FATO TRISTE

Ontem ao meio-dia, fui pro Centro com a Dani fazer uns correrios burocráticos. Estacionei o carro perto do cartório e fique esperando que ela fosse até lá registrar documentos.
Enquanto ela entrava no carro, eis que um senhor idoso aproximou-se e entristeceu o meu dia. Perguntou-nos se éramos de Novo Hamburgo e contou-nos que estava procurando emprego de porteiro, por não haver vagas para o setor calçadista, onde trabalhara antes, em sua cidade, Parobé.
Em virtude do fracasso momentâneo na procura, perguntou se não tínhamos, pasmem, um vale-refeição, para que ele pudesse comer algo. Diante da nossa negativa, pediu que comprássemos então um xis, ou algo semelhante, pois já havia pedido nas lancherias e ninguém tinha se disposto a oferecer-lhe qualquer alimento. Infelizmente, a Dani tinha na carteira apenas o dinheiro contado para o envio de um documento e eu, droga, encontrava-me sem "um puto tostão" na carteira.
Nada me tira da mente o semblante daquele senhor diante da minha nova negativa. Nada mede o arrependimento de não ter ido a um banco e saciado a fome daquela pessoa. Fui falho, fraco, impotente. Não era nenhum mendigo, bêbado, ou algo que o valha, e sim um senhor procurando emprego, longe de sua cidade (talvez com o dinheiro contado para a passagem de volta, creio eu), com fome. Pelo menos levo em consideração que era verdade o que ele me dizia.
Não comentei nada com a Dani até voltarmos para o trabalho, mas aquilo me corroeu e me maltratou pelo resto do dia, fez eu me sentir a pior das pessoas. Sim, agora não adianta nada ficar desabafando, mas é uma droga. Em síntese, desses dois textos que escrevi agora, constato que é preciso pelo menos abrir os olhos, deixar a pressa e a carteira vazia de lado, e ser um pouco mais solidário. Ou ainda terei muitas tardes ruins na minha vida.

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