A MORTE DE SANDOVAL

Sandoval, o boa-praça, o bom amigo,
Pelas costas é traído, vem chegando a tempestade.
Na sua ingenuidade, ele não teme o perigo.
Se atrapalha o Sandoval, e tropeça na verdade,
E tropeça na vontade, em um impulso lascivo.
Mas a natureza ainda canta:
"Calma, Sandoval está vivo!"

Sandoval atrapalhado, bobo, apalermado,
Pecou por amar demais e agora vai pagar.
Tenta fugir ou lutar, ele fica apavorado,
Perde o falso otimismo e não cansa de errar.
Se esconde, se isola, não sabe pra onde correr.
E o minuano assopra:
"O Sandoval quer morrer!"

Sandoval chora, agora fraco,
Enquanto observa as feridas que causou.
E sente, cada vez menos, bater o coração opaco,
Sofrendo por cada um que machucou.
Enxerga, ao longe, a morte que terá.
Os passarinhos, jururus, anunciam:
"Sim, Sandoval morrerá!"

Sandoval inerte, perdeu o que queria.
Sujo, esfarrapado, perdido,
Em lugar de felicidade, uma morte lenta e fria
Dilacera o sentimento do coração dolorido.
Remoendo suas lembranças, ele permanece absorto.
E os animais lamentam:
"Sandoval está morto! Sandoval está morto!"

Sandoval, portanto, alma penada
Procura, aos poucos, mover-se lentamente
Em direção ao seio de sua amada,
Que ainda não conhece, por ter sido inconseqüente.
Ainda assim, sonha com ela dormir.
Vem a fraca chuva afirmar:
"Sandoval não irá desistir..."


FAMOSO, MAS NEM TANTO:

(Eu): - Bah, vô, esse teu cabelo, com esse topete na frente, tá parecendo o Elvis!
(Meu vô): - Quem?
(Eu): - O Elvis Presley!
(Meu vô): - Quem é esse?
(Eu): - É um cantor de rock. Deixa pra lá, já morreu há muito tempo...



NOTA DE FALECIMENTO:

É com profundo pesar, que comunicamos o falecimento do cavalo mais velho que já habitou essa fazenda, vulgarmente conhecido por "Vermelho Velho", ocorrido na noite do último dia 15. Com a idade de 31 anos, Vermelho estava aposentado desde os 26, quando serviu pela última vez numa campereada.
A perícia comprovou que a morte ocorreu por homicídio. Vestígios de sangue e sinais de luta foram identificados no local onde o corpo foi encontrado. Suspeita-se que o criminoso seja um felino, mas este ainda permanece foragido.
O assassinato chocou a comunidade eqüina da fazenda. "Esse tipo de incidente denuncia a falta de segurança existente nas redondezas. O Vermelho era um cavalo de paz, não fazia mal a ninguém. Temos medo de sair à noite, pois o perigo é grande", disse a égua Rusilha, grávida de dois meses.
A morte de Vermelho dá fim a uma lenda viva. Sempre destacado pela integridade de seu caráter, o velho eqüino certamente deixará saudades.


CONSIDERAÇÕES SERRANAS:

- Um dia de sol, céu completamente azul, sem nenhuma nuvem, num lugar como esse, levanta até defunto;
- Corvos são animais sinistros;
- Frio de 10°C no verão, em se tratando de Serra, é absolutamente normal;
- Estar longe da civilização, significa não precisar pentear o cabelo e nem fazer a barba;

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