Histórias de Carnaval

Certa vez, há coisa de três ou quatro anos, passei um carnaval na casa de meu amigo Leonardo, co-fundador deste blog que hoje mantenho com tanto esmero. Junto dele, outros três amigos, Thiago, Guto e Popins, sendo que somente este último e eu estávamos desacompanhados. Não vou explicar os entrementes e porquês, já que são águas passadas e dona Dani vai ficar braba comigo se eu ousar tocar no assunto.
Bueno, mas deixando dos entretanto e partindo pros finalmente, como diria Odorico Paraguaçu, deu-se que o carnaval ocorreu mesmo por aqueles lados litorâneos. Não saímos a farrear pelas matinés, tampouco chacoalhamos o esqueleto n'algum baile. Uma, porque matinés e bailes são do tempo da vó Dilma, essa sim uma carnavalesca declarada nos idos de sessenta ou setenta e picos; e, em segundo lugar, o pessoal estava mesmo era pelo descanso do feriado e programas caseiros.
Pois bem, o primeiro foi uma pizzaria. Há algum tempo, quando meu metabolismo ainda processava toda a comida que eu ingeria e me mantinha esbelto, digamos que eu costumava ser um tanto deselegante nesses locais de comida livre, rodízios e adjacências. Ignorante, por assim dizer. Tá, eu era um cavalo esfomeado.
Pizza, então, era cair no prato e deglutir. E por aí desenrolou-se a comilança, enchendo o bucho de todos os sabores, repetindo algum que outro e entupindo o sessenta folhas. Lá pelas tantas, aproveitando-me da situação solitária pela qual passávamos Popins e eu, até mesmo ensaiei umas brincadeiras homossexuais em relação a nós dois na frente dos garçons, ao que ele ficou uma arara de envergonhado. Naquele dia, rendeu boas risadas. Fosse hoje, seria até um perigo, principalmente se fosse na Argentina. Nada contra, mas Deus me livre.
Moral da história: voltei pra casa empanzinado. Até pra andar estava difícil, quem se lembra, comprova. Cheguei em casa com aquele aspecto gestante, a barriga virada numa protuberância só e passei a implorar ao pessoal para que fizéssemos algo para passar o tempo e meu pobre sistema digestivo conseguir algum sucesso na melhora daquele quadro tenebroso.
Engatilhamos uma disputa ferrenha de Banco Imobiliário, o que para mim foi ótimo, uma vez que esse jogo dura horas e horas até todo mundo falir e haver um vencedor, o que contribuiria com a minha digestão. Mesmo assim, não adiantou. Já passava das duas da manhã, e algo indecifrável acontecia dentro do meu estômago. Nem água eu conseguia beber, mesmo sentindo uma sede absurda.
O pecado da gula começou a me castigar. Comecei a pensar no pior. Queria vomitar, enfiar o dedo na goela, expulsar aquele mundo de pizza de dentro de mim. Deu vontade de berrar de desconforto, sair às ruas cantando "Cara caramba cara caraô" ou explodir como Dona Redonda em Saramandaia, de Dias Gomes (procurem no Google, que essa é velha).
Já o Popins, que àquelas alturas surrava a mim e ao Léo no Banco Imobiliário, caiu na besteira de imergir na soberba e proferiu uma aposta que qualquer indivíduo em sã consciência jamais deveria fazer:

- Se eu perder esse jogo, dou uma volta na quadra correndo. Pelado.

Adivinhem? Sim, ele perdeu. E nunca pagou a aposta, aquele pilantra, biltre safado. Aliás, ele lê o blog! Portanto, se você, leitor quemomentista, assim como eu, pensa que aposta é aposta e promessa é dívida, proteste nos comentários e ajude o Popins a perder o pudor e sair na capa do Jornal NH de segunda-feira com seus documentos ao ar livre. Pensando bem, deixa pra lá.
No entanto, a mim pouco importava comprar um terreno, ganhar vinte mangos no Sorte ou Revés, que se danasse o maldito jogo! Havia três quilos de pizza dentro de mim mais revoltados do que uma passeata do MST, e aquilo sim estava difícil de resolver. Comecei a delirar e ter alucinações. Enxerguei pessoas com cara de pizza, cara de Trakinas e até mesmo o Mau, do Castelo Rá-tim-bum, com sua gargalhada fatal.
Enjoado, sedento e agoniado, chupava gelo feito um esquimó de regime e implorava à Nossa Senhora da Digestão que me livrasse de todo malamém. Aproximadamente duas horas depois, finalmente as tripas resolveram engrenar, e não vou aqui transcrever a vocês, pessoas pudicas e que nada tem a ver com o suco gástrico alheio, o resultado final daquele retrato perfeito do pecado da gula.
O fato é que aquele carnaval não ficou marcado por plumas, paetês, serpentinas e confetes. No máximo, uma pizza de Confeti. Ou duas. Bem, mas que fique clara a lição que aprendi naquela noite:

1) Jamais coma além do que seu corpo suportar;
2) Nunca pense que está rico o suficiente no Banco Imobiliário. E, se pensar isso, evite prometer idiotices;


4 comentários:

  1. Antonio
    Estou aqui a gargalhadas com sua História de Carnaval. Agora diga-me se , mesmo por todo descanso que querias, até que valia mais brincar o carnaval num bloco de bairro do que passar por essa indigestão que te levou o dia todo amigo e acabou num raspante total.
    Bem que sirva a lição para todos nós.
    Está ótima a história e como é gostoso ler como escreves.

    Beijos

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  2. Rene,

    Foi uma lição e tanto, não tenha dúvidas disso. Muito obrigado pelos elogios, fico feliz que o texto tenha te feito rir.

    Beijo!

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  3. Antonio, obrigada pela visita e pelo comentário!

    beijoss :*

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