QUANDO TERMINA EM PIZZA

Não costumo escrever textos descritivos sobre o meu dia-a-dia, mas, de vez em quando, é bom variar. Ficar só fazendo versos e propondo reflexões pode me tornar chato e repetitivo, portanto, vamos a algo que foge aos padrões da literatura "quemomentista". =)
É claro que, para escrever sobre isso, algo inspirador deveria acontecer, o que, de fato, ocorreu ontem. Eis que fui saciar um dos meus sete pecados (é a mídia impondo suas mensagens subliminares através de novelas) e abusar da gula numa pizzaria, o local mais propício para situações inusitadas. Quase tanto quanto um ônibus.

Primeiramente, fico imaginando o saudoso Francisco Milani interpretando o Seu Saraiva numa pizzaria. Sim, porque sempre tem aquele garçom mala que te oferece pizza doce dez minutos após a sua chegada. A vontade é de subir na mesa, estufar o peito e bradar: "MEU AMIGO, NÃO ME OFEREÇA AS DOCES ATÉ QUE EU PEÇA, OK?" - mas não sei se seria bem recebido pelo público.
Também penso em sair de casa com uma camisa estampada com a frase "beber durante as refeições dificulta a digestão". Só assim, evitaria a indesejável oferta de bebidas trinta segundos após acomodar-me na cadeira. É como se fosse obrigatório enfiar güela abaixo dois copos de guaraná antes de iniciar a degustação das pizzas.
E eis que começa o rodízio. Pobre é fogo, né. Eu, por exemplo, nem deixo o garçom terminar de pronunciar o sabor de questão. Nos primeiros quinze minutos, o que vier baixa no prato. Embola toda aquela massa ali na região da moela e parece que o cara engoliu dois seios, de tão estufado que fica. Se coachar um pouco, dá pra confundir com um sapo.
Aliás, pra não dizer que não recuso nada, sempre tem aquele garçom que é tirado pra Cristo, ou seja, só serve pizza ruim. É como se, antes de ser promovido a garçom, o indivíduo tenha de passar por um calvário de "nãos", uma forma, talvez, de lidar com as frustrações, trabalhar o psicológico, não sei. Freud deve explicar. O fato é que tomates secos, brócolis, palmito e qualquer outro broto, ou vegetal inusitado, não combinam simplesmente com um pedaço de massa e catupiry. E ainda existe quem tem o displante de afirmar que só come essas pizzas, pois está de dieta. Ah, bom, mas e a massa? Com vegetal em cima ela perde as calorias? Desculpa de aleijado é muleta.
Saindo da parte operacional da pizzaria, entramos no submundo dos clientes e a sórdida convivência obrigatória com nossos queridos vizinhos de mesa. Quando não é aquele batalhão de gente, que mais parece uma manada de zebus (lembrei do Veríssimo agora), tirando fotos, cantando parabéns e fazendo troça com os pacientes garçons, ou um grupo de adolescentes apostando quem come mais, botando mostarda no refrigerante e afirmando para o colega "duvido que você beba isto", sempre aparece alguma coisa diferente.
Ontem foi uma criança. Um guri, um piá, que eu nem tinha visto que estava ali, até ele cansar de comer dois pedaços de pizza, pegar o seu lindo cavalinho de brinquedo e começar a correr por entre as mesas. Eu saboreava tranqüilamente minha pizza de camarão, quando, sem quê, nem porquê, aquela criatura das trevas me solta um...RELINCHO! Quase quebro meus molares no garfo, tamanho foi o meu pavor com aquele som desconhecido e que mais parecia um cachorro ganhando um ataque epiléptico. Quando olhei para trás, vi somente aqueles olhinhos do Gato de Botas do Shrek me olhando, como quem diz "viu como eu sei imitar eqüinos?".
Meu primeiro impulso foi o de mostrar pra ele que eu também sabia imitar animais, encarnar um buldogue e proferir uns latidos raivosos, antes de grudar o que sobrou dos meus dentes naquelas lindas canelinhas alvas, mas resolvi manter a diplomacia e dar aquele sorriso, como quem diz "sai já daqui". Depois de mais uns três relinchos, eu já nem me assustava mais. Me sentia até à vontade com aquele ambiente rural que a criança me proporcionava.
Antes de ir embora, um velho, possivelmente o dono da pizzaria, veio me oferecer mais bebidas (que obsessão que essa gente tem por líquidos, meu Deus!). "Não estão tomando nada"? Deu vontade de responder: "olha, lá na empresa a gente toma no c... o dia todo". ¬¬
Mesmo assim, pizza é sempre uma boa pedida, tanto nas refeições, quanto no Congresso brasileiro. Ainda estou empanturrado, e provavelmente não almoçarei hoje. Coisa de pobre, naturalmente.

Um ótimo fim-de-semana a todos (sim, ainda sem internet em casa).

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