PANELA DE MILHO

Em primeiro lugar, tenho de agradecer ao Léo por voltar a escrever, pois, graças ao texto dele, inspirei-me para escrever o meu. Não tivesse ele redigido este belo paralelo entre animais e homens (não necessariamente nessa mesma ordem), ficaria eu sem texto por hoje.
Antes de mais nada, peço desculpas por "plagiar" a idéia de paralelos envolvendo animais, porém a minha ótica toma outro rumo. Sei que meu parceiro de blog entenderá, pois estamos aqui justamente para isso, para compartilharmos idéias.


Mesmo gostando muito dos animais da fazenda do meu avô, preciso admitir que a relação existente entre nós (os fazendeiros) e os animais, baseia-se numa pequena chantagem. Para domesticar uma vaca, ou um cavalo, é necessário tratar, dar ração, milho. Naturalmente, o jeito de lidar com o bicho também conta muito. Enchendo uma vaca de pancada, quando ela te enxergar, vai correr para o mais longe que puder. Tratando direitinho, ela come na tua mão (mas cuidado para ela não tentar engolir o chapéu, principalmente se for de palha).
Vou ater-me aos cavalos. Eles permitem perfeitamente que montemos neles (depois de domados, obviamente), mas, antes disso, para pegá-los no potreiro, é necessário levar consigo uma panela de milho. Para quê? Para, quando o cavalo for comer o milho, aproveitar e colocar o cabresto (bussal) nele. Caso contrário, se o eqüino perceber que não tem milho na jogada, ele prontamente ergue o rabo e dá no pé, ou nas patas. Ou seja, vens me procurar com o milho, que deixo pegar-me. Caso contrário, neca de pitibiribas.
Como toda a regra, essa também tem a sua exceção. Chama-se Rusilha. A égua mais mansa que já conheci em toda a minha vida campeira. Com ela, não existe esse papo de milho. É claro que ela adora um tratinho, mas deixa colocar o bussal sem nenhuma cerimônia, mesmo sem milho. É claro que ela só permite isso com quem ela conhece e está acostumada, mas permite, ao contrário dos outros arcaides, frescos e nojentos. E, além disso, ela vem em casa comer o milho quando tem vontade, ou seja, não é nem preciso ir em busca dela, ela procura o trato sozinha.
Paralelo? Teeeem. É que nem nariz, tá na cara.
Existem pessoas que se baseiam até mais do que os cavalos do meu avô. Se o milho for pouquinho, nem assim permitem aproximação. Querem o milho em abundância e, mais do que isso, querem que vá atrás buscar, estejam onde estiverem.
E não são poucas as pessoas assim. "Ah, tu te afastou, tu não procura a gente." É claro, né, é muito mais cômodo receber o milhinho na boquinha. Muito melhor os outros correrem atrás, dá menos trabalho, né.
Fico lá no meu potreiro, pastando um monte de esterco de galinha, até que o otário do fazendeiro venha até mim com o milho (leia-se ficar correndo atrás o tempo todo). Se não for assim, é sem bussal (leia-se amizade).
Eu sempre fui uma Rusilha. Sempre deixando os outros pegarem sem milho, sempre indo em casa atrás do trato. Sempre correndo atrás de alguém pra dar atenção, fazer alguma coisa. E os outros, dê-lhe encilha. Em cavalo manso todo mundo quer montar.
Agora é só eu ter uns compromissos a mais, que me impedem de estar sempre presente, para os outros ficarem reclamando suas panelas de milho.
Ainda bem que tenho meus amigos Rusilhas, que me procuram e aceitam quando não tenho o milho pra dar. Que vêm até mim, mesmo sem a intenção de estar sempre comendo, comendo e comendo milho. Olha que cavalo gordo demais não presta, o trote fica muito pesado, seco.
Nessas horas é interessante a gente analisar que tipo de eqüino estamos sendo, pra depois não ficarmos relinchando um monte de impropérios por esses campos afora.

Peço desculpas pela comparação grotesca, mas isso é apenas um comparativo mesmo. Qualquer semelhança com cavalos e éguas, será mera concidência.

Um abraço!

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