O Guampa

Ninguém percebeu a presença do novo funcionário da repartição. Cardoso, cara quieto, veio de outro estado, lá do Norte, ou Nordeste, vá saber. Não se misturava, e ninguém fez questão de dar-lhe as boas-vindas. Na correria do serviço, acabou deixado de lado.
Foi na primeira janta do ano que todos souberam quem ele era. Eis que entra o Cardoso, mirradinho, acompanhado de uma loira exuberante. Aquilo não era uma mulher, não podia ser. Era a manifestação mais pura e concreta do amor de Deus pela testosterona. Entre engasgados e apopléticos, os demais balbuciaram um "boa-noite" ao Cardoso, enquanto que à loira apenas faziam uma reverência, como quem recebe uma rainha.
Passada a janta, o Cardoso ficou amigo da galera. Tapinha nas costas, cafezinho fresco, mil paparicos.

- Boa gente esse Cardoso - diziam.

Ele, por sua vez, procurava manter a postura profissional. Conhecia pouco dos costumes e, por não se esforçar em aprender, permanecia apenas agradecendo com sorrisos tímidos a cordialidade dos colegas.
Um dia, ao chegar na repartição, foi surpreendido por um efusivo cumprimento do Almeida, colega de mesa:

- Fala, guampa!

Guampa? Que raios quer dizer isso? Todos riram e deram-lhe bom dia. "Só pode ser um elogio", pensou. E sorriu. Seu maior erro, talvez. Ficou taxado de Guampa de tal maneira, que nem mais lembravam do seu nome. Prova disso foi o mês em que foi escolhido como melhor funcionário. Quando leram "Agenor Demóstenes Cardoso - Funcionário do mês", todos ficaram alguns minutos confabulando sobre quem seria o vivente, até que ele chegou, tímido, passou no meio do bolinho e leu seu nome:

- Que legal, sou o funcionário do mês...
- Ah, mas é o Guampa! - berrou o Almeida, enquanto puxava uma caneta do bolso e escrevia "nosso querido Guampa" ao lado do nome do Cardoso.
- Parabéns, guampudo! - era o que diziam todos, entre risos e tapinhas nas costas.

Aquela história de apelido começou a intrigar o Cardoso. Era Guampa pra cá, guampudo pra lá, e cada dia os colegas mais sorridentes e receptivos. Devia estar trabalhando demais para não ver tantos motivos para brincadeiras. Resolveu não ficar até tarde no escritório aquele dia, sair para tomar uma cerveja, ir para casa e pedir uma pizza com a esposa. Sim, uma noite diferente.
No bar, escutou a conversa de dois rapazes animados, que discutiam a vida dos colegas de trabalho na happy hour:

- O chefe tá mesmo virado num touro, só saco e guampa! - e caíram na gargalhada.

Foi um estalo, um aviso dos céus. Pegou a pasta, correu para casa e deu de cara com o Almeida só de cueca, ocupando seu espaço na cama. Não disse uma palavra. Arrumou as malas, pediu demissão e instalou-se numa pensão da cidade vizinha.
Com o coração partido, contou a um colega de pensão, no café-da-manhã, o ocorrido. O apelido, os sorrisos, os tantos colegas que deviam ter ajudado a lhe render a taxa de guampudo. Atento ao relato, o colega adoçou o café, tomou um gole e filosofou:

- É, Cardoso, ninguém morre mocho...

Mocho? Não, de novo não. Nem arriscou a perguntar o significado de mais uma palavra nova. Saiu correndo para o quarto, pegou as malas e correu para o aeroporto. Nunca mais voltou para o Rio Grande do Sul, terra de dialetos sórdidos.

12 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkk
    e oq significa????

    hahaha
    vc tem que vir pro nordeste conhecer as expressões daqui...
    vou deixar uma pra vc:
    "rebola no mato".
    Sabe oq significa?
    hein? hein? hein?
    hehehehe


    Ah, qnt ao meu post...
    sei nem oq significa aquilo lá nao viu...
    a baboseira veio surgindo e eu escrevendo... tranqueira!
    ¬¬
    Mas escrevendo isso aqui pra vc me dei conta que tem a ver com meu momento... eu q não tinha percebido ainda
    O.o

    ;****

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  2. uahuehuahueha
    o guampo eu ateh supus oq fosse.. mas esse mocho ae vc vai ter que me contar.. to com a pulga atras da orelha! auheuahuha
    acabei lendo seu carnaval todinho tbm, pq foi bem parecido com o meu, só q eu nao viajei e a cidade ficou vazia (deliciaaa!), praia td dia e desfiles na tv de noite.. auheahuha
    ateh q foi bem gostoso, peguei uma corzinha (sem ficar com cara de zebra) e curti do meu jeito msm..

