habitual, ou seja, ela parar após o quarto ou quinto gole. As risadas ficaram cada vez mais fáceis, sua leveza ao dançar aumentou mais ainda e, o golpe de misericórdia: veio ao meio ouvido e deu declarações capciosas impróprias para menores de dezoito anos. Em se tratando da Dani, isso não é normal. Minha esposa é pura feito uma cachaça mineira e, vá lá, todo casal tem suas particularidades entre quatro paredes, ela não é diferente. Só que assim, no meio da festa, no embalo da contradança? Antevi que havia caroço naquele angu. Mas, como não sou de regular a vida de ninguém, me fiz de cego só pra ver o circo pegar fogo.
Bem, se a partir de agora você espera que eu conte algum vexame, fale de tombos e até mesmo algum princípio de tumulto, lamento desapontá-lo. Com a elegância de um casal de duques, nos despedimos do formando - não sem antes tomar duas ou três saideiras devido à insistência do anfitrião - e voltamos para casa bastante animadinhos. Tanto é que, ao adentrarmos nosso pacato condomínio, acabamos por interromper o sono de alguns desavisados vizinhos que, com certa surpresa, ouviram nossa chegada barulhenta cantando em uníssono com o rádio o consagrado sucesso sertanejo Galopeira entre risadas tresloucadas que denunciavam nosso estado etílico avançado.
A bebedeira foi tanta, que nem tivemos coragem de subirmos para o quarto. Aboletado no sofá, dormi em forma de S, a posição que caí e apaguei de imediato, mas não sem antes constatar o estado ébrio de minha esposa que, pela primeira vez em mais de dez anos de relacionamento, suplicou que eu lhe preparasse um chá de boldo. Como só um bêbado consegue entender outro bêbado, caprichei naquele chá como se fosse para meu próprio consumo e, em seguida, dormi o sono dos justos.
Há que se dizer, por sinal, que foi um sono deveras conturbado. Sonhei com três ou quatro coisas diferentes, e de maneira tão nítida, que daria um texto só sobre o os capítulos do sonho em si. Abreviarei, contudo, em nome da causa maior que é contar o fim dessa história. Em dado momento de meu devaneio, eu aparecia amparando a Dani no meio da rua enquanto ela vomitava. Pois é, sonhei com o nosso porre. Em posição arqueada de quem vai chamar o Hugo, ela corria para lá e para cá. Já eu, sem muito jeito para a coisa, grudei-a pelos cabelos ignorando Maria da Penha e direcionei seus jatos para as plantas (chupa, Greenpeace!) sabe-se lá Deus por quê. A cada sinal de vômito, procurava um pouco de verde e auxiliava no alívio de minha pobre pé-de-cana.
Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi contar para a Dani todo o conteúdo do sonho, já que também sonhei com números e vamos jogar no bicho, na mega-sena e na lotomania com o propósito único de nos aposentarmos antes dos trinta. Porém, quando cheguei na parte do vômito, eis que surge a grande revelação: ela havia de fato vomitado durante a madrugada! Duas vezes!
Apagado pela marretada que o chope dera em meu cerebelo, não percebi a movimentação sofá-banheiro-sofá-banheiro-sofá da coitada, mas as olheiras profundas denunciavam a noite mal dormida. Solidário à sua jornada infeliz, obviamente reagi com gargalhadas e chacotas das mais variadas. Este relato, naturalmente, é uma delas.
Eu que bebo, que exagero, que sou o pudim de trago da casa, e quem é que dá vexame? O vaso sanitário não mente, gente amiga! Leiam isto, meus caros sogros, e vejam quem é quem aqui em casa! Após um ano e nove meses de casados, eis que nossa privada foi estreada pela figura sacra de minha esposa. Uma lástima eu ter perdido a cena! Seria épico e, claro, uma carta contundente a ser guardada na manga para chantagens em momentos oportunos. De todo modo, fica a dica: um dia é da caça, outro do caçador. E não posso negar que estava louco para chegar à última frase só pra ficar de tocaia esperando ela abrir o blog inocentemente...


7 comentários:

  1. Danieli Moschen Dutra14 de julho de 2013 às 20:14

    Apesar das muitas gargalhadas, preciso deixar claro aqui que isso não se faz com uma novata em assuntos etílicos. hahaha!

