Souvenirs

De vez em quando, me pego fuçando fotos nos orkuts alheios. Tá, não tão de vez em quando assim, faço isso com certa regularidade. Ok, ok, todos os dias, admito! Sou bisbilhoteiro, sim, e daí? Contudo, me prendo quase que só às fotos. Adoro fotos. Analiso-as minusciosamente, vasculho álbuns, volto, olho de novo, e ali fico horas, absorto em imagens que as pessoas julgam especiais a ponto de tornarem públicos tais momentos.
Hoje, não sei por que, entreti-me nas fotos de uma amiga que não vejo há meses. Graças ao advento do messenger, conversamos periodicamente, com a mesma desenvoltura dos tempos de escola. No entanto, hoje, não sei por que, mas a danada da saudade bateu.
Fico tentanto entender essas coisas engraçadas que acontecem com a gente. Eu estava aqui, desbravando meu cérebro em busca de assunto para escrever, numa árdua luta mental comigo mesmo, quase uma peleia de foice no escuro, e nada. A única, mísera e insistente palavra que retumbava em minha cachola era a tal da saudade.
Abri o editor de textos, o cursor piscando, esperando a primeira palavra. Deixei-o ali, piscando, enquanto recordava mais um pouco do tempo que vivi antes, bem antes de todas aquelas fotos existirem. Pensei em puxar assunto com ela, falar meia-dúzia de abobrinhas, rirmos um pouco juntos, na tentativa de, quem sabe, amenizar o que me sufocava o peito. Não deu. Outra vez, o cursor do mouse ali, estático.
"Tchê, que bicho me mordeu?", foi o que pensei. Voltei pra cá, o cursor ainda intermitente e em branco. E vejo que, hoje, não sei por que, despertou alguém que ressonava há muito tempo dentro de mim. Aquele cara que era pura emoção, sentindo tudo com tanta intensidade, que causou um sem-número de problemas durante a adolescência. Lembro de como eu era apegado às minhas amigas (90% das minhas amizades eram femininas), escrevia cartas, queria conviver com elas, aproveitar cada gota daquele tempo em que eu era realmente importante na vida delas, talvez por prever que um dia viria a maturidade, e com ela os namorados, os afazeres e tantos outros fatores que fatalmente nos afastariam.
Apesar do exagero, eu bem que estava certo. Vieram os primeiros amores, o fim do Ensino Médio, início da faculdade e dos empregos. Paulatinamente, cada um para o seu lado. Fiquei doido, sem chão, mas por pouco tempo. Minha impulsividade adolescente me levou para outras confusões, a cabeça foi batendo em outras superfícies e, a cada galo na testa, eu me acalmava um pouco.
Quantos anos depois daquilo? Três? Quatro? Não sei ao certo, mas mudei tanto... O processo de petrificação sentimental veio lento, sorrateiro, e fui esquecendo, enterrando aqueles sentimentos, camuflando-os numa personalidade dócil, afável. Enfim, o gigante adormeceu. A vida tomou outro curso, acredito que amadureci bastante, tornei-me seguro, não mais tão dependente daquela gama de atenção, de ter que necessariamente perceber-me importante na vida de outrém para conservar a auto-estima em alta.
E aí, sem quê, nem porquê, dei de nariz com aquelas fotos. Ontem, inclusive, foi aniversário de outra amiga minha daquela época, uma guria tão especial, que carinho bom que eu senti quando escrevi uma mensagem pra ela. Vinte anos, caramba, conheci essas meninas mal saídas da puberdade. Agora as fotos denunciam, são mulheres, verdadeiros monumentos, semblantes sorridentes, felizes, dois, três anos de namoro engatilhado, que momento.
Eu aqui, na minha, levando a vida da melhor maneira, sem queixas, sem lembranças, coração de pedra. Até que, hoje, não sei por que, o velho lobo do mar despertou. Como eu dizia, fiquei ali, frente a frente com tantas fotos, que denunciam momentos tão ou mais felizes do que os já passados, e eu já não mais faço parte dessas vidas, daquela vida.
Saudade gostosa... Como seria conviver hoje com essas mulheres? Saber suas angústias, segredos, anseios, alegrias, como aquelas tantas que compartilhei há alguns anos. Aconselhar, trocar idéias, dar boas risadas. Não, o tempo não permitiu.
Se eu fico triste? Olha, pra ser sincero, não fico. Se algo de bom restou, e creio piamente nisso, certamente está guardado naqueles corações do lado de lá das fotos. Bem no fundo, quem sabe, mas está. E, cada vez que eu voltar a fuxicar uma daquelas fotos felizes e sorridentes, me sentirei parte daquele momento, pois contribuí, um dia, para que elas chegassem ali. É um momento da minha vida onde não sou mais parte atuante da história, mas sim uma página amarelada, com estrelinhas de caneta marca-texto e as mais bobinhas juras de amizade, tão gostosas de se prometer quando temos dezesseis anos.
Ufa, ele dormiu. Cantarolei duas cantigas de ninar, e o gigante, lentamente, cerrou os olhos outra vez. Observo-o, simpático, e desejo que ele, vez ou outra, desperte, para que eu possa, nostalgicamente, amar minhas eternas e queridas amigas da mesma maneira que há três, quatro anos, dessa vez por alguns minutos especiais. Mas, por mais que eu me esforce, ainda não entendi por que hoje. Por quê?

