O PODER DO OLHAR

Ultimamente eu tenho tido várias idéias para textos. E, na maioria das vezes, os fatos que têm acontecido durante o dia fazem com que eu mude o assunto na hora de escrever. Hoje foi um bom exemplo disso.
À certa altura da tarde, tive o estalo de escrever sobre as esperanças que todos estão alimentando para 2005. Pretendia colocar o meu ponto de vista e discorrer a respeito. Todavia, percebi, através de um simples olhar, que não valia a pena escrever sobre algo que não acrescentasse nada aos que lessem o texto posteriormente.
Sim, um olhar. Dois olhos atenciosos e carinhosos, que olhavam-me silenciosamente enquanto eu debafava minhas angústias, minhas ansiedades, meus medos. Demorei um pouco para perceber o quanto aquele olhar foi ficando triste, abatido, como que sem saber o que fazer para remediar aquela situação que eu apresentava. Custei também a ter consciência de que aqueles olhos eram o melhor de todos os remédios para a minha fraqueza.
Tanto que tratei de me redimir assim que percebi a importância daquele simples olhar dirigido ao meu coração. Como uma flecha, aqueles olhos amendoados atingiram o meu íntimo, o que passou a dar-me uma sensação gostosa de conforto, de proteção, de segurança. Passei então a fitá-los, também nas profundezas do seu interior, para que eu pudesse cada vez mais absorver aquela energia positiva que adentrava minha corrente sangüínea e dava cada vez mais a sensação de estar flutuando.
Aos poucos, dei-me conta do quanto estava sendo importante aquele momento para mim, ou melhor, para nós. Uma troca mútua de olhares, de sentimentos, de cumplicidade, que tornava tudo mais colorido, mais positivo, menos frívolo. Nada de palavras, gestos mínimos, apenas as mãos dadas. Somente as pupilas, crescendo e diminuindo, como cístole e diástole, acompanhando a batida de dois corações unificados, formando um só coração, um só sentimento.
Por alguns segundos, saí de órbita. Era uma sensação entre o nostálgico e o abstrato, mas com um resultado concreto. Foram segundos sem sentir o chão debaixo dos pés, sem escutar nada, sem sentir nada que não fosse apenas o poder daquele olhar.
Quando voltei para a realidade, refleti sozinho sobre a importância de olhar alguém com o coração, e não somente com os olhos. Enxergar não somente a cor dos olhos, mas a essência da alma. Essência esta que é capaz de iluminar o coração de quem está próximo, pelo simples fato de ser simples. Sem a menor pretensão, salvou o meu dia, mudou o tema do meu post, melhorou meu humor, e o mais importante: fez pulsar dentro de mim o amor, com intensidade incalculável.
O melhor de tudo é não precisar agradecer. É ver que essa sensação será sempre contínua e gratuita, dependendo exclusivamente da minha capacidade de enxergar essa demonstração única do amor, da compaixão. Perceber que cada olhar recebido é fraterno e apaixonado, enamorado do simples fato de estar na minha companhia.
Mais do que nunca, a prova concreta de que Deus sempre está olhando para nós, à espera somente de que olhemos também nos olhos d'Ele, para que Ele possa mostrar o quão grande é Seu amor por nós. Esse amor-oblação, amor ágape, que restaura, que conforta, que afaga, que salva, que ensina a amar da maneira mais simples, com os olhos.

Não creio que precise fazer menção à dona desse olhar, mas preciso dizer ao menos uma palavra: obrigado.

Que Deus ilumine a todos!

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