RELEMBRANDO

Sem inspiração nenhuma para escrever, andei fuçando nos meus documentos e achei uma redação que escrevi para a faculdade ano passado. É um texto sobre um fato engraçado que aconteceu comigo lá em São Chico, que arrancou risadas minhas novamente ao lê-lo. Tendo arrancado risadas também dos meus colegas que o leram naquela oportunidade, publico aqui para, quem sabe, despertar risadas também no amigo leitor, até porque rir é o melhor remédio. Um abraço!

O Fato Mais Importante da Minha Vida

Há momentos na vida de um ser humano em que seus princípios se vêem barrados mediante situações desconfortáveis dos mais diversos gêneros. Baseado nessa afirmação me vem à mente a vez em que fui passado para trás por nada menos do que três eqüinos.
Era uma linda e ensolarada manhã de dezembro, na fazenda de meu avô, situada na cidade de São Francisco de Paula. Havíamos recebido a visita de dois amigos meus naqueles agradáveis dias de férias. Foi então que decidimos fazer uma cavalgada para aproveitarmos aquela bênção climática que provinha da natureza.
Contudo, verifiquei que havia apenas duas éguas para a nossa tripla montaria, o que me levou a ter que buscar a campo aberto uma terceira égua para que completasse nosso objetivo campeiro. Encilhei uma primeira égua, de nome Ruana, para ir a busca da segunda, Rusilha, coincidentemente mãe da primeira. Repito, o dia era magnífico e meu humor era melhor ainda, tanto que acreditei que, devido à mansidão da Rusilha, não haveria maiores problemas para trazê-la para casa, por isso levem comigo apenas um singelo cabresto.
Cavalguei por alguns instantes, até que enxerguei ao longe a silhueta da égua-alvo, Rusilha. Aproximei-me confiante, desci da Ruana e fui ao encontro da Rusilha, sem imaginar o que se passava em seu cérebro eqüino. Aliás, eu imaginava que ela não imaginava nada. Mas ela imaginava. Imaginava que eu queria pegá-la para montaria e, com isso, disparou. "Danada", pensei, "agora terei de perseguí-la até alcançá-la". Quando pensei em voltar para a Ruana, deparei-me com o que chamo de "sorriso eqüino", dotado de um certo sarcasmo jamais visto em qualquer outro animal. É, ela ria. Ria da minha ingenuidade. Ignorando a encilha e minha meta de montar para perseguir sua mãe, disparou na direção da mesma. Inutilmente, tentei correr atrás delas, o que só serviu para eu comprovar a abissal diferença entre o galope de uma égua insana e a corrida de um homem.
Atabalhoado com aquela incomum situação, olhei na direção de casa e constatei que teria uma boa caminhada pela frente. Certificado de que não havia ninguém me espiando a não ser um incômodo casal de quero-queros (como gritam!), aproveitei para colocar toda a minha raiva para fora, seguida de arremessos de chapéu e brados retumbantes. Com isso, pude chegar em casa calmo para relatar o acontecido enquanto encilhava uma terceira égua, a Lobuna, para tentar dar um fim naquela manhã que já se tornava quente.
Lembrando do ditado que diz que "gato escaldado tem medo de água fria", levei comigo também um pouco de milho para facilitar as negociações. Não demorei a encontrar as duas infames e, mesmo beirando uma síncope, mantive a calma para, humilhantemente, negociar. Ofereci milho na tentativa de capturar a Rusilha, ao que ela aceitou. Vitória! Agora, montado na Lobuna, puxava a Rusilha com o braço direito e a Ruana com o braço esquerdo. Qual braço guiava a Lobuna? O Espírito Santo. Mesmo assim, ia.
Ia, até acontecer o inesperado. Um desentendimento. Não sei porque cargas d'água aquelas éguas resolveram se atracar de coice, sendo que eu era o espectador mais privilegiado e desprivilegiado, afinal, minha perna era alvo fácil das ferraduras. Acrobaticamente evitei qualquer tipo de lesão e aproveitei uma pausa para amarrar a Rusilha numa árvore e voltar para casa somente com a Ruana.
Ao chegar em casa, evitei maiores explicações para não ser alvo de chacotas. Entreguei a Ruana para os dois montarem (que se virassem!) e fomos ao encontro da responsável pelo evidente bronzeado dos meus braços. Quando chegamos, tive vontade de flagelá-la a ponto de deixar Jesus Cristo com inveja, mas mantive a compostura e agi com maturidade. Terminada aquela longa manhã, ficou a lição: nunca confie nos eqüinos. E desde aquele dia carrego sempre comigo um punhado de milho para eventuais emergências. Principalmente em manhãs ensolaradas de dezembro.

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