* Música de fundo: Não vou me adaptar - Interpretada por Arnaldo Antunes e Nando Reis *

19 comentários:

  1. engraçado... escrevi um post sobre saudades hoje... depois você passa lá pra ler.

    um bjo*

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  2. A saudade não vem com data marcada, meu bem.

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  3. E eu me vi nas entrelinhas... Muitas vezes faço a mesma coisa que você, e a saudade é inevitável, a vontade de viver tudo novamente.
    Que maravilha de texto! Tocante!
    Beijão!

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  4. Porque essas coisas sempre vêm quando menos esperamos, e pronto.
    Você está falando de 20 anos, né? Eu falo de 27. Até hoje mantenho contato com amigos do colégio, aqueles que eu conheci qdo tinha 14/15... E pior, ainda temos nossos momentos.
    A vida adulta não impede que a amizade continue. Por que não tentar de novo?

    Beijos

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  5. Oh queridoooOOO
    Ter amizade com pessoas do sexo oposto é mais divertido!
    Aprendemos a lidar melhor com as relações.
    Saudade, nostalgia... é sinal de que ficou marcado algo no passado!
    Adorei o post... saiu algo muito bom das fotos que viu a da saudade de vc sentiu!
    Beijo
    =)

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  6. Eii, nao estou comentando, mas tenho passado aqui todo dia pra ver se vc atualizouuu!
    :D

    antes de mais nada, obg pelo selinho!
    hihihi
    os selinhos que tenho recebido que nao foi vc que deu, eu quero dar pra vc, mas vc jah ganhou todoooos!
    :o
    esse meu branquelinho é querido demaaaaaaaaaaaaais!
    :D

    eu tb gosto de ficar olhando as fotos e ficar relembrando cada momento, cada sensação, sentimento, alegria, tristeza..
    e como eu gosto de dizer: por mais que nao vejamos mais essas pessoas, eu sei que estamos marcados por elas e elas por nós, de alguma forma.

    Bom fds, coisa que reluz!

    ;*********

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  7. saudade & nostalgia... ô duplinha! me frequantam com bastante freqüência (elas vêm para um chá, daí ficamos conversando... uma prafere açúcar, a outra adoçante. E como falam!).
    bom lembrar dos tempos de antes!
    beijo

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  8. Eu concordo com tudo! Tem noites em que fico meio nostalgica mesmo, querendo reviver besteiras da adolescencia. Sou meio boba ,mas sei que não podemos reviver as coisas... então eu acabo me abrindo pro novo!
    bjs

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  9. Estava lendo teu post, compreendendo, prestando atenção, enfim. Mas por algum motivo que não sei explicar, senti saudades de sentir saudades... Percebi que há muito eu não sentia nada parecido. Deu-me pena de mim mesmo, acredita!rs(foi um rizinho amarelo, mas que amanhã melhora!)

