Um sonho em três atos


De vez em quando, meu sono resolve aprontar umas maluquices. Principalmente quando faço alguma refeição perto da hora de dormir, é batata: lá vem algum sonho no melhor estilo doidivanas. Este que relatarei a seguir, contudo, extrapolou um pouco os limites do aceitável, tanto que resolvi trazê-lo para cá. É tão bizarro, que o dividi em três atos. Vamos a eles.

Primeiro Ato - Esta fera aí, bicho:

Esse lance de divulgação do livro influencia até minha esfera subconsciente. Na primeira parte do sonho, logo de cara, lá estava eu participando do programa do Faustão para falar do Que Momento!. Ao meu lado, estava uma amiga que confesso não lembrar mais quem é. Desconfio que era a guria para quem dei entrevista essa semana. É que assim: fui convidado a participar de um trabalho de acadêmicos de jornalismo na Feevale, aqui em Novo Hamburgo. Tratava-se de um programa no qual respondi algumas perguntas curtas. Lá, pela primeira vez na vida, estive dentro de um estúdio televisivo, com todas aquelas luzes, câmeras, ação e o ar-condicionado ligado no modo São José dos Ausentes.
Foi uma experiência boa, a menina era um amor de simpatia e me senti bem à vontade, o que de alguma forma tem relação em sonhar com Fausto Silva, ainda que seja preciso viajar um bocado na maionese para isso. De todo modo, adentrei o palco e não me senti intimidado com as luzes da ribalta. Até imitei o Faustão na frente dele mesmo! Isso meu inconsciente deve ter tirado diretamente do que o Marcelo Adnet fez há semanas atrás, pois ri muito com a cena. Se alguém não viu, vá atrás do vídeo, ficou engraçado.
A única coisa que me despertou curiosidade, além é claro de o Fausto não ter achado graça nenhuma na minha imitação - por sinal, eu nem sei imitá-lo na vida real - é que quase não havia plateia. Apenas umas poucas dezenas de gatos pingados aplaudiam nas primeiras filas, enquanto que para cima não estava aquele mundaréu de gente que sempre participa aos domingos. No telão, contudo, aparecia tudo lotado e a galera indo ao delírio. É isso mesmo, os sacripantas usam computação gráfica para dar a impressão de que o auditório está lotado! É uma cilada, Bino!

Segundo Ato - Salvador do mundo, salvai-nos:

Como já era de se esperar, o Faustão sequer deu oportunidade para que eu falasse sobre o livro. Ora, se nem as celebridades globais conseguem manifestar sua opinião quando entrevistadas pelo cara, não seria este pobre vivente que conseguiria tal feito.
Só que, para piorar a situação, a terra começou a tremer. Sim, terremoto! A cambada desatou a correr em desespero, Fausto Silva virou em pernas e deitou o cabelo e eu, que não queria ficar para semente, também girei nos calcanhares e subi a primeira escada que apareceu na minha frente. Uns vinte lances de escada, para ser mais exato. Ainda bem que no sonho a gente não cansa, porque nunca subi tantos degraus tão rápido e ainda por cima com o mundo vindo a baixo!
Chegando na cobertura do prédio, lá estavam dezenas de carros estacionados à beira de uma piscina vazia. Não me perguntem como aqueles automóveis foram colocados lá, por favor. A bem da verdade, nem tive muito tempo para pensar naquilo, pois vi ao longe que um vizinho meu e seu filho estavam entre as pessoas que corriam desatinadas na tentativa de salvarem suas vidas.
De repente, o guri se perdeu do pai. Ou melhor, foi o contrário: quem sumiu no mar de gente foi o vizinho, enquanto que o moleque apareceu ao meu lado mais apavorado que galinha agarrada pelo rabo. Diante daquela situação brasina, não tive dúvidas: grudei-o pelo braço e corri para buscar guarida dentro do meu carro. Sim, meu carro também estava estacionado lá. E, sinceramente, não sei como ficar dentro dele poderia nos proteger do terremoto, mas não vamos nos ater a estes detalhes pífios.
Ao entrarmos no carro, os tremores aumentaram com tamanha brutalidade, que começou a movimentar toda aquela frota que ali havia. Capotamos umas três vezes e caímos certinho num canto da piscina, ao que por cima veio aquela enxurrada de carros todos ao mesmo tempo. Se eu não estivesse dormindo, certamente fecharia os olhos para não ver aquela barbárie. Mas, no sonho, fiquei atento à movimentação e pronto para lutar por nossas vidas, a minha e a do pequenino.
Para nossa sorte, o carro não sofreu um arranhão sequer. Benesses de ser o dono da história. Grudei o guri contra o corpo e ali ficamos mais quietos que convenção de mudos até a catástrofe cessar. E, de fato, o terremoto foi embora como chuva de verão. Saí do carro e procurei meu vizinho outra vez, mas não o encontrei em lugar algum. Ficamos ali, parados olhando aquele engavetamento de carros dentro da piscina vazia, muito provavelmente aguardando o fim do segundo ato para que o seguinte viesse.