    De qualquer forma, a diversão compensou o domingo de olheiras e dor de cabeça.

    Mas serve o aviso: não se deixe enganar pelas espumantes doces e saborosas, o final pode ser não tão agradável, e teu marido pode te agraciar com chacotas que ficam registradas por todo o sempre.

    Beijo.

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkk... Ai meu Deus, que situação!
    O melhor é ficar aqui aguardando notícias da reação dela a isso tudo.

    Esse Ton...

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  3. HAHAHAHAHA... Coitada da Danieli! Sofreu um pouco, hein?
    Cara, digamos que eu nunca fui muuuuito boa de copo. Quando eu bebia (sim, parei com isso, manolo), sempre era uma das primeiras a me embebedar e já procurava um canto pra ir roncar. Mas só tive umas três ressacas em toda a minha pequena vida de bebum. Porém, uma, a primeira, eu jamais vou esquecer, porque eu vomitei tanto, mas tanto, minha cabeça doía tanto, mas tanto, que eu pensei que iria morrer. Juro. Eu cheguei a fazer promessas. Porque, velho, era primeiro de janeiro de 2012. Eu pensei que era muita sacanagem morrer no primeiro dia do ano. Sei lá, morrer sempre é sacanagem, mas no primeiro dia do ano é sacanagem ainda maior. Mas enfim... descobri um negócio chamado Engov depois dessa experiência de quase morte. Tomando Engov, no dia posterior à bebedeira você só fica meio sonolento, com uma preguicinha a mais, mas nada de cabeça doendo loucamente ou vômitos que praticamente explodem da sua garganta.
    Enfim, sinto saudade do álcool, mas nenhuma saudade da ressaca.

    Danieli, na próxima, tome um Engov antes e um depois e beba loucamente, porque no dia seguinte você estará quase pronta pra outra bebedeira (risos).

    E você, seu Tonhão, é um marido muito gaiato! hahahaha
    Não perdoa nem a mulher? Carambolas! =P

    Sacudindo Palavras

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    1. Apenas para endossar tua colocação muito pertinente, Erica, o Engov é nada menos que o bálsamo salvador de horas dolorosas de uma bruta ressaca! Engov salva! Engov é vida!

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  4. Poxa vida Antônio Dutra de Orleans Bragança Junior Filho e Talicoisa, isso é coisa que se faça com minha amiga Dani?! É? Acha isso bonito? hahahahahaha
    Eu, como também iniciante em assuntos que envolve fígado, etílicos e tal, tenho que me colocar no lugar da Dani, porque dia 06 de abril deste ano, tive a pior ressaca de todo o século. Deusolivre Ton, Deusolivre.
    Anotei essa dica do Engov, nunca apreciei o efeito milagroso dele.

    Mas preciso dividir uma coisa: mesmo depois de toda a Tequila - sem limão e sal - do casamento (Que Dona Dani e Sr. Dutra até beberam comigo Õ/) eu acordei linda, leve e solta. Sim, sem nenhum pingozinho sequer de ressaca.
    Conclusão: Na volta da Lua de Mel, trouxemos um garrafinha de José Cuervo Edição Especial. Õ/
    Vou esperar a Dani aqui em casa pra beber comigo. hahahahahaha

    Saudadeeeeeeeeeeeee docês.
    Beijos.

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    1. Danieli Moschen Dutra15 de julho de 2013 às 23:08

      Aninha!

      Tá vendo o que acontece depois de casar? Se vive momentos fantásticos e se vira motivo de boas risadas. hahahahaha.

      Eu nem bebi muito, apenas uma taça ou duas a mais do que os goles de sempre. Mas tequila eu tô podendo, então pode separar o José Cuervo para darmos boas risadas. Mas com sal e limão, por favor! hahahaha.

      Saudades demais, sô.

      Beijos!

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  5. Eu me encontrei em algumas colocações suas... rs... Lá em casa o experiente em assuntos etílicos é o Marcus, eu sempre sou a motorista da rodada também, mas voltei há um ano e alguns meses e lembrei-me da ressaca indescritível que me acordei após o meu casamento, no primeiro dia dele como marido e o fiz correr as setes freguesias em busca do milagroso engov... rsrs... é bom recordar!
    A Dani vai ter histórias para contar! :)

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