    Abs.

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  10. Uau! Que texto. Incrível como vc falou exatamente o que eu sinto em relação a certas amizades distantes! Nossa...
    E, pelo jeito de escrever, nota-se que você não é um cafa... Nem de longe! rs
    Continue assim, desse jeitinho (mesmo com os porquês), que você vai longe.
    Beijos e obrigada por aparecer no Mulheres à la carte.

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  11. tenho esse sentimento qnto a todos os meus colegas, e vejo q quase no fim de uma faculdade, eu deixarei outras pessoas para trás, pessoas que conheci e vi se tornarem adultas, a vida segue seu ciclo, mas sempre sobra a saudade doída aqui no peito..

    beijao


    p.s. voltei a ativa com prêmio pra você la no cartaspublicas...


    bjaoo

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  12. Porque quando ela chega, não tem porques... Só isso!

    Taí! É por essas e outras que deltei o meu orkut... Ficava vendo fotos e pensando, "poxa,já não somos mais amigos, já não fazemos parte da vida do outro"...
    Já passei dias e dias vendo fotos e mais fotos, mas percebi que não me fazia bem, pois algumas me mostravem momentos em que estavam todos, menos eu... E eu nunca consegui olhar como tu, pensando que, de certa forma contribui para aquele momento...

    Mas ahhh, eu sinto uma saudade enorme das amigas do colégio...

    E ei... Respondi o meme ali de baixo, viu???

    Um beijão pra tu

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  13. E porque é que você precisa despertar esse gigante na gente também!? nostalgia gostosa, que não machuca, só alegra... por ter vivido momentos dignos de saudade.
    Beijos

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  14. Eu tb fuço o orkut alheio, mas tem amo ver as fotos!! Adoro! Principalmente qdo a gente vê aquelas bem criativas!
    Normalmente qdo nós meninas namoramos, temos q nos afastar um pouco dos nosso amigos, se não o namorado fica com ciume. Principalemente que os nossos amigos são nossos confidentes, e eles não!

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  15. é, Antônio, às vezes essas saudades batem. Quer dizer, acho que batem sempre, mas, às vezes, mais forte. O tempo, a idade, a vida, acabam separando alguns amigos, não do coração, mas da convivência rotineira. Sinto falta de muitos deles, meninos e meninas. Queridos que eu encontro vez ou outra para jantar, que marcam presença nos aniversários, que nos atualizam de uma ou outra novidade pelo msn. Mas a falta é de acompanhar o dia-a-dia, as pequenas angústias, as pequenas conquistas, as risadas soltas, as brincadeiras bobas e as horas sem nada para fazer. Ah, morro de saudade! :)
    Beijão

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  16. A saudade é essa "coisa" que não tem tradução, nem muita explicação.
    Adoro fotos...elas registram os momentos para sempre. Assim, se caso a mente (e o coração) esquecer, a imagem faz relembrar.
    Beijos Doces,
    Pitanga

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  17. Não assim como você escreveu, mas dias desses, por algumas situações que passei, fui visitar o orkut de duas ou três pessoas que também já não fazem parte da minha vida e relembrei de nossos momentos, da nossa amizade...
    E o aperto no peito foi inevitável, a saudade, as lágrimas nos olhos por não tê-las mais tão perto...
    E logo voltei a me lembrar do meu consolo "o hoje não nos permite mais". O que não significa que o amanhã não permitirá, então, prossigamos.
    Bijtos!

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  18. Eu sinto saudade de muitas coisas, de momentos e de pessoas principalmente. A saudade é companheira. Sempre.
    Adorei a maneira como você descreveu esse momento na sua vida.

    Beijos!

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  19. Passe rapidinho só pra dizer que deixei mais presentes pra você lá viu!

    Abs.

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