QUARTA CINZA

Todo e qualquer texto que eu tivesse em mente teria de ser adaptado depois desse acidente que ocorreu ontem em Congonhas. A comunidade do RS está chocada com tamanha tragédia, bem como tenho certeza que o Brasil inteiro está pasmo com as conseqüências que o caos aéreo vem causando ao país.
Mais do que prestar solidariedade, ou bradar contra os culpados, como qualquer pessoa, apenas encontro-me prostrado diante do computador, pensando na tristeza desse acidente.
Há pouco eu estava olhando as profiles do Orkut de algumas vítimas, vendo as fotos, os depoimentos, e custando a acreditar que tantas vidas agora foram interrompidas. Numa semana em que me propus a escrever somente sobre a amizade, dói saber que tanta gente perdeu seu melhor amigo, que sexta-feira não poderá abraçar a pessoa mais especial da sua vida.
Bom, mas não há muito o que fazer senão lamentar e rezar pelas famílias.

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Quarta-feira já foi um dia especial para mim há alguns anos. Quando eu participava da Pastoral da Juventude, nos tempos de colégio, esse era o dia em que fazíamos a reunião semanal do grupo, e com isso eu tinha a certeza de que encontraria meus melhores amigos.
Após a reunião, ficávamos até tarde da noite na escola, jogando conversa fora, despreocupados com todo o resto. O tempo passou, os estudos terminaram, como também acabou aquele dia marcado para abraçar os amigos. Cada um seguiu seu caminho, e agora o máximo que consigo são algumas conversas rápidas e esporádicas.
É, Deus tira os dentes, mas alarga a goela. Atualmente, sei que em terças e sextas verei alguns de meus novos amigos, os do coral. Também em sextas, tem a galera do futebol, aquela cervejinha gelada e outro momento de confraternização. Durante o dia, no escritório, desfruto da boa companhia de alguns colegas de trabalho, bem como mantenho certo contato com amigos via MSN.
É, a vida é essa. Importante mesmo é aproveitar cada minuto com as pessoas, já que vimos ontem (e vemos todos os dias) que um desses minutos será, infelizmente, o último.


Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.

(não sei o título, nem o autor, mas achei legal assim mesmo)