A Santa de todos nós

Atrasado para pegar o ônibus, o portão da rua trancado e a chave sumiu. Preciso encontrá-la em dois minutos, ou menos. Vasculho todos os lugares possíveis e, já conformado com o atraso e por ter que pular o muro, volto ao bolso da mochila, seu lugar de sempre e, que surpresa, lá está a danada, encolhidinha. Pego-a e viro um atleta dos 300 metros com mochila nas costas visando Pequim. Alguns segundos e o recorde sul-americano depois, chego a tempo.
Fosse em outros tempos, eu teria xingado até a mãe do Badanha, atirado tudo pro alto e desistido de chegar a tempo. Já cansei de estar pronto para sair e, ao cruzar o portão, ser contemplado com um cremoso e malcheiroso excremento canino na sola do meu tênis, que me fez simplesmente desistir de tudo, além de praguejar mundos e fundos, naturalmente.
Me liga um amigo meu e convida pra beber uma cerveja. Dez da noite é a hora marcada para eu esperá-lo pronto. Cinco minutos antes já estou a postos, como de costume. Passam dez, quinze, vinte minutos, e nada. Aos trinta, os cabelos começavam a cair. Aos quarenta, trocava de roupa. Uma hora depois, uma buzina e o Antônio vestindo tudo às pressas novamente. Tarde demais, a cerveja nunca mais teria o mesmo sabor.
Confesso que continuo intolerante com atrasos, mas isso não me caracteriza como uma pessoa impaciente. Pelo contrário, este hoje é um sentimento que já se tornou inerente à minha personalidade, de tanto que já o exercitei. Como disse antes, houve um tempo em que a parcimônia não era o meu forte, fazendo com que eu trocasse os membros superiores pelos inferiores seguidamente.
Agora, já consigo inclusive fazer o que fiz ontem, de ficar em casa dormindo e recusar um convite para beber, conduta que eu sequer cogitava nos meus tempos de radicalismo xiita. Não sei se os ímpetos adolescentes se foram, ou se a água mole tanto bateu na pedra dura, que acabou furando, mas a verdade é que a paciência é algo com o qual não consigo mais viver sem.
Muito mais importante, porém, do que as situações cotidianas, ser paciente significa ter a calma necessária para concluir que tudo na vida tem seu tempo e sua hora. Nem sempre tudo o que queremos acontece de imediato, às vezes até demorando mais do que o esperado. No entanto, ferver os miolos não terá um resultado mais efetivo do que rugas e queda de cabelo.
A vida e o tempo conspiram juntos de uma maneira ainda desconhecida aos nossos mortais conceitos. E, mais do que usar este argumento como um conselho a quem lê, como se eu fosse o dono da razão, confesso que uso-o como cartilha, de maneira a buscar uma evolução constante. O imediatismo se apresenta para nós em tudo o que fazemos. Basta um clique, e pronto. Os recursos tecnológicos superam barreiras temporais de maneira apavorante, tornando-nos cada vez mais impacientes com o que, aparentemente, move-se de maneira mais lenta.
No meu caso, preciso melhorar, e muito, em relação ao trânsito. Tenho verdadeiro asco a este vilão da jovialidade do meu rosto. Não que eu ande voando baixo pelas ruas, pelo contrário, até que sou bom motorista. Justamente por isso, me irritam os imprudentes, os pilotos de Fórmula 1 e os lesmas ambulantes. Em suma, eu me transformo ao volante. Sem berros e xingamentos, ou buzinaço, já que não sou dado a escândalos, mas meu humor faz uma visita a Saturno nessas horas, restando como alternativa a quem me acompanha não dirigir-me a palavra por alguns minutos, até que eu recupere meu estado normal.
As situações que exigem a dita paciência e o auto-controle são muitas, objetiva e subjetivamente. É o velho jargão de que quem espera sempre alcança, ou devagar se vai ao longe. Não troco minha calma por dinheiro algum, e me desaponta muito ter que abandoná-la por alguns momentos, quando o bicho pega aqui no serviço.
De qualquer forma, sigo assim, paciente, devoto de que tudo transcorre da forma que tem que ser, com o mínimo possível de sobressaltos. Isso me ensinou a respeitar o relógio dos outros, tanto o de pulso, quanto o biológico. Quem sabe, em breve, eu não aplique essa máxima também às ruas de Novo Hamburgo...

