Entrevista com corrida

Antes de qualquer coisa, é preciso que se mencione mais um momento importantíssimo da história do Que Momento! A poucas horas do lançamento do livro, eis que inauguro a nova "roupa" do blog, presente magistral da amiga recifense Luciana Brito, guria de talento arretado para a confecção de layouts. Registro aqui a minha profunda gratidão por este gesto de carinho e espero que todos gostem da mudança tanto quanto eu. Gracias, Lu!

Bem, mas este é um momento que Roberto Carlos classificaria como "de muitas emoções". Nos últimos dias a divulgação do livro tomou proporções avançadas e, de uma hora para outra, comecei a enxergar meu belo rostinho nos jornais locais e até mesmo n'algumas emissoras televisivas da região. Uma fase, sem dúvida, de transformações e um bocado de euforia na minha rotina.
Tal agitação foi, por sinal, fator muito presente ontem nas horas anteriores à minha participação no programa Sem Noção, da TVNH, emissora comunitária aqui de Novo Hamburgo. Como mantive meus compromissos rotineiros sem alterações, o horário ficou curto para voltar de trem para casa, resolver as últimas pendências do lançamento e ainda estar meia-hora antes na emissora para participar do programa. Tudo isso em duas horas!
Alguém poderá, de maneira infame, insinuar que havia tempo de sobra para evitar qualquer tipo de atraso, mas garanto que tal opinião mudará depois que eu revelar os bastidores da jornada que a Dani e eu fizemos, além de contarmos com a graciosa contribuição do infernal trânsito hamburguense para o deslocamento no ambiente intracelular do município.
Começa por aí: trafegar num automóvel dentro de Novo Hamburgo nos horários de pico é uma tarefa pornográfica em determinadas ruas. Pode-se perfeitamente classificar a movimentação dos carros como o Samba do Crioulo Doido, numa terra onde ninguém é de ninguém e cada um faz o que bem entende. Com chuva, então, há uma pitada de maledicência ainda maior, uma vez que a precipitação pluviométrica parece dissolver o raciocínio dos motoristas enviando-os bueiro abaixo.
Cheguei em casa, entrei no carro e entreverei-me nas ruas hamburguenses para buscar a Dani no mercado. Ela havia comprado as últimas bebidas faltantes para servirmos na noite de lançamento (sim, no meio da minha rusticidade tem um pingo de finesse). Quando cheguei à rua onde minha esposa estava, o caos estava instalado. Com isso, minha paciência começou a ficar curta feito estribo de anão e confesso que alguns palavrões precisaram ser ditos como forma de expurgar os demônios que batiam na janela do carona.
Tive de estacionar duas quadras acima do esperado e retornei a pé, na chuva, para ajudar a Dani a carregar tudo. Presumi que fossem várias sacolas, mas foi pior. Duas caixas de papelão aguardavam alegremente pelos meus braços fracotes para serem carregadas. Nesses momentos é que me arrependo de não ter caprichado nos exercícios de supino quando frequentei a academia.
Com extrema dificuldade, agarrei os volumes e passei a caminhar como se não houvesse mais controle sobre meu membro pélvico. Gente, isso não é o pênis, ok? Quem estuda anatomia vai entender bem do que estou falando. O fato é que cheguei bufando no carro, suando a cântaros e já imaginando o mico que pagaria na televisão ao chegar travestido de combatente da Guerra do Golfo.
Rumamos a jato para a livraria a fim de deixarmos lá as bebidas. A chuva caia fininha e propícia a acidentes domésticos. E, se a pressa é inimiga da perfeição, também é comadre da lambança. A certa altura, esbaforida com a exiguidade do tempo, Dani desembestou rumo ao carro para pegar mais algumas bebidas e dessa vez foi o seu membro pélvico que lhe pregou uma peça. Ouvi um estrondo e a dona da livraria só teve tempo de avisar:

- Ai, ela caiu! - foi o pouco que pôde dizer enquanto levava as mãos à boca.

Nessa hora, como bom marido, senti uma vontade absurda de rir. Porém, antes disso, resolvi checar se minha cônjuge estava inteira e se ainda haveria possibilidade de termos filhos no futuro. Felizmente, sua conformação glútea foi suficientemente firme para amortecer o impacto, o que significa que o tombo foi aquele em que se diz que o vivente "caiu de bunda no chão".
Minha sorte é que, diante daquela situação dantesca, ainda esparramada no chão molhado, ela apenas olhou para mim com uma cara de quem comeu xis sem maionese e, em silêncio, convencionamos que não adiantaria reclamar da vida e o negócio era passar sebo nas canelas que o tempo estava urgindo. Benesses que só o matrimônio pode conceder.
Passado o pequeno momento de sobressalto, deixei a Dani na casa de mamãe e rumei apressado para a emissora. Ainda consegui chegar com alguns minutos de antecedência e, graças ao Patrão Velho, minha participação no programa teve boa repercussão. Teve até alguns momentos épicos, como diria meu irmão caçula, onde fui compelido a revelar minhas imitações de Paulo Sant'anna, Fágner e Zacarias, quem assistiu disse que me sai bem.
Terminado o programa, ainda houve tempo para mais, pois a desgraça, quando vem, já vem de braço dado. No fim da noite ainda fomos ao aniversário de uma amiga num pub aqui em Novo Hamburgo mesmo. Ao estacionar o carro de ré, minha via óptica foi traída pela escuridão da noite e não vi que havia uma inoportuna árvore no meio do caminho. O que se ouviu foi apenas um CRAC!, onomatopeia relativa à quebra da sinaleira do carro. Tá bom, deve custar bem baratinho e nós temos um burrico aqui em casa que expele dinheiro quando defeca, é uma beleza! Só que não.
Como estávamos numa noite zen do casal, apenas nos entreolhamos novamente e, no segundo silêncio da noite, convencionamos que o placar para um rir da cara do outro estava definitivamente empatado. Este momento louvável de lançamento do livro veio para, inclusive, proteger nosso casamento de discussões bobas. E, por que não dizer, aumentar o orçamento do mês com alguns consertos inesperados e pomada para o bumbum da patroa. Que momento!

2 comentários:

  1. AHHH! Estava tudo tão lindo você dizendo que faria o papel do bom esposo, até que este foi descrito: rir.
    Claro que eu ri. Perdão Dani, imagino a dor e a raiva de cair de bunda no chão, mas não deu pra segurar.
    Nada neste blog dá pra segurar pra não rir.
    Que momento Ton! Espero que tudo tenha acontecido brilhantemente hoje!

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  2. Eu descreveria tais proezas como pânico de última hora. Acontece nas melhores familias, e imagino quão nervosos vocês estavam também! Infelizmente, não pude ir ao lançamento, mas venho por aqui para te dar os parabéns. Parabéns por esta realização e que tu tenhas muito sucesso!

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