O CASARÃO

Às vezes eu enxergo a vida como uma casa, uma grande casa. Muitos cômodos, quartos aos quatro cantos, banheiros, cozinhas, garagens, mas uma, apenas uma, sala de estar. O pátio e a parte externa da casa, isso depende de como cada pessoa leva a sua vida. Entretanto, não é a conotação estética sobre a qual pretendo discorrer.
Sendo uma casa, nossa vida recebe a visita de pessoas. Algumas passam alguns dias lá, outras até moram em algum dos cômodos. Os amigos mais íntimos, por exemplo, ficam quase sempre no quarto, lugar aonde sempre guardamos nossas coisas, nossa intimidade, nossa privacidade. No quarto, entra apenas quem é convidado, portanto, pessoa especial para nós. Conhece nossa vida como ninguém e ajuda na arrumação dele. Além do quarto, as pessoas que lá habitam também conhecem a casa inteira, dependendo da abertura que damos a elas.
Na sala de estar, ficam as pessoas que estão diariamente em nossas vidas, porém sem participação muito ativa. O pessoal do trabalho, os vizinhos, alguns colegas de colégio, os próprios professores. Todos estão ali, porém não damos a eles acesso aos quartos. Nessa sala, existem duas portas: uma de entrada, outra de saída. Por elas, diariamente, dezenas de pessoas entram e saem. Algumas ficam sempre ali na sala, sem nem sentarem-se, mas ficam. Outras nos cativam tanto, que acabam conhecendo os quartos, até que conseguem um para habitarem.
É engraçado as figuras de liguagem que eu invento às vezes. Talvez sejam uma forma de abrandar a tristeza que sinto quando vejo pessoas saindo da minha vida.
Pois é, às vezes um daqueles amigões que tinham quartos só para eles, resolvem, sem mais nem menos, deixarem não só o quarto, mas também a casa. Saem e ficam do lado de fora, conversando com as pessoas que estão dentro da casa, ou então vão embora para sempre. Isso faz com que eu também vá embora de muitas casas e de muitos quartos, ainda que meu coração se parta com essa situação. Às vezes eu saio do quarto sem ter vontade, mas é que a pessoa deixou o quarto dela na minha casa vazio. Outras vezes, eu tenho de sair de casas de pessoas por extrema necessidade, pois sinto que estando no meu quarto acabo destruindo os alicerces da casa. Sem a minha presença lá, a casa fica mais leve...
Hoje eu refleti muito a respeito de quem deixou a minha casa sem dar satisfação, sem nem ao menos dizer adeus. Ao mesmo tempo, me vi indo embora de algumas casas também sem dar adeus, ainda que as lágrimas corressem pela minha face, clamando para que eu voltasse àquele quarto tão aconchegante.
Pois é, mas nem tudo são lamúrias, pois posso dizer que possuo monumentais quartos em excelentes mansões. Pessoas especiais, amigos de verdade, que colocam até uma plaquinha com meu nome na porta do quarto, deixando claro que ele é só meu. Gente que me trata bem, que me quer por perto, que faz questão de berrar isso aos quatro ventos e também no meu ouvido, enquanto me abraça com vontade e carinho. A vida é engraçada...Minhas figuras de linguagens são engraçadas...O filme "Hitch - Conselheiro Amoroso" é engraçado...Muita coisa é engraçada...Mas sair da casa de alguém...É...Isso, realmente, não é engraçado...É triste. Resta agora, entrar nas banheiras das suítes que possuo na casa de alguns amigos, tomar um belo banho e relaxar...Que engraçado, né?

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