7 comentários:

  1. Um excelente texto!!!!
    É, a paciência nunca foi o meu forte, sabe? Mas ás vezes eu até consigo agarrá-la com força!
    Também não gosto muito de atrasos, mas odeio mais os meus que os dos outros. Deixa eu explicar... é que, como eu não dirijo (ainda, pois carteira eu já tenho, mas morro de medo, mas isso é um outro post... heheheeheh) eu tenho que pedir pra minha mãe me levar(é que, se eu disser que vou de onibus, ela discute comigo), aí, ela sempre acaba se atrasando e eu fico me sentindo super mal por não chegar na hora em que havia prometido.... Mas, já me acostumei com o relógio biológico alheio... hehehehe

    Quanto a minha mudança.... Eu ainda não sei o que estou sentindo, sabe? Mas sei que em breve ficarei bem... Mas por enquanto... eu precisa botar pra fora essa confusão de sentimentos!!!!!!!

    Um beijão

    PS.: Xiiii, acho que me empolguei em....

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  2. Ah! Obrigada, viu?
    Mas cuidado com o que fala moçinho, se não eu me empolgo mesmo...
    Fui mandar um e-mail pra Candy, era só pra contar as novidades, mas quando vi, o e-mail tava gigante. Aí quando ela respondeu ela disse para não se preocupar com tamanho, e na resposta... Xiiii, eu me empolguei mais ainda!!! hehehehehehehehehehehehehe

    Ah! E que bom saber que o nome do meu bloguinho combina bem!!!!

    Beijão

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  3. Pois é...

    Já fui super estressada com relação à atraso.
    E hoje, são as outras pessoas que tem de ter paciência com os meus.

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  4. Sou um misto de atrasado e pontual, acho que interajo muito bem com os dois. Tudo é relativo com a prioridade do momento. Enfim, paciência sempre tive e hoje ela esta mais que entranhada na minha carcaça. Na verdade o xingamento sai, mas por dentro mesmo.

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  5. A vida ensina, Antônio xará. E sim, paciência é uma virtude. Esquentar a cabeça pelo atraso de outrem é inútil. Sabe aquela máxima do "se te derem um limão, faça uma limonada?'. Pois é. Ainda bem que tem sempre açúcar em nossa vida.

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  6. vije paciência o que é isso???
    certeza que nasci sem!!!
    Atraso não tolero de jeito nenhum, o único atraso tolerável é quando eu me atraso! E esses acontecem frequentemente no trabalho todo dia chego as 7:15...

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  7. TEXTO 1

    A ministra Marina (responsável pela pasta do Meio Ambiente) disse numa entrevista que, após voltar do trabalho um dia desses, ela percebeu-se estressada por ter que esperar algo em torno de 1 minuto até que o forno de microondas aquecesse a água para uma xícara de café... e acalmou-se a lembrar que, anos atrás, quando ela ainda morava no meio da floresta, esta simples xícara de café demandaria mais de uma hora, num esforço hercúleo para embrenhar-se mata adentro cortar lenha, retornar, fazer o fogo...

    TEXTO 2

    Neurocientistas dizem que nossos neurônios se acostumam às informações que recebem com freqüência e passam a não mais "dar bola" para elas. Para provar isso, podemos facilmente notar que nem sentimos as roupas e/ou sapatos que usamos, a não ser que nos mexamos. As questões mais importantes são outras: banalização de coisas ruins por as vemos todos os dias (mortes, guerras, tragédias, violência, fome...), desejo de sempre querer mais, dificuldade para satisfazer vontades, má administração do tempo... E a tecnologia é uma coisa boa, que facilita a nossa vida, mas cria escravos... E admito que sou escravo dela... não vivo sem computador, não me vejo mais sem internet, adoro câmeras digitais, MP4 players, monitores LCD...

    TEXTO 3

    A campanha que a RBS está fazendo para conscientização dos motoristas (e não das motoristas, porque a esmagadora maioria dos que abusam da velocidade são do sexo masculino) para que reduzam a velocidade é semelhante a uma campanha que rodou na Autrália ou na Nova Zelândia anos atrás, de que homens que correm muito têm, como direi, seu órgão genital com proporções bastante desavantajadas. Dizem que lá surtiu efeito...

    Analisando as informações dos textos 1, 2 e 3, e adicionando aquela frase do Shakespeare de que "paciência requer muita prática", o que quero dizer é que tudo depende.
    Sim, eu sou rápido,
    Sim, eu dirijo rápido,
    Sim, eu falo rápido,
    Sim, eu sei que preciso aprender a me controlar, mas...

    - se eu corro no trânsito eu o faço sem ninguém comigo (exceção, dias atrás andei a 130km/h numa rodovia federal levando comigo o dono deste blog e sua excelentíssima namorada numa corrida desesperada para tomar um avião);
    - estou melhorando minha dicção para que as pessoas me entendam melhor;
    - estou aprendendo a ter paciência, estou exercitando meu auto-controle e estou começando a aprender a rir das coisas ruins. Não é fácil, mas sei que não é impossível.

    Um baita abraço, irmão!

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