CEGUEIRA

Confrontei-me, há poucos instantes, com a seguinte frase dirigida à minha pessoa: "Eu sei que achas a maior frescura da minha parte. Atualmente, estás feliz demais para entender algo assim." O motivo dessa sentença? Algo bem conhecido de qualquer leitor que já tenha sido adolescente: amor não-correspondido.
Lendo o que li, reportei-me à minha fase de melancolia, quando eu me considerava a pior das pessoas e existia uma "ela" que não correspondia meus sentimentos. De fato, nessas horas, parece que todos estão felizes demais para entenderem a dor que sentimos. Lembro que meus pensamentos eram os piores possíveis, e impediam que eu enxergasse que existem tantas outras coisas boas que não relacionadas ao sexo oposto.
Diz o velho ditado que "o pior cego é aquele que não quer ver". Infelizmente, essa pessoa que pensa que estou feliz demais para entendê-la está agindo dessa forma. Cansei de alertar sobre as outras coisas boas que a vida pode oferecer, sobre buscar alternativas, pensar em coisas boas, que pelo menos abrandem o sofrimento. Não adiantou. Só então dei-me conta de que, nessa fase, nada do que eu disser fará sentido.
Apesar do discurso demagogo de "já que não posso ser feliz, quero ver meus amigos felizes", o "umbiguismo" afetou esse indivíduo. Nada poderá ser melhor do que um sorriso da pessoa amada, um olhar carinhoso, ou, quiçá, uma chance, ainda que remotíssima.
Frente a isso, nada posso fazer, pois precisei passar por isso para crescer. Precisei chegar na beirinha do penhasco, ver as pedrinhas rolando lá para baixo, tive que sentir vontade de cair, para só então olhar para frente e apreciar a bela paisagem.
Certa vez, li que os problemas são como uma pedrinha pequenina. Se a colocamos na frente do olho, ela torna-se uma pedra grande, e toma nosso campo de visão. Se estendemos o braço e a olhamos em nossa mão, torna-se uma pedra pequena, ainda que uma pedra. Entretanto, se a jogamos num canto do terreno, ela passa a ser somente mais uma pedrinha, de valor irrisório.
Nesse momento, quem escreveu aquilo para mim tem a pedra praticamente dentro do globo ocular, o que está causando uma dor sem igual. Resta-me apenas compreender e esperar que essa fase nefasta passe, para que, sozinho, ele cresça com a situação e tire lições desse momento.
Sei que, ao ler esse texto, ele pensará que estou minimizando sua dor. Todos pensamos assim. Quem não teve essa impressão um dia, faça o primeiro comentário discordando. Sendo assim, resta-me dar as boas-vindas ao grupo dos que sofreram por (pseudo) amor na adolescência, e esperar que entre para o grupo dos que hoje dão risadas disso.

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