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  3. A catarinense aqui é de Brusque. Já ouviu falar? E tu, de que cidade?
    "Era a manifestação mais pura e concreta do amor de Deus pela testosterona." Muito bom, hahaha! Ri muito!
    Coitado do Cardoso guampudo! Adorei o texto, bom demais! Amo essas expressões e dialetos próprios. Um dia desses minha mãe ainda falou guampa. Acho que foi algo do tipo "cuidado, vai bater a guampa!" =P

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  4. Antonio Augusto, eu cai no MSN e nao consigo mais conectar... posso te mandar um email falando o que diss que ia falar? Vou mandar nesse do MSN mesmo, ta? Vou mandar depos das 18h, acho q vc só vai ver amanhã...
    Mas não esquenta, é so bobeirinha!
    Ah, e pega teu selo la na Mulher Maravilha!
    Não li teu etxto ainda porque tenho que acabar o jornal e jajá vou pro outro trampo (lá não abre blog), mas assim que ler eu comento de novo!
    Vou comer um feijão doce agora! Blaarg, piadinha infame!
    Um beijo!

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  5. hehehe

    eu sei o q significaaaaa

    ah, e aqui a gente tb tem cada expressãooo... cada palavra.... q vc ouve uma coisa e entende outra.

    =*

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  6. Quando eu li "guampa", corri para o meu livro "A grosso modo - ditados e expressões", do V S Coelho, que fala das expressões gaúchas e, a primeira coisa que achei foi que "gampa" num é coisa boa de jeito nenhum...
    Mas adorei a estória, viu???
    Mas só uma coisa... faz toda a diferença se ele veio do Norte ou do Nordeste, viu???????????????

    Beijão pra tu

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  7. ahahah mtoooooo boom Antonio!!
    esse Brasil é assim mesmo.. cada canto um dialeto diferente!
    mas eu fiquei com dó do Cardoso, coitado! tem é q voltar pro Nordeste, Norte.. sei lá!
    ;D

    beeijo

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  8. Beeem, te linkei viu??

    haushuahsua
    visssh, pra sair assim precisa é de um dicionario linguistico do lugar.

    abushaushau

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  9. Oieeee, olha só, só li esse teu post pq já tô indo dormir, mas achei hilárioooo.
    Nós falamos gauchês,e pouca gente entende mesmo...
    E o "capaz" que a gente diz, hahah, muito engraçado, ninguém sabe o que a gente quer dizer quando alguém conta uma coisa e a gaúcha aqui diz - capaz!
    Obrigada pelos elogios viu, mas pelo que vi vc tbém escreve muito bem. Amanhã leio teu blog todinho!!
    A propósito, de que cidade vc é?
    Bjão querido, vou te linkar no meu só pra lembrar de sempre passar aqui (e pra ter mais um gaúcho nos meus favoritos)
    bye...

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  10. Bah, mano velho... e que dialeto...
    Pessoas de outros estados já me fizeram cara de "não entendi" ao me ouvirem dizer algumas expressões (e olha que, mesmo tendo contato com o lado "rural" da família, sempre fui criado na cidade...):
    - entrevero (falando de confusão e aglomeração de pessoas);
    - tranqueira (falando do trânsito);
    - bem capaz;
    - cusco (cão vira-lata);
    - deu pra ti (pra um estranho, pode até parecer uma conotação sexual, mas nós sabemos que não é nada disso...).

    E outras tantas expressões...
    E eu adoro todas elas, assim como os ditatos de campanha... Quem não conhece, obviamente não gosta, pois "quando o cavalo não é meu, eu não conheço bem os arreios..."

    Abraço e bom findi!

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  11. Rio Grande parece outro país. Falam um brasileiro totalmente diferente do nosso.

    Tem prêmio pra ti lá no blog!
    beijos

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  12. Ôpa, tô dentro!!! Valeu, meu amigo, por mais esse presente.
    Boa semana!

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