Balanço do Mês (15)

Historicamente, maio conservava um retrospecto funesto e sorumbático nos últimos cinco anos. Isso até o ano passado, quando a reviravolta aconteceu e quebrou o protocolo, desmistificando a carranca do dito mês e tornando-o apenas mais um em meio à multidão.
Pois é, só que o danado articulou certas manobras visando recuperar o malfadado status, sendo a principal delas o fato de quase levar a vó Dilma a dobrar o Cabo da Boa Esperança, esticar as canelas e abotoar o paletó de madeira. Não sabia ele, porém, que vovó é dura na queda e resistiu bravamente às provocações de certa personagem da Turma da Mônica.
Não foram dias fáceis, é verdade, mas tudo é uma questão de como interpretamos os acontecimentos. Mesmo não tendo sido o mês dos sonhos, serviu para me fazer amadurecer em vários aspectos, principalmente no que tange à família, conforme mencionado em textos anteriores. Além disso, no âmbito geral, pode-se dizer que as coisas pioram muito quando o nosso próprio olhar emite o negativismo. Penso que, se eu tivesse dado por perdida a peleia, a vó até poderia se salvar, mas eu teria sofrido bem mais. Preferi, contudo, contar com os amigos, buscar forças onde podia e manter a cabeça tranqüila. Deu certo, e hoje estamos aí, vendo a vó desafiar o Popó para um amistoso de boxe.
Foram três semanas em São Francisco de Paula, contabilizando várias horas dentro de ônibus em virtude dos muitos deslocamentos que tive que fazer. Nesse ponto, não há o que reclamar. Tivesse eu a oportunidade de viver para sempre naquela cidade abençoada, não pensaria duas vezes antes de ir, e isso também já ficou claro em outros textos. Por mais que eu goste de festas, ou tenha adquirido esse gosto nos últimos tempos, nada substitui o bucolismo da paisagem interiorana embalado pelo canto das carucacas.
As vicissitudes de maio, contudo, ficaram a cargo da chegada da era glacial ao Rio Grande do Sul. Não tive muito tempo para escrever a respeito, mas é fácil prever que sofrerei imensamente com mais um inverno arrebatador. Lábios rachados, dedos petrificados, férias do meu amiguinho encolhido, que mal e porcamente aparece para fazer as necessidades fisiológicas, enfim, entro em depressão climática nessa época do ano.
Resta-me a resignação, a esperança por dias melhores e quentes, além de vestir roupas aos borbotões, na tentativa inútil de distrair o corpo desta intempérie climática que transforma o belíssimo Rio Grande do Sul num inóspito iglu.
Muito bem, vamos dar as boas-vindas a junho, que aí está, louco de faceiro, nos acompanhando mais uma vez. Ele é gelado, mas é simpático.

Um abraço!

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