Terceiro Ato - Cuspir no prato que comeu é feio:

E veio mesmo o tal do terceiro e derradeiro ato. Era uma festa aqui no condomínio onde moro, só que numa formatação diferente. O espaço era bem maior, com ares de primeiro mundo, aquelas festas de jogador de futebol, pagode na beira da piscina, doze garçons servindo bebidas chiques e talicoisa. Uma gentarada da minha família reunida, mais os vizinhos, todos comemorando sei lá eu o quê. Inúmeros carros estacionados, muita alegria vinda de todos os lados e finalmente parecia que as tragédias do sonho haviam terminado.
De fato, não ocorreu mais nada trágico, mas houve um acontecimento que me deixou bastante chateado. Minutos após aquela cena horripilante do terremoto na cobertura do prédio da Globo, depois de ter salvo a vida do gurizinho, ouvi uma declaração da mãe dele que fez cair meus butiás do bolso. Eu ali, animado, copo de champanhota na mão, a pagodeira bombando, quando de repente ela olha pra mim e solta na lata que o guri me achava chato.
Caceta, como assim chato? Quer dizer que corri aquele risco medonho de morte, me borrando perna a baixo pelo Deus nos acuda daquela gritaria de gente enquanto a terra tremia, matei no peito a responsabilidade de salvar a infância do moleque e o que recebo em troca? Um naco de ingratidão! Uma declaração sórdida dita assim, sem amaciar a carne, como quem joga polenta aos cachorros! Isso não se faz nem pra inimigo.
Fiquei desconcertado com aquela informação. Larguei a taça em qualquer canto, peguei a chave do carro, convoquei meus familiares e fomos todos embora. Essa parte ficou meio confusa uma vez que estávamos justamente no condomínio onde moro e acabei conclamando as pessoas a partirem dali, é de um teor contraditório enlouquecedor, mas foi exatamente o que ocorreu. A passos largos, todos entravam em seus carros, alguns bradando palavras de ordem em minha defesa, e saíam todos rumo aos seus lares. Minha irmã e meu cunhado, por sinal, embarcaram numa Palio Weekend cinza com rodas de liga leve, fecho os olhos e lembro com nitidez do carro.

Foi isso aí, sonho doido uma barbaridade. Tenho a oportunidade ímpar de ir ao Faustão divulgar meu livro, Deus manda um terremoto pra sacudir o planeta, salvo a vida do filho do vizinho e recebo uma bola nas costas. A lição que fica é, claramente, que a vida não é um morango. Da próxima vez, pego meu carro em meio ao tremor, saio voando de cima do prédio e vou para outra emissora divulgar meu livro, de preferência n'algum lugar mais calmo e sem sobressaltos. Quero ver o guri se mijar de medo sem a minha presença salvadora, aquele ingrato.

6 comentários:

  1. Olá Antônio, que sonho mais louco KK fiquei imaginando cada situação. Estou puta com esse guri ingrato Ruum.
    Dei altas risadas hoje, adorei mesmo.
    Estou lhe indicando na postagem que fiz ontem no meu blog, olha lá ;D

    Bjinhoos

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  2. Oii Antônio ;D
    O seu blog é um dos poucos que conheço que vale a pena ler todo o texto, mesmo se ele seja grande !!!
    Obrigada pelo link aqui ....
    Voce possui whats no celular?

    Bjinhoos

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  3. Nossa, que loucura!
    As vezes tenho uns sonhos malucos, mas quase nunca consigo reunir os detalhes sobre eles pra contar assim! :(
    E olha, se o Faustão tivesse te deixado falar, aí sim, isso seria um sonho dentro do sonho! :)

    Um beijo
    @karlinhakv
    www.fizdecanetinha.com

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  4. Oláa de novo ;)
    Não tenho face, só meu blog e msn(skype), voce tem??

    Olha só o comentário no meu blog:
    >baby_monster15/04/2013 20:48:00
    não conhecia nenhum destes blogs citados, mais visitei e gostei muito de "no momento"< o/
    acervo-de-livros.blogspot.com<

    Ela curtiu seu cantinho =D

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  5. Eita moleque ingrato!!
    Mas sonhos são assim... e o pior, a gente acorda com os sentimentos dos sonhos... rs

    Beijos

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  6. Kkkkkkkk curti muito, meus sonhos são bem assim kk. Espero sua visita em meu blog http://nateeladopc.blogspot.com.br

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