A ânsia de um Silva

Duas da manhã, mais uma madrugada que irrompe com seu tom de ébano no silêncio pastoril que embala os sonos alheios, e eu aqui, acordado feito um dois de paus. Ultimamente tem sido assim, meu sono faz a viagem do corvo e não aparece nem para dar as horas. A explicação está no momento especial pelo qual estou passando, com a eminência do lançamento do livro e a boa repercussão que este evento vem tendo entre os meus amigos, o que me leva a crer que realmente será algo muito especial na minha vida. Aliás, ainda quero escrever com capricho a respeito deste meu filhote que virá ao mundo em 21 de março.
Hoje, contudo, dissertarei sobre a ansiedade que não me permite pregar os olhos. Acabo de beber uma caneca de leite morno na esperança de pealar o sono pelas patas, mas o tiro saiu pela culatra: parece que bebi um cálice de energético. Sendo assim, não me resta outra alternativa a não ser divagar por aqui em tom nada lacônico e muito, mas muito prolixo.
Para ilustrar a minha angústia, falarei agora de um grande amigo meu. Trata-se de Cláudio Aurélio da Silva, um cidadão de bem, padrinho do meu casamento e meu afilhado no matrimônio dele. Compadre Cláudio. Você poderá esbarrar com esta figura na rua e aparentemente não notar nada de anormal em sua fisionomia, a não ser a limpidez de seus olhos verdes (ou seriam azuis? Dúvida cruel!) e o porte avantajado de seu tórax forjado à base de anos de academia. Eu tinha catorze anos e ainda brincava de carrinhos em casa, enquanto o Cláudio já estava puxando ferro e suando em bicas no mundo da musculação.
Contudo, basta conviver um pouco mais com este sujeito para conhecer de pronto uma característica bastante peculiar e, por que não dizer, um tanto cômica do meu amigo de infância. O homem é um poço de ansiedade. Alguém dirá que estou exagerando, mas virá aqui nos comentários a minha comadre Luci, esposa do dito cujo, que não me deixará mentir. Quando algo relevante está para acontecer na vida do Cláudio, o bicho quase ganha um siricotico. De jogo do Grêmio a organizar um feriado na praia. De paredão no BBB a formatura na faculdade. De casamento a morte da bezerra. Vários são os motivos para o rapaz ansiar a torto e a direito.
Para não ficar só nisso, é bom que se fale ao menos outro parágrafo acerca de particularidades marcantes do Cláudio em minha vida. Ele que me ensinou a amarrar os tênis, por exemplo. Foi na pré-escola, início da década de noventa. Um belo dia, estava com os cadarços soltos e, compadecido de meu drama de desconhecer qualquer arte escoteira de nó simples, demonstrou sua solidariedade infanto-juvenil não só atando as cordinhas, como também sendo didático e apresentando a mim o maravilhoso mundo do saber na arte de amarrar os próprios cadarços.
Me empolguei no primeiro, então farei dois parágrafos adendos. Foi com a ajuda dele que reconquistei a Dani. Nos meus tempos de fossa, foi dele o primeiro apoio que recebi. Quando o blog fica muito tempo sem novas postagens, o Cláudio continua acessando a página diariamente, no afã de encontrar mais uma historinha da minha mente mirabolante. E mais! Ele cobra que eu escreva. Vocês sabem, o cara é ansioso.
Diante disso, percebam meu dilema: agora sou eu quem transborda anseio nas madrugadas insones. Nesta noite, especificamente, não estou conseguindo dormir porque fiquei eufórico ao ver o lançamento do livro ser divulgado em nota de uma coluna social do Jornal NH, periódico local aqui de Novo Hamburgo. Foi uma surpresa, nem eu esperava. Ocorre que tenho a sorte de estar rodeado por pessoas que acreditam no meu potencial e me proporcionaram tamanha alegria. Vejam só que lindeza:

Publicado em 25/02, segunda-feira.

Quando fui avisado a respeito da nota, vibrei como se Hernán Barcos estivesse marcando o gol que dará ao Grêmio o tricampeonato da América. A receptividade das pessoas à minha obra está aumentando diariamente, o que me deixa profundamente feliz e grato. Afinal de contas, o livro nasceu justamente do incentivo dos amigos, então vê-los apoiando a iniciativa só faz com que eu me sinta alegre e realizado.
Porém, o resultado adverso castiga meu descanso. Deito na cama e rolo feito uma bola de bilhar, não há Cristo que me faça adormecer. Meus olhos continuam esbugalhados feito dois patacões, o que certamente me conferirá amanhã um aspecto zumbi na hora da aula.
Resignado, o que me resta é tentar uma manobra diversionista assistindo ao Corujão e, quem sabe, ludibriando meu cérebro de que o televisor causa sono e este corpo exausto precisa dormir. Além disso, diante desta singela homenagem e alguns detalhes revelados em tom de chacota (isso que nem contei do arsenal de caixinhas de fio dental que ele comprou numa promoção em Curitiba), devo aguardar a corneta do Cláudio nos comentários, algo que também praticamos com frequência em nossos vinte anos de amizade. Sem problemas, ele é um cara de bom coração. Um tanto ansioso, mas quem não é?

6 comentários:

  1. Cara, quando comecei a ler o texto pensei que tu fosse falar sobre a minha ansiedade pela volta aos gramados, mas, como sempre, tu me surpreendeu (sorte que tu não contou dos gestos que faço quando estou discutindo com alguém)... =D
    Bom, pelo menos agora tu tem um pouco de noção de como me sinto sempre que algo importante está pra acontecer... hehehhehe
    Enfim, hoje não vou te cornetear, mas sim dar os parabéns por mais um belo texto que me divertiu "pacas".
    Fiquei muito honrado pelo texto, ainda mais nessa época pré-lançamento do teu livro. Estou muito feliz e orgulhoso por fazer parte de mais um momento tão especial na tua vida.
    Pode sempre contar comigo, mesmo com toda essa ansiedade, que sempre vou estar aqui pra te apoiar.

    Abraço!

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  2. Um arsenal de caixinhas de fio dental que ele comprou numa promoção em Curitiba?? Isso que eu não te contei do arsenal de sabonete Dove que veio de Lajeado.. hehehehe
    Sim, meu marido é assim, e eu AMO ele desse jeitinho ansioso mesmo!
    E certamente esse convívio com pessoas como o Antônio e a Dani estão na lista dos principais bônus de ter conhecido o Cláudio. =)
    E pode ter certeza compadre, a ansiedade pelo dia 21 não é só tua.

    Beijos, da tua fã comadre publicitária nº1

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  3. Antônio de ansiedade eu entendo bem pois sofro de TAG.
    Mas essa ansiedade que você esta sentindo é normal devido ao lançamento do livro, não quero imaginar como vou ficar quando eu escrever o meu, tenho que tomar remédio pra dormir , então vou ter que tomar uma caixa por noite? hehe
    Descontração.
    E quanto a sua amizade com seu compadre, sorte a sua viu, tu tens algo mais valioso que ouro.

    Ainda vou comprar um exemplar do seu livro!

    Beijos

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  4. Se as noites de insônia continuarem a render tantas histórias bacanas assim Tom, vou começar a desejar que teu sono vá de mala e cuia pro Triângulo das Bermudas.
    Não estou acreditando que seu amigo comprou um estoque de caixas de fio dental, que ansiedade é essa? Achou que o mundo iria acabar em fiapo de manga grudado no dente?! hahahaha

    Ton, dia 21 de março só virá confirmar seu talento e sucesso! Acalme seu coração que tudo dará mais que certo.

    A ansiedade vem convivendo comigo desde a primeira menção do livro no ASSV.
    Não vejo a hora de tê-lo em mãos. :)

    Sucesso, sempre.

    Ps: Quando ficar famoso jura que lembrará do meu nome?! hahahahaha

    Beijão.

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  5. Fazem alguns dias que comecei a acompanhar teu blog. Na verdade, já lia há alguns anos, mas por devaneios do destino, acabei por abandonar a blogosfera de vez. Acontece que o blog está cada vez melhor, desde aquela época. Venho te dar parabéns pelos textos, sempre com um toque de humor que prende a gente na leitura, e parabéns pelo livro também.

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  6. Que fique bem claro que a compra do fio dental não foi por ansiedade e sim porque estava em uma promoção irresistível. Daí resolvi fazer estoque em casa, uma vez que é o tipo de produto que não tem data de validade